PLANO FUNERÁRIO

Ela pediu para o irmão pagar o carnezinho da funerária. Já faz tempo que ela fez o plano mórbido, e entra a família toda. Tem direito a caixão, sala de velório, cafezinho, velas, flores e uma coroa, daquelas horríveis e tenebrosas. No início era baratinho, quase uma contribuição. Hoje em dia, como tudo anda subindo, a prestação macabra também esta nas alturas (e não é no céu). O irmão admirou-se do elevado valor. Todos sabiam que ela pagava o carnê da funerária, mas ninguém nunca se preocupou em ajudar, afinal, o preço não era de se preocupar. Sempre silenciosa, nunca pediu colaboração a ninguém.

__ Você vai lá pagar o carnezinho?

__ Vou sim.

Ela abre aquele livrinho com as folhinhas, uma para cada mês e torcendo para que ele não acabe tão cedo, como no caso de outras prestações, dizendo:

__ Pegue o dinheiro.

E retira uma soma maior que a inicial.

__ Uai, isso tudo? Não era só dez?

__ Tudo subiu não é?

__ Mas esse valor é pra todo mundo?

__ Sim. Pra você, inclusive.

Como o irmão nunca ajudou na tal prestação, meio sem graça perguntou.

__ Mas ninguém nunca te ajudou não? Você paga sozinha pra todo mundo?

Diante da pergunta ridícula, não poderia ter dado resposta melhor:

__ É né. Pagar ninguém ajuda, mas na hora de morrer, todo mundo quer!

LUCAS FERREIRA MG
Enviado por LUCAS FERREIRA MG em 01/08/2011
Reeditado em 02/08/2011
Código do texto: T3132785
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