Minha mulher é uma mulher!
            Por favor, não sorria! Não estou brincando.
            Estou querendo dizer que ela não só é diferente de mim do ponto de vista fisiológico e sexual, mas também no seu psiquismo, no seu comportamento, no seu modo de agir.
            No ato de amar, por exemplo.
            Para mim importa mais o prato principal.
            Ela prefere os aperitivos, os “hors-d´oeuvres”, as entradas, a sobremesa, quero dizer: as carícias, os dedos peregrinos, os beijos, as palavras amáveis sussurradas.
            Cometeria um grave equívoco se não atinasse tratá-la como mulher que ela é. Do contrário, de que me adiantaria demonstrar espanto se ela se mostrasse fria, inerte, desinteressada? Seria o mesmo que querer tocar pandeiro tendo um violão (que violão!) entre meus braços.
            E não é só isso que pode azedar a nossa relação: ignorar que ela é um ser romântico e sentimental. Tem ainda aquelas datas, aqueles aniversários, não me refiro a aniversário natalício, mas, sim, aqueles aniversários: primeiro beijo, beijo roubado numa noite de chuva, a primeira transa no banco do carro ou na cama do quarto dos pais dela (que medo aterrorizante!), primeiro buque de flores, primeira reconciliação torridamente celebrada, essas datas, nas quais ela espera ser levada a um bistrô e saborear um prato que não preparou com  imensa satisfação em usar uma louça que não vai lavar.
            Minha mulher, sendo mulher, tem ainda um modo de raciocinar bem diferente do meu. É mais inteligente que eu, face os mais espantosos recursos que usa para chegar a uma verdade óbvia. Dou total importância às suas intuições e ao seu faro.
Trato minha mulher como mulher.
Homem que sou, diferente dela não só do ponto de vista fisiológico e sexual, mas também no psiquismo, no comportamento, no modo de agir e reagir.
Em matéria de fidelidade, por exemplo: não me julgo nem um pouco infiel quando aprecio (ela me acha exagerado) as mulheres bonitas, esguias ou popozudas e as moças encantadoras. Não sei porque ela se irrita, enciumada, se olho com um pouco mais de insistência a dona de um belo corpo. Homem que sou, minha mente não alcança quando ela olha com interesse disfarçado, na praia, as pernas de um homem. Isso é de um refinado mau gosto! Mas, não faço disso um drama (me esforço em não fazer).
Homem que sou, não me sinto um brutamontes quando não reparo em seu vestido novo. Por que será que ela não entende que o meu silêncio masculino é uma tácita aprovação? Se o penteado dela ou o vestido me desagradassem, naturalmente, eu lhe diria de pronto. O mesmo quanto aos sapatos novos. Nem ligo, de fato, pra esses calçados femininos desenhados por homens afetados que tornam o andar feminino parecido ao de um jaburu de asa quebrada, mas incansávelmente noto seus pés descalços no tapete do quarto, andando pelas alcatifas da casa, repousando agitados em meus ombros naquelas horas. Que coisa mais linda os pés femininos nus.
Homem que sou trato minha mulher como mulher mesmo sendo (ela diz, mas não concordo) parcimonioso em declarações de amor.
Minha mulher é uma mulher. Finge não perceber meu desarvoramento quando ela adoece ou se ausenta, a necessidade que tenho da sua companhia, e que se manifesta em todos os momentos de nossas vidas!
 
Minha mulher é mulher!