A diarista do Zé

Quando o José Mário chegou em casa e encontrou a mulher na frente do espelho, experimentando as novas roupas de ginástica, levou um susto. Com as mãos na cabeça, perguntou, incrédulo:

- O que é isto, Maria Beatriz?!

- Gostou? - ela deu uma voltinha na frente dele, sorrindo, satisfeita - Me inscrevi na academia da esquina. Começo a fazer musculação, hidroginástica, spinning e não lembro mais o quê amanhã mesmo.

José Mário, sem acreditar naquilo que estava vendo e ouvindo, aproximou-se da esposa, com as mãos na cintura. Na sua mente vieram imagens de vários homens - bem mais sarados que ele - malhando na maldita academia e sua inocente Maria Beatriz no meio deles. Inconcebível.

- E quem vai cozinhar meu almoço? Meu jantar? Passar minha roupa?

Trajada com uma malha justíssima e com um top revelador, Maria Beatriz respondeu, calmamente:

- Eu, caso tenha tempo.

- Maria Beatriz, este era um assunto para ser resolvido a dois.

- Desculpe, mas estou cansada de fazer serviço de casa. Se não estiver satisfeito, contrate uma diarista só para você.

Furioso, ele concordou:

- Boa idéia. Vou contratar uma ninfeta de 18 anos para fazer todo o serviço de casa. TODO, entendeu bem?

Sem se preocupar com o tom das ameaças do marido, Maria Beatriz sacudiu os ombros em sinal de pouco caso. Sabia que jamais o seu maridinho fiel aprontaria uma daquelas.

- Por mim…

A primeira semana de academia foi intensa. Maria Beatriz precisava urgentemente perder as dobrinhas na cintura. Empolgada, ela se jogou de corpo e alma em todas as aulas possíveis. E eram tantos os meninos bonitos naquela academia que a Bia não queria fazer feio para nenhum deles, mesmo que os ditos fossem bem mais novos que ela.

Já em casa, a coisa não ia muito bem. A roupa se acumulava para lavar e passar e o José Mário já estava expert em fazer macarrão instantâneo.

- A impressão que eu tenho é que você está ficando verde - comentou o Zé, na sexta-feira, durante o jantar.

Maria Beatriz comia uma montanha de alface com espinafre, tomate e pepino. Carboidrato não entrava no seu cardápio fazia três dias. Aborrecida com o comentário do marido, ela nem respondeu. Mas o Zé prosseguiu:

- Qual é a sensação de pastar?

- Escuta aqui, José Mário - ela explodiu, largando os talheres no prato e fazendo um barulhão - Por que você não vai ver se estou na esquina?

- Porque estou esperando a minha pizza de atum, estrogonofe, queijo catupiri e calabresa chegar.

Neste momento, o interfone tocou.

- Ops! O entregador chegou - avisou o Zé - Enquanto você se esbalda na sua salada insossa, eu vou comer uma pizza tamanho G sozinho.

- Bom proveito - rosnou ela, apalpando-se, discretamente. As gordurinhas ainda teimavam em rodear-lhe a cintura.

Cantarolando, José Mário comeu a pizza bem devagar. O cheirinho entrou pelo nariz da Bia e a boca se encheu de água muitas vezes. Mas a Bia foi forte como nunca havia sido. Sentado ao lado dela para ver a novela, o Zé se deliciava. Cada mordida era acompanhada de suspiros enlevados, como se aquela pizza fosse a última do planeta Terra. Por duas ou três vezes, Maria Beatriz quase sucumbiu. E, quando a tortura chegou ao seu ponto máximo, ela se levantou, deu boa noite e foi dormir com a barriga roncando.

Depois de um final de semana à base de frutas, Maria Beatriz se levantou na segunda-feira esfomeada e pesando dois quilos a menos. Incrível! A balança não poderia estar mentindo. Se continuasse naquele ritmo, em três ou quatro dias, os terríveis pneuzinhos teriam sumido. Exultante, Bia sentou à mesa com José Mário, já trajando sua malha de ginástica. Enquanto ele se esbaldava com várias fatias de pão com muita geléia, Maria Beatriz encarou dois pedaços de abacaxi e uma xícara de chá verde. Foi quando tocaram na campainha.

