No banheiro

- Anda logo! – Disse, batendo na porta.

- Mais eu acabei de entrar.

- Não acabou não. Anda logo eu tenho que tomar banho pra sair. – Bateu de novo.

- To lavando meu cabelo.

- Você é careca.

- A só por isso eu não posso lavar minha cabeça.

- Mais você falou que estava lavando seu cabelo.

- É modo de falar.

- Ta, anda logo.

Silencio. Começa a cantar uma musica.

- O que você está fazendo?

- Lavando o cabelo!

- Você ta cantando?

- Sim, porque não pode?

- Eu não to falando pra você andar logo?

- Mais é uma musica curta.

- Não quero saber eu já to atrasado.

- Tudo bem se não quiser que eu cante essa eu aceito pedidos.

- Ah aceita?

- Sim!

- Meu pedido é que você pare de cantar e saia do chuveiro.

- Desculpe mais vou ficar te devendo, essa eu não sei.

- Essa você não sabe o que?

- Não sei cantar.

- Sai logo desse chuveiro.

- Pega o sabonete pra mim.

- O que você está a todo esse tempo aí e não tinha nem sabonete?

- Tava lavando o cabelo, agora vou lavar o corpo.

- Eu não vou pegar nada, desliga logo isso, e para de falar que tava lavando o cabelo, você é careca.

- Nossa precisa falar assim? Pega lá...

- Não!

- Quanto mais você demorar, mais Eu vou demorar.

- Sai logo daí! – Bateu de novo, desta vez quase derrubando a porta.

- Ta bom não precisa derrubar a porta. Só espera eu enxaguar...

- Enxaguar o que? – Interrompeu – você não tem sabonete.

- O cabel... A cabeça.

Silencio. Som do chuveiro desligando.

- Finalmente hein desligou hein...

- Bem não fui eu quem desligou...

- Como assim?

- Acho que acabou a água!

- Não acredito, se você não tivesse demorado eu poderia ter tomado banho também...

- Eu não tenho culpa.

- Ah não tem culpa? Faça-me o favor. – Foi saindo.

- Ei espera aí!

- O que foi cacete...

- Pega a toalha pra mim!

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- Nossa achei que não entraríamos nunca.

- Pois é a fila pra entrar no banheiro ta maior do que pra entrar na balada.

- Aí, são essas enroladas que ficam demorando no banheiro.

- Verdade, tem batom aí?

- Tenho sim. E aí já viu algum homem que te interessou?

- Não, tava só de olho na fila pra ninguém cortar a frente. Tem lápis?

- Ta aqui. Pois é eu também nem cheguei a prestar atenção ver se tinha algum que prestasse. Tem pasta de dente aí?

- Normal ou pra dentes sensíveis? Ah dizem que aqui é bom.

- Pra dentes sensíveis. Pelo tanto que esperei na fila do banheiro espero que seja mesmo.

- Tem dois amigos meu que disse que viriam aqui. Tem uma chapinha aí?

- Aham. Tenho essa e outra que é de cerâmica. São bonitos?

- Só tem essas duas aí? São!

- Só, deixei a outra em casa, tenho um secador se preferir. Então quando sairmos vamos atrás deles.

- Não, quero fazer uma chapinha mesmo. Vamos mesmo.

- Aí to achando que esse vestido não ficou muito legal.

- Se quiser eu tenho outro aqui na bolsa.

- Sério, acho que vou experimentar. Então fechado, quando sairmos vamos ficar com eles.

- E aí ficou bom? Eu quero o loiro.

- Ficou! Ta eu gostei mais do moreno mesmo.

30 minutos depois

- Agora vamos arrasar.

- Nossa quem são aquelas duas que estão com eles?

- Não acredito.

- O que?

- Esqueci de retocar a maquiagem.

- Vamos ter que pegar toda essa fila de novo?

- Sim!

- Fazer o que né. Quando sairmos vamos lá tirar satisfação com eles.

