PLANO FUNERÁRIO
Ela pediu para o irmão pagar o carnezinho da funerária. Já faz tempo que ela fez o plano mórbido, e entra a família toda. Tem direito a caixão, sala de velório, cafezinho, velas, flores e uma coroa, daquelas horríveis e tenebrosas. No início era baratinho, quase uma contribuição. Hoje em dia, como tudo anda subindo, a prestação macabra também esta nas alturas (e não é no céu). O irmão admirou-se do elevado valor. Todos sabiam que ela pagava o carnê da funerária, mas ninguém nunca se preocupou em ajudar, afinal, o preço não era de se preocupar. Sempre silenciosa, nunca pediu colaboração a ninguém.
__ Você vai lá pagar o carnezinho?
__ Vou sim.
Ela abre aquele livrinho com as folhinhas, uma para cada mês e torcendo para que ele não acabe tão cedo, como no caso de outras prestações, dizendo:
__ Pegue o dinheiro.
E retira uma soma maior que a inicial.
__ Uai, isso tudo? Não era só dez?
__ Tudo subiu não é?
__ Mas esse valor é pra todo mundo?
__ Sim. Pra você, inclusive.
Como o irmão nunca ajudou na tal prestação, meio sem graça perguntou.
__ Mas ninguém nunca te ajudou não? Você paga sozinha pra todo mundo?
Diante da pergunta ridícula, não poderia ter dado resposta melhor:
__ É né. Pagar ninguém ajuda, mas na hora de morrer, todo mundo quer!