Cartões X e-mail

Cartões X e-mail

(Autor: Antonio Brás Constante)

As facilidades do mundo moderno nos fazem trocar inúmeras mensagens por dia com nossos conhecidos, sem que realmente estejamos nos comunicando com eles. Depois que o e-mail entrou em nossas vidas, passamos a receber textos lembrando todo tipo de comemorações, tais como: Dia do amigo, da páscoa, das mães, dos cachorros, da chegada da primavera, dos professores, da alface, das crianças, etc. Enfim, datas que sugerem as pessoas que se lembrem umas das outras. E como fazem isto? Mandando e-mails.

Antigamente, quando queríamos mostrar que lembrávamos de alguém, remetíamos um cartão. Um gesto que num primeiro momento parece ser algo tão simples quanto o envio de e-mails, mas que acarretava em um envolvimento muito maior da pessoa que os mandava.

Começava pelo fato de ter-se que procurar um cartão. Não em um site de cartões e sim em alguma loja ou local que os vendesse.

Após a escolha, mesmo que fosse do cartão mais humilde e singelo, era necessário pagar por ele. A demonstração de amizade começava sendo sentida no bolso. Depois viriam outras despesas, pois para se enviar um cartão era necessário também comprar um envelope e posteriormente pagar os selos (isto sem contar os custos de deslocamento para postá-lo).

Uma vez comprado o cartão, devia-se escrever algo nele, ou ao menos rabiscar seu nome. Para fazer isso era preciso ter-se em mãos um objeto chamado caneta (que pelas leis de Murphy, nunca são encontradas quando às procuramos).

Aproveitando a caneta em mãos, era preenchido no envelope o destinatário. Não algo fácil como agora, onde basta que sejam selecionados numa lista de e-mails os vários nomes desejados, clicando no botão “enviar”. Os endereços geralmente estavam em agendas, esquecidas em algum canto, sendo necessário também procurá-las.

Era só isso? NÃO! Depois de todo este esforço, tinha-se de ir aos correios (sabe aquele lugar onde hoje se pagam às contas de água e luz?), enfrentar possivelmente alguma fila enorme, para enfim enviar a valoroso cartão.

Muito esforço? Talvez. Mas a pessoa que recebia tinha a certeza que este empenho havia sido dirigido para ela. Realmente era gratificante receber um cartão de um amigo. Alguém que dispunha de tempo e esforço para mostrar que lembrou de você.

Hoje isto acabou. Ficou impessoal. Recebemos de forma simples uma infinidade de textos, com toda a pompa da informática, sem erros de gramática, com letras computadorizadas, desenhos perfeitos, palavras bonitas escritas por algum poeta que geralmente nem sequer é lembrado no corpo da mensagem. Mas o principal se perde. As pessoas mandam e-mails sem ao menos escrever uma linha vinda delas mesmas. Algo que parta de seus corações. Que sirva para mostrar que não estão apenas repassando para uma dezena de endereços eletrônicos (seus amigos), as mensagens recebidas pela internet.

Pensando nisto me lembrei do natal. Das mensagens que falam sobre como esta data é comovente. Com histórias emocionadas, poemas lindos ou imagens que deveriam tocar quem as recebe, mas da forma fria como são mandadas será que isto acontece?

Neste natal vamos agir de forma diferente, doando um pouco de nós nas mensagens aos nossos amigos, para que eles sintam-se verdadeiramente lembrados. Vamos desenterrar antigos laços que o tempo e a tecnologia trataram de separar. Quem sabe assim, não conseguimos tornar esta data em um dia realmente especial para aqueles que forem tocados por nossos gestos.

(SITES: www.abrasc.pop.com.br e www.recantodasletras.com.br/autores/abrasc)

e-mail: abrasc@terra.com.br

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Antonio Brás Constante
Enviado por Antonio Brás Constante em 11/12/2006
Código do texto: T314982