- Deve ser o zelador - disse ela, mastigando bem devagar o abacaxi, na esperança de que ele durasse mais.

Mas José Mário deu um salto da cadeira, quase derrubando tudo, indo em direção à porta. Para surpresa da Bia, ele cumprimentou efusivamente alguém e em seguida a chamou:

- Bia, quero que você conheça alguém.

Desconfiada, Maria Beatriz se arrastou até a sala e tomou um susto, logo disfarçado. Ao lado do seu fiel marido, estava uma jovem muito vistosa, aparentando uns dez anos a menos que a Bia e com coxas que pareciam saltar das suas calças justíssimas. E os peitos? Silicone nada! Além de serem naturais, transbordavam pelo decote. Sem palavras, Bia pôs as mãos na cintura e esperou as explicações do seu empolgado Zé.

- Amorzinho, esta é a Rosicleide. Ela vai cozinhar, passar, lavar e… enfim, vai fazer tudo o que você não vem fazendo por causa das suas novas atividades.

Bia comentou, desejando mais do que nunca esgoelar o José Mário:

- Que engraçado… Eu não fui comunicada disto.

- É que não deu tempo - alegou ele, sorridente até demais - Você anda tão compenetrada nos seus assuntos que não achei espaço para te informar. Mas nossos problemas acabaram! Agora temos a Rosicleide para me ajudar. Quer dizer, nos ajudar.

Com seus dentes parelhinhos e branquinhos, Rosicleide, muito simpática, emendou:

- Pode me chamar de Rô, seu Zé.

- Quer dizer então - começou Maria Beatriz, sentindo o sangue ferver - que agora estou liberada do serviço de casa?

- Sim, senhora - respondeu a Rô - É tudo comigo. Tudinho mesmo.

José Mário foi trabalhar faceiro e Bia foi para a academia muito disposta a pedir divórcio. Quando ela voltou, exausta, perto do meio dia, encontrou tudo limpinho e com o prato preferido do Zé na mesa. Ele, por sinal, já estava comendo e batendo um papo animado com a Rosicleide. Furiosa, ela devorou a salada, imaginando como seria esfaquear o marido e a empregada sem dó nem piedade e depois sair correndo. O problema era fugir. Não sabia se teria forças sequer para chegar até a esquina.

A situação se arrastou - e Bia também - durante toda a semana. Era impossível olhar para a formosura da Rosicleide com suas avantajadas coxas e bunda e olhar para si mesma, já mais murcha e desbundada. O José Mário até barrigudo estava ficando, já que a vagab… ou melhor, a empregada era uma cozinheira de mão cheia. Nunca o apartamento tinha brilhado tanto e antes de desmaiar na esteira, no final da tarde de sexta-feira, Bia chegou à conclusão que seria trocada pela doméstica.

Quando o José Mário recebeu uma ligação avisando que a Bia havia desmaiado no meio da academia, o mundo desabou. Em menos de quinze minutos, ele chegou descabelado, perguntando pela mulher. Para seu alívio, ela já tinha acordado. E estava rodeada por três jovens e esbeltos personals training, que a enchiam de cuidados e mimos.

Foi quando o Zé surtou. Furioso, ele arrastou Maria Beatriz da academia, fez com que ela entrasse no carro e só foi parar na frente de uma sorveteria. Lá, ainda possesso, serviu três grandes bolas de sorvete de chocolate com cobertura de leite condensado e ordenou:

- Come!

Às lágrimas, mas de felicidade, Maria Beatriz saboreou cada colherada, enquanto trocava juras de amor com o José Mário. Na volta para casa, depois de ficar decidido que a Rosicleide iria para o olho da rua, o Zé até que propôs em dar uma esticadinha para um lugar, digamos assim, mais íntimo. Infelizmente, ele logo desistiu da idéia porque sua esposinha ainda estava fraca. E assim, apaixonados, José Mário e Maria Beatriz voltaram para casa, planejando um final de semana gastronômico em todos os sentidos.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 15/08/2011
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