NORDESTINO SUPER BRASILEIRO
Carta fechada aos meus caros confrades brasileiros
de Kuaracy Xaman [1]
Nota Prévia
O tema deste texto é dedicado ao grande povo nordestino do Brasil. Povo nobre, trabalhador e inteligente. Dos 27 ESTADOS DO BRASIL, 9 SÃO DO NORDESTE [2]. No entanto economicamente per capita é a região geográfica mais “pobre” do país.
Nesse contexto pretende-se desconstruir o preconceito contra o nordestino fruto dos complexos bestas no Brasil durante o século 19 (1800-1899) e o século 20 (1900-1999) continuando pelo atual século 21.
O autor deste texto (que não é nordestino) percorreu dentro do Brasil quase 8 mil km de estrada em viagens de estudo de sociologia cultural.
Partidas de Brasília e regresso. Do Distrito Federal a Piauí no extremo nordeste, a sudeste no Paraná (PR) das capivaras passando por Goiás (GO), Minas Gerais (MG) e São Paulo (SP) via eixo de Anhaguera.
Uma distância semelhante de Brasília a Madrid (Espanha), por terra, se fosse possível em vez do Oceano Atlântico pelo meio. O autor dialogou pela vida fora, e na UnB, com cidadãos oriundos dos 27 Estados do Brasil.
Introdução
Historicamente o Brasil se fez grande com gente descendo a partir do NORDESTE desertificando-o ainda mais rumo ao centro, Tocantins (TO) e Goiás (GO) - ligado a DF, ao litoral e interior do sudeste, ao sul, subindo de novo, e por aí afora se espalhando à Amazônia (AM) e Mato Grosso (MT/MS). Uma nota comum: a mão-de-obra esforçada e sacrificada nordestina “OUVIRAM DO IPIRANGA AS MARGENS PLÁCIDAS”...
A Brasília do planalto de JotaKá - Juscelino Kubitschek, os Estados do sudeste e respetivas cidades de São Paulo (herdeira de Piratininga) e Rio de Janeiro (RJ), em grande parte foram edificados com nordestinos. No Brasil muita massa crítica cinzenta de mais-valia tem sido nordestinos na política, nas artes e letras. Na cidade de São Paulo é só saberem de onde vieram os que vivem e trabalham no duro já em 2ª, 3ª, 4ª, 5ª geração de nordestinos em camadas misturadas com outras comunidades mais recentes de louros, morenos, mais escuros, mais claros, de cabelos mais lisos ou bem encaracolados, nariz grosso ou fino etc.
Muitos jovens de pais nordestinos em Brasília enchem o peito de orgulho e dizem: MIM PAULISTA! MIM da CIDADE de SÃO PAULO! Isso porque os seus pais nordestinos – caminhoneiros – sejam do Maranhão – MA, PI, CE, RN, PB, PE, AL, SE, BA, mas sobretudo do Paiuí e do Ceará – os “fizeram” a caminho de São Paulo. Outros remigrando de novo de lá para Brasília. O nordeste da caatinga e da lei do cangaço do Lampião e da Maria Bonita - dos avós - esquecidos pelas 2ª e 3ª gerações.
Tem sido graças à maciça migração do nordestino para o centro e sul do país que se formou o povão brasileiro de hoje vindo já mestiço do guarani com o afro e o português, galego e espanhol, francês, holandês e britânico, remisturando-se ainda mais com os “recém-chegados” italiano, alemão, japonês, libanês, sírio, egípcio, chinês, coreano, sueco, polaco, ucraniano, búlgaro e outros mais (modernos) africanos: nigerianos, angolanos, cabo-verdianos, moçambicanos, e os que vêm chegando ao Brasil e se fixam no “nosso” país tropical.
Por outro lado esqueçam os sobrenomes do lado do papai (fruto do machismo institucional e social brasileiro) e procurem do lado da mamãe, das vovós, os vossos sobrenomes não registrados no cartório e escondidos intencionalmente há mais de 100 anos. Aí descobrirão de onde vêm a vossa origem mais completa. O Grande Mineirinho JotaKá - Juscelino Kubitschek de Oliveira tinha sangue “ameríndio”, “negro”, português e polaco et cetera e tal, nunca os negou. Nem podia negar - o Sol tropical e a melanina o iriam trair escurecendo sua pele apesar da brilhantina no cabelo.
Se é verdade que todo o “verdadeiro” brasileiro, moderno, tem um pé na senzala (sangue do neguinho) e outro na chácara perto da floresta (sangue guarani), também é verdade que tem a alma nordestina sertaneja do forró (for all), da sanfona e da briga “braba” de cabra-macho de navalha na mão, do suco do fruto ou polpa do caju, da bóia misturada com arroz e feijoada, castanha de caju assada, e churrasquinho ou carne seca ao sol com pimenta malagueta ou “dedo de moça”.
