Ah pai!

A televisão ligada e o pai como sempre dormindo.

- Pai... Pai... PAI!

- OI! – Deu um pulo o pai limpando a baba.

- Vai dormir na cama.

- Eu não to dormindo!

- Ah não, eu que to!

- Então vai dormir na cama, sofá não é lugar de dormir. – Disse e fechou o olho voltando a cochilar, no sofá.

- Pai... Pai... PAI!

- Que foi cacete!

- Vai dormir na cama.

- Já falei que eu não to dormindo eu to assistindo.

- De olho fechado?

- To assistindo a novela.

- Mas ta passando jornal!

- Mais e a minha novela? Quem trocou de canal?

- Ninguém trocou de canal. A novela já acabou faz tempo.

- Não acredito, eu pisquei acabou!

- Você não piscou você pescou.

- Para de falar que eu tava dormindo.

- Mais você estava.

- Não tava, eu aproveitei o intervalo pra descansar os olhos.

- Intervalo entre o começo da novela e o fim do jornal.

- Que mane dormindo. Deixa eu assistir quietinho. – Disse, fechou os olhos e voltou a dormir.

O filho levantou, desligou a televisão e saiu.

- Porque você desligou a televisão? Eu tava assistindo. – Resmungou o pai.

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Alta madrugada, marido e mulher dormiam, quando a mulher sente algo a tocando.

- Pode parar com isso Lucio. Amanhã eu tenho que acordar cedo!

Silencio. Agora esse mesmo algo toca o marido.

- Paula amanhã é segunda-feira tem certeza que quer fazer isso agora? Nem é dia disso!

- Quer fazer o que pai? – Disse o filho, assustando pai e mãe.

- Que susto filho. – Disse o pai.

- É sabia que não tinha como ser seu pai mesmo. – Resmungou a mãe.

- O que é que você ta fazendo aqui filho?

- To com medo de ficar no meu quarto, deixa eu dormir com vocês?

- Medo do que filho? Não tem nada lá.

- Como não pai? Tem sim. Se não tivesse eu não tinha vindo pra cá.

- É tem que concordar que faz sentido Lucio. – Disse sem nem se dar o trabalho de abrir os olhos.

- Não incentiva Paula.

- Eu não quero nem saber, vou dormir vocês que se virem. Boa noite!

- Vai dormir no seu quarto Miguel.

- Ah pai deixa eu ficar aqui, to com medo de ficar lá. E eu não vou incomodar não, só vou dormir.

- Não é pelo fato de incomodar ou não filho, é só que você tem que parar com isso.

- Ta eu vou parar, mais hoje deixa eu ficar.

- Você sempre fala isso. E eu sempre caiu. Mais hoje não!

- Mais pai...

- Sem mais pai!

- Mãe! Mãe! Acorda mãe.

- Nem adianta tentar acordar sua mãe, quando ela finge que ta dormindo assim ninguém consegue fazê-la acordar. E eu falo com conhecimento de causa!

- Oi?

- Nada. Vai pro seu quarto.

- Pai tem alguma coisa lá.

- Tem mesmo...

- Viu!

- Tem sua cama, que é onde você deveria estar dormindo.

- Nossa nada a ver pai.

- Nada ver é você achar que tem alguma coisa lá. E não fala assim comigo moleque, eu sou seu pai.

- Aí é modo de falar.

- É modo de falar você vai ver. Quero ver você falar sem os dentes! Agora vai pro seu quarto.

Levantou o pai arrancando o filho da cama e levando-o a força pro quarto.

- Ah pai só queria dormir, sabe só dormir, chegar quietinho e dormir.

- Eu também, só queria dormir, mas você foi me acordar. Agora deita aí e dorme. Boa noite!

- Boa noite pra você que não vai dormir sozinho.

- É você não diria isso se tivesse que dormir com a sua mãe todos os dias.

- Oi?

- Nada!

Silencio. Quarto do casal. A mulher sem nem ao menos abrir os olhos resmungou.

- E aí a fera dormiu?

- Sim. – Respondeu o filho.

- Miguel? Ué, cadê seu pai? – Perguntou a mãe agora de olho aberto.

- Ficou dormindo na minha cama. Fizemos uma troca, ele cuida dos mostras lá, e eu agüento a senhora aqui. Boa noite mãe!

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- Pai me da dinheiro!

- Como assim ‘me da dinheiro’?

- Ué abre a carteira, tira o dinheiro de dentro, e me da!

- Não, mais não é bem assim que as coisas funcionam. Você tem que merecer esse dinheiro.

- Como assim merecer? Sou teu filho, isso já não é motivo suficiente?

- Não é disso que eu to falando!

- Do que você está falando então?

- To falando, que não posso sair dando dinheiro pra você assim, se não você não vai dar valor nele.

- Claro que vou!

- Não vai não! Eu sei disso, sua mãe era assim. Pedia dinheiro eu dava, pedia eu dava, por isso ela não valoriza.

A mãe entra na sala.

- O que vocês estão falando aí?

- Mãe eu pedi dinheiro pro pai ele não quer me dar...

- Não é que eu não quis dar...

- Da logo dinheiro pro moleque. – Gritou a mãe interrompendo-o.

- Não, eu to tentando ensinar uma lição pra ele.

- Que lição? A ser pão duro?

- Que pão duro?

- Dá logo o dinheiro pra ele.

- Não vou dar. Ele tem que fazer por merecer.

- De novo isso pai.

- Não to fazendo por mal, to tentando te ensinar algo.

- Não parece, só parece que você não quer dar e ponto. Olha aí o jeito do pai mãe.

- Quero te ensinar a valorizar, a conquistar as coisas.

- Mais eu só quero ir no cinema. Mãe!

- Pedro me da cinqüenta reais aí!

- Pra que?

- Ah vai ficar me controlando agora? Quer me ensinar uma lição agora também? Eu não sou seu filho...

- Toma, toma. – Deu o pai de uma vez afim de evitar uma discussão maior.

- Toma filho. – Entregando o dinheiro com a mesma mão que tinha pego do pai. – Vai no cinema!

- Obrigado mãe, te amo. – Disse e saiu como se o pai não tivesse ali.

- Você viu o que você fez?

- Sim! Eu não bebi ainda.

- Eu to tentando ensinar algo pra ele e você faz isso? Depois não vá reclamar se ele ficar igual a você.

- Não, eu vou reclamar se ele ficar igual a você. Pão duro!

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 15/08/2011
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