Histórias do meu Sertão
No final da década de 50, já na minha fase de adolescente, ainda não havia rádio em minha casa, até porque não tinha energia elétrica e por lá não havia surgido o radinho a pilha.
Um vizinho achou por bem comprar uma radiola a corda, que só tocava com disco de vinil rotação 78, com uma única música. Entre outras músicas da época, encontrou na feira um disco de Lupicínio Rodrigues – Se Acaso Você Chegasse – e, ao chegar em casa, foi logo ouvir o disco. Atento a letra da música, resolveu censurar parte do trecho “de dia lavava roupa, de noite beijo na boca”, para não despertar certos desejos em suas jovens filhas inocentes.
Procurou repassar o disco, acompanhando a rotação, atento ao local onde a agulha indicasse o “de noite beijo na boca.” Ao passar por aí, levantou a agulha, parou o disco e marcou onde faria uma pequena raspagem. Feito isto, disse: “pronto, agora minhas filhas podem ouvir”.
Novamente, repassou o disco para então ouvir o resultado do seu trabalho. Ao passar no trecho raspado, a agulha enganchava e a música ficou assim: “de dia lavava roupa, de noite fut... fut... fut...”
E aquele pai conservador, severo, carrasco, achou que a coisa piorou. Não quis mais saber de conversa. QUEBROU O DISCO.