Revolta
Indignado com a precisão estatística dos dados que os poderes públicos, bancos e empresas de cartões de crédito armazenam e manipulam numa interminável corrente de informações pessoais, o meu vizinho, num rompante de raiva, invadiu a cozinha, pegou o saco de lixo, ergueu-o sobre a cabeça e pela janela atirou-o sobre a avenida, gritando:
- Quero a minha privacidade de volta.
E, lá embaixo esparramando-se no asfalto, o saco rompido com quantos ovos gastou na semana, as cervejas que tomou, as vezes que tinha coado café, o dia em que comera galinha, dando bandeira da bisbilhotice em sua vida.