Isso sem esquecer que o próprio mineirinho (MG) e o paulista(no), santa catarinense (SC) gostam por demais de coisas doces. São heranças nordestinas do abuso do café com leite e açúcar, e da rapadura, e do chocolate (cacau) dos tempos do engenho da cana sacarina, (dês)graças ao esforço suado dos escravos afros. [Ouvir BATUQUE NA COZINHA por Martinho da Vila].
Com efeito, a “salvação” do brasileiro estará na alegria herdada do “negro” e ainda mais da “Negra” (e Cunhã guarani) duplamente suportando o machismo dos seus e dos senhores, mesmo assim, na desgraça da escravatura superando a dor e o vexame batucava, dançava, cantava, cozinhava os seus saborosos quitutes resistindo ao infortúnio da cruel desumanidade do feitor português, espanhol, francês e holandês.
É isso que salvou o Brasil e os brasileiros da frieza europeia de seus genes, sejam latinos ou nórdicos, ou eslavos – foram o gene e o génio africano de sobrevivência, e da grande nação guarani da vó Cunhã “Iracema”, que salvaram os brasileiros no sangue e no ritmo da dança e no desporto.
No Rio Grande do Sul (RS) é só observarmos o gaúcho, que está lá a marca nordestina do piauiense e do cearense cangaceiro com o seu humor fanfarrão. Traços do maranhense procurem no carioca que se acha que fala bem a língua do português e melhor que ninguém. Aliás carioca nome que provém do povo CARÍ da região (RJ) que vivia na ÓCA (grande cabana comunitária do dito ameríndio) nos séculos passados. Os Capixabas do Espírito Santo (ES) aí então seriam nordestinos mirins na fisionomia.
Termino com uma piada contada por paulista(no), com algum preconceito, que ilustra esse êxodo do nordestino a São Paulo: - O pai nordestino, batendo de leve a cabecinha do filhinho bebê diz: “Cresce fio, cresce. Que quando tu fô grande vai pra Sum Paulo! (Daí dizem as más-línguas teria vindo a forma achatada da cabeça do nordestino).
MEU COMENTÁRIO:
Ué como assim? Esse negócio de forma de cabeça pela aparência visual, nada significa. Mesmo entre irmãos nordestinos “puro-sangue” do mesmo pai e mãe podem ter cabeças ovais, redondas ou achatadas como todo mundo. Depende da hereditariedade. Conheço muito paulista(no), paranaense de Curitiba (PR), de Porto Alegre (RS) e mesmo de Florianópolis (SC), etc., e tal que têm a cabeça ligeiramente achatada no topo.
Por esse critério então serão todos de origem nordestina pois a terra…“DOS FILHOS DESTE SOLO ÉS MÃE GENTIL / PÁTRIA AMADA/ BRASIL!
NOTAS Parentéticas:
[1] Kuaracy Xaman (1941) é formado em Sociologia da Cultura.
[2] A região do NORDESTE é composta por 9 Estados, por ordem geográfica:
– 1. MARANHÃO - MA (capital São Luís) – 2. PIAUÍ - PI (capital Teresina) – 3. CEARÁ - CE (capital Fortaleza) – 4. RIO GRANDE DO NORTE - RN (capital Natal) – 5. PARAÍBA - PB (capital João Pessoa) – 6. PERNAMBUCO - PE (capital Recife) – 7. ALAGOAS - AL (capital Maceió) – 8. SERGIPE - SE (capital Aracaju) – 9. BAHIA - BA (capital Salvador). Área total: 1.561.177 km² / População (no ano 2.000): 47.693.253 habitantes [2]. (Muito milhão e meio de quilômetros, e muito povo para não ser ignorado).
REFERÊNCIAS:
- Alencar, José (1865-1998). IRACEMA. Porto Alegre: L&PM Editores. [José de Alencar, 1829-1877].
- Azevedo, Aluísio (1881-1978). O MULATO. S. Paulo: Editora Ática. Aluísio Azevedo [1857-1913].
- Brasil (2008). “MAPA Político – Rodoviário -Escolar - Regional - Informativo – Turístico”. São Paulo: Editora Trieste.
- Cascudo, Luiz da Câmara (1964-2002-). MADE IN AFRICA (o Brasil). SP: Global Editora. (2ª edição). [L. Câmara Cascudo, 1898-2009].
- Ribeiro, Darcy (1995-2008) O POVO BRASILEIRO: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Editora Companhia das Letras. [Darcy Ribeiro, 1922-1997].
WEBSITES:
- A REGIÃO NORDESTE: infoescola.com/geografia/regiao-nordeste/
- Distâncias Geográficas A Partir De Brasília: docs/Distancia%20de%20Piracicaba%20a%20Outras%20Cidades.pdf
- Geografia e Demografia: portalbrasil.net/regiao_nordeste infoescola.com/geografia/
- Ribeiro, Darcy; fundar.org.br/