-Puxa vida, que é isso?! Que diazinho... Esse veio de encomenda!
Maria conversava com seus botões, muito agoniada.
No escritório a bruxa andava solta.
O chefe que não era nenhuma Brastemp mesmo nos dias claro, um fingido bipolar que parecia muito educado a ponto de beijar a mão das damas e  logo em seguida xingar-lhes as mães,conduzia os trabalhos numa boa, mas,de repente,destratou um colega e quase saíram na mão grande.
O colega era muito querido e o chefe apenas tolerado.
O clima  pesou,a energia estava tão carregada que dava a impressão que poderia ser cortada à faca.
Maria saiu de lá com dor de cabeça e o trânsito não ajudava.
Pequenas discussões á toa entre motoristas,que se mimoseavam com palavrões curtos , mas,eficazes.
Nem sei porque se diz – palavrões –pois,os muitos que ela conhece e os mais pesados eram curtinhos, curtinhos.
-Certamente pisei em rasto de corno, pensou Maria, pois, em casa o clima não estava melhor.
O marido carrancudo, mal grunhiu um cumprimento seco.Será que tinha sobrado também para ele? Quem seria o regente do dia? Dia tem regente ou é só mês? Precisava consultar o horóscopo.
Depois de tantas nuvens carregadas, um banho rápido e um café com pão sem gosto (era de regime),  Maria encontrou um lenitivo.A novela!  Sim,a bendita novela da meia- noite.
Fazia tempo essa era sua única diversão. Assinaram um desses canais pagos e, um deles,reprisava antigas novelas.
Maria apegou-se á “Vale Tudo” que era reprisada quinze para meia-noite.Era um sacrifício  manter-se acordada até lá, principalmente para quem tinha de levantar-se ás seis e meia.
Mas,ela resistia.Perder as peripécias da Odete Roitman, nem pensar...
Mantinha-se alerta, assistia tudo que vinha antes, mas, não perdia  o capítulo , mesmo cochilando entre os comerciais.
Deitou-se no sofá,relaxada, apanhou um pratinho de nozes e passas e esperou.
Vieram os programas de humor,a série que antecedia a novela e ela, firme como um bom sentinela.Nem piscava.
Enfim, começaram a apresentar os créditos do programa.Maria sentou-se, atenta.Finalmente, ia começar.
E foi aí que desabou o toró.Daqueles que parecia anteceder o juízo final.O sinal sumiu como  costuma  acontecer nessas não muito raras ocasiões.
Com um gemido, Maria foi deitar...
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 19/08/2011
Código do texto: T3169381
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