O MARTIM PESCADOR

Para começo de conversa, o Martim pescador aqui é um pássaro, não é nenhum pescador chamado Martim.

E para encurtar a conversa, esta estória aqui aconteceu comigo, não foi com nenhum outro infeliz.

Chega de conversa! Vamos à estória. Veja bem, estória, no que é diferente de história.

Uma tarde qualquer, às margens de um rio qualquer, com calor e mosquitos como em qualquer pescaria, estava lá eu tentando jogar o anzol na água. Digo tentando por que não sou pescador, muito pelo contrário, não gosto de pescaria. Mas naquela tarde eu estava lá, não tenho por que justificar tal fato.

Antes é bom esclarecer que o rio tinha lá seus mais de treze metros de largura. Pois bem! Anzol iscado com um lambari daqueles bem brilhantes. Eu enrolei a linha numa rodilha e arremessei. Tudo mal feito. Caíram, anzol e linha pouco mais de dois metros. O ponto visado estava a bem uns dez metros.

Segunda tentativa.

Procurei arremessar num ângulo mais aberto e com mais força. Assim que a armação saiu de minha mão tive certeza de conseguir meu intento.

Qual o quê! Um Martim pescador que estava sapiando por ali, quando viu o lambari no ar, se deliciou e voando rasante engoliu-o com anzol e tudo.

Fisguei. Não deu outra. Pesquei um passarinho em pleno vôo.

(janeiro/1988)