Reflexões de Sábado à noite

Preocupado,retiro o tíquete de estacionamento que sai da máquina. O carro veio com má vontade,ameaçando parar a toda hora.Parece que meu bólido não aprova a idéia de pegar um cineminha e prefere ficar parado na garagem o sábado inteiro,descansando da labuta semanal.

Por sorte encontro vaga rápido.Tenso,abro o capú para ver se encontro a causa do problema.Fecho logo depois quando lembro que nada entendo de mecânica automotiva.

Entrego tudo nas mãos de Deus e entro no shopping.A primeira parada é o cinema."O homem do futuro","Lanterna verde" e "Conan,o bárbaro" são minhas opções.Fico com o primeiro;vamos dar uma força para o cinema nacional.Além disso,assisti a versão do cimério na pele do Arnoldão nos anos oitenta e acho o Ryan Reynolds muito "canastra".Espero sair em DVD(Não;em Blu-ray,que é mais chique).

Ingresso comprado;agora tenho hora e meia para explorar esse templo sagrado do consumo antes do início da sessão.

Acredito que se você,amigo leitor,tem quarenta e poucos anos como eu,também não consegue deixar de se fascinar com a opulência e a beleza das vitrines.Quando eu era criança não existia tamanha variedade de brinquedos,revistas,jornais,restaurantes temáticos, sapatos,livros,bebidas destiladas,fermentadas e energéticas,comidas exóticas,light e diet,perfumes nacionais e importados,marcas de roupa,purificadores de água,chocolates com muito cacau e com pouco cacau,eletroeletrônicos,móveis,imóveis,agências de viagens,casas de show,lojas de roupas infantis....Ufa!Que canseira!Mas se você tem entre dez e vinte e poucos anos tudo isso lhe será tão natural quanto respirar.

Paro numa sapataria e acho na vitrine dois pares de tênis que me agradam.Um vendedor lê meu pensamentro e faz menção de sair de dentro da loja e falar comigo.Péssima estratégia.Sigo em frente e escapo da abordagem.

Agora estou numa loja de departamentos.Experimento uma camisa.O preço é razoável e a cor é bonita,mas o alarme anti roubo pregado justamente na gola da vestimenta,que já é um pouco mais larga do que o normal,deforma a roupa.Gostaria de saber o nome do gênio que inventou o sistema.Nada feito.

Numa livraria,folheio um pocket book.Menor tamanho e preço,mesmo conteúdo;mas eu ainda tenho dois livros em casa para devorar.Sigo em frente.

Passo por uma agência de viagens.Múltiplos destinos em dez vezes no cartão.Você pode!O mundo é seu!Lembro das prestações do apartamento e adio minha conquista do mundo.

Outra loja de departamentos.Aquela comédia finalmente saiu em DVD!Vinte minutos de fila.Meto no cartão.Vai para a minha estante juntar-se aos meus filmes preferidos.

Olho o relógio.Se quiser comer sem atropelos devo fazê-lo agora.Nem faminto nem querendo deixar de forrar o estômago.Um sanduba do subway(pão italiano,peito de peru e molho levemente picante),um sprite.

Passagem no banheiro,esvaziar a bexiga,lavagem das mãos.

Ingresso numerado.Última fila.Última sessão.Meio vazia.Sem adolescentes gritando.Ótimo.

Vivo o filme.Quase duas horas de fantasia.Relaxamento.Endorfinas.

Boa película.Não se pode mudar o que já passou.Devemos lutar constantemente para diminuir a distância entre o que somos e o que queremos ser.

As luzes acendem.Hora de encarar a realidade.Pago o estacionamento.Acho um absurdo de caro.Estou ficando sovina, muito parecido com o Vladimir,um amigo meu.

Faço o sinal da cruz e ligo o carro.O barulho do motor parece o de uma banda de rock de péssima qualidade(ou de boa,não sei bem a diferença).

Na volta para casa,por precaução,fico na pista da direita.Uma velhinha num fusca bege buzina atrás de mim,tem pressa.Quando me ultrapassa,pela esquerda,faz seu protesto:

__Deixa essa lata velha em casa seu infeliz!!!

Resisto a tentação de devolver o insulto;é Sábado e tudo é festa.

Na falta de estrelas,ofuscadas pelas nuvens,olho para a lua meio encoberta e faço um pedido:quero chegar em casa dirigindo,e não em cima de um reboque.

A lua me atende.

arqueiro
Enviado por arqueiro em 25/09/2011
Código do texto: T3240215
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