Após cinco anos na grande cidade, o poeta e roceiro José Carlos Guimarães, enfim volta para a sua terra com uma mão na frente e a outra atrás. Sua mulher Maria Das Dores Guimarães, surpresa em revê-lo antes do prazo de sua chegada prevista, o recebe com um abraço apertado e então começam a conversar. 

-Ué Zé, mas ocê num ia lá pra’quele tar de recanto mostrar a sua poesia home?
-Pois eu fui Maria, mas eles me inganaro! Cheguei lá e vi tudo, menos poetas e poetizas.
-Como assim Zé, me exprica isso direito home.
-Pois é Maria, chegano lá, mi dero um tal de computador, me ensinaro a escreve nele, me apresentaro uma tar de internet e o tar de recanto, era na verdade um site.
-Um saite? Mas o que é esse tar de saite Zé?
-Então Maria, site é onde nóis navega numa rede!
-Vocês escrevia numa rede no meio das água, Zé?!
-Não muié, nóis navegava numa rede qui nem nóis fala por telefone, só qui é um mundo maior, onde nóis pode conhecer o mundo atravéis de um negocio que parece uma televisão.
-Eita Zé, mas que estranho isso home!
-No comecinho também achei Maria, mas fui me acomodano, as pessoa de lá me recebero muito bem, agente trocava poesia, conversava até altas hora da noite no msn, lá o povo num é qui nem nóis aqui não, lá o povo num dorme cedo, as vezes nem dorme, tudo por causa dessa interneti.
-Emiéssieni? Esse povo da cidade grande é tudo doido mesmo hein Zé.
-E num é Maria? Msn é que nem telefone também, mas nois num fala, nóis escreve, mas da pra fala também. O tempo foi passando e eu fui vivendo a vida deles Maria e uma das muié me apresentou uma tar de Web Cam!
-Ébi Cam? Mas que troço é esse, Zé?
-WEB CAM muié! É um aparelinho que permite nois vê outras pessoa nesse computador. Qui nem um telefone, só qui com image.
-Eita home, deve di ser bem bunita essa Èbi cam.
-E é Maria, mas tem que toma cuidado viu Maria, porque muitas muié da cidade se descuida, e tira a roupa na frente da tela, chega eu fiquei vremeio quando vi.
- Seu home safado!
-Calma Maria! Eu tapava os zói. Mas sabe Maria, as coisa foro ficando cada vez mais estranha.
-Como assim, me conta home?
-Comecei a percebe que tinha uns grupinho lá que gostava de fala mentira, no início eu pensei que fosse uma brincadeira, mas num era não, parece que na cidade grande, mentir é algo muito comum Maria. Eles inventaro um monte de coisa sobre eu, e tinha umas muié que tinha ciúme de mim só porque eu lia a poesia de outras muié. E percebi também, que tinha muito homem que só gostava de fala de sexo, só escreviam sobre isso e usando cada palavra Maria, que olha, Deus ta vendo!
-Eita home, mas que safadeza!