Alta madrugada

Alta madrugada.

- Pedro, Pedro, PEDROOO – Balançando o marido.

- Que foi Miriam?

- Tem alguém na cozinha.

- Deixa, não tem nada na geladeira. Ele vai revirar, não vai encontrar nada e vai embora.

- Pedro eu to falando sério.

- Eu também. – Disse ainda de olhos fechados.

- Ouviu?

- O que?

- Olha, escuta.

- Olha ou escuta?

- Quieto. – Fazendo sinal para que ficasse em silencio e ouvisse. – Ouviu?

- Não! – Disse virando para o lado tentando voltar a dormir.

- Como não! Pedro, Pedro...

- Simone. Desse jeito eu vou acabar perdendo a hora no trabalho amanhã, e vou ser mandado embora. É isso o que você quer?

- Não!

- Então me deixa dormir em paz. – Novamente virando para o lado.

ALGUNS MINUTOS DEPOIS

- Pedro, Pedro, PEDROOO – Balançando o marido.

- Que foi cacete!

- Foi pra sala.

- Quem foi pra sala?

- O barulho!

- Que barulho?

- O que tava na cozinha.

- Deixa ele. Vai ligar a TV não tem nada passando. Eu não paguei a TV a cabo.

- Aí como você é besta. Você não pagou a TV?

- Miriam, são duas horas da manhã. Será que da pra você dormir?

- Se você levantar e ir ver quem ta na sala sim!

- Você só vai dormir se eu for lá ver?

- Só!

- Você só vai me deixar dormir se eu for lá ver?

- Aham.

- Ele tava na cozinha e agora está na sala?

- É.

- Então porque você não espera ele chegar aqui no quarto pra descobrir?

- Vai de uma vez Pedro. – Empurrando-o da cama.

Ele foi resmungando. Alguns minutos depois, e nada dele voltar. Um silêncio sepulcral.

- Pedro. Pedro. PEDROOO. – Gritou para o marido, e nada.

Caminhou com medo até a sala. Encontrou o marido deitado dormindo no sofá.

- PEDRO! O que você ta fazendo?

- Você não pediu pra eu vir resolver o negócio do barulho?

- Sim!

- Não parou o barulho?

- Sim!

- Então me deixa dormir em paz cacete.

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Já passava de três horas da madrugada, e os vizinhos de cima pareciam estar numa lua de mel sem fim.

- Nossa! Terceira noite seguida hein!

- Pois é!

- Será que eles não trabalham?

- Devem trabalhar não ta barato o aluguel não.

- Eu não agüentaria trabalhar se fizesse toda essa festa três noites seguida até essa hora.

- É, você já reclama de fazermos uma, e nem chega a ser uma festa tão grande. – Resmungou.

- Oi?

- Nada não.

- Será que só nós conseguimos ouvir?

- Com o barulho que eles fazem acho que o prédio inteiro ouve.

- É né! Fazem mais barulho que o menino do 43 que tem uma banda.

- Verdade.

- E os gritos dela é mais afinado que o vocalista deles. – Disse e riu.

- Ãhm?

- Nada não. – Sério.

Silêncio, no quarto deles. Festa no de cima.

- Ta dormindo?

- Não. Nem tem como.

- Então já que não vamos conseguir dormir, e eles estão tão no clima, que tal se a gente...

- Quieto. Quieto. – Interrompendo.

- O que?

- Pararam! Finalmente. Agora vamos poder dormir.

Viraram cada um para um lado, como o de costume.

- O que você ia dizer Nilson?

- Nada não. Boa noite.

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Alta madrugada, o casal dormia quando de repente algo surgiu em meio às cobertas.

- Carlos pode parar com isso, olha a hora que é nem venha de gracinhas. – Resmungou a mulher.

- O que você disse mãe. – Disse o filho assustando a mãe.

- Nossa que horas você entrou aqui?

- Agora.

- Carlos, Carlos. – Cutucando o marido.

- Que foi mulher. Não vou acordar pra fazer isso hoje, ontem quando eu queria você não quis. – Ainda, meio, dormindo.

- Cala boca. O Junior ta aqui, e quer dormir com a gente.

- Ah filho, é você. – Acordando sem jeito.

- Quero dormir com vocês. Não quero ficar sozinho.

- Ah meu Deus. – resmungou o pai, virando para o lado tentando dormir.

Silêncio.

- O que é que o papai queria ontem a noite que você não quis mãe. – Perguntou o filho, deixando os dois sem saber o que falar.

- O que é que o papai queria? – Enrolou a mãe.

- É! – Respondeu mais acordado do que nunca.

- O papai queria que você viesse dormir aqui com a gente ontem, mas a sua mãe não quis. – respondeu o pai, cuspindo primeira coisa que veio cabeça.

- Sério isso mãe?

- É... É!

- Então já que ontem ela não quis. Sinto muito mais hoje você não pode ficar aqui com a gente.

- Mas pai.

- Sinto muito, não é culpa minha.

- Ah mãe, tudo culpa sua, se tivesse deixado o papai ontem, eu não ia precisar sair hoje. – Saiu o filho batendo o pé.

Silencio, novamente.

- Amor. Amor. Já que o Junior já nos acordou mesmo, e não está mais aqui, bem que a gente podia...

- Não podia nada. – Disse interrompendo. – Culpa sua o menino ta bravo comigo.

- Culpa minha? Não tinha o que falar, você viu o que ele perguntou.

- Sim eu vi. Só que não precisava ter jogado a culpa em mim. Boa noite. – Virou para o lado e dormiu.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 25/07/2011
Reeditado em 25/07/2011
Código do texto: T3116705