- Tem outro vestido aí?

- Lógico!

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TOC TOC TOC

- Tem gente! – Gritou lá de dentro.

- Vai demorar muito? – Gritou lá de fora.

- Não sei.

- Como assim não sabe?

- Ué... Não sei!

- Ta fazendo o que?

- Como assim fazendo o que?

- O numero 1 ou o numero 2?

Silencio. TOC TOC TOC.

- Ta vivo? – Perguntou preocupado.

- To tentando me concentrar. – Respondeu com a voz apertada.

- Então ta fazendo o numero 2...

- Ta olhando pela fresta?

- Não, disse que está se concentrando, não precisa de concentração pra fazer o numero 1! Anda logo...

- Nem pra fazer o numero 2!

- Claro que precisa você acabou de dizer que está concentrado, e está fazendo o numero 2...

- Mais eu não falei que estava fazendo o numero 2...

- Então porque está se concentrando, e demorando?

- Eu to fazendo o numero 3!

- Numero 3?

- É o numero 3!

- O que é o numero 3?

Silencio.

- Oi! Do que se trata o numero...

A porta abriu, ele deu passagem.

- Vai, não tava com tanta pressa?

- Tava!

- Então vai de uma vez, não se pode nem fazer o numero 3 em paz. – saindo.

- Ei! – gritou desesperado.

- O que foi dessa vez?

- O que é o numero 3?

- Ah você sabe né. – Disse, e saiu.

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Mesmo banheiro, cabines diferentes.

“Aí, não acredito. Acabou o papel”. – Pensou.

- Opa! Tem alguém aí?

- Tem!

- E aí amigão. Como você ta?

- Não to muito bem não, comi uma feijoada que não caiu bem!

- Hum feijoada, sei bem como é.

- E você o que é?

- Lasanha.

- Lasanha é bom.

- É bom antes.

- Feijoada também!

- É. – silencio – Então entrei correndo aqui, e acabei não verificando uma coisa...

- Não vai dizer que é o banheiro feminino?

- Não. Não. Porque seria?

- Ah é que eu já entrei correndo, pensando só o necessário pra não ‘sujar a situação’, e só então quando já estava ‘descarregando’ que percebi que era banheiro feminino.

- Acontece com todo mundo!

- Sério, pensei que fosse só eu. Ufa, já fiz isso umas três vezes.

- É, três vezes já não é tão normal.

Mais um silencio.

- Então como tava falando, entrei correndo, e só notei que não tinha estepe depois que eu já tava com o carro na estrada.

- Poh que mancada hein!

- O que acontece com todo mundo, vai dizer que já não aconteceu com você. Pra quem já entrou três vezes no banheiro feminino não tem muita moral pra falar não.

- Isso é diferente, foi um acidente. Agora pegar a estrada sem estepe é mancada.

- Esqueci de verificar, tava tão aflito que acabei nem verificando.

- Pois é tem que tomar cuidado pra policia não te parar.

- Policia?

- É, isso da uma multa pesada.

- Porque multa? Acontece, já aconteceu com todo mundo.

- Mesmo assim, tem que cuidar pra não dar cagada.

- É né!

- É!

Silencio.

- Ei, tem papel higiênico aí?

- Ué mais não era você o homem cuidadoso que não anda sem ‘estepe’?

- Ah então quando falou do estepe estava se referindo a isso...

- Você achou que eu estava falando de estepe mesmo?

- Sim. Quem é que faz analogia de papel e estepe?

- Tentei falar de um jeito mais sutil!

- Porque estamos só nós, e num banheiro.

- Não estão não. – Gritou de uma terceira cabine. Desta vez uma voz feminina.

- Aí, não acredito que eu entrei no banheiro feminino de novo.

- Não entrou não. Eu é que entrei no masculino.

- Ufa.

- Você tem papel aí?

- Também não.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 09/08/2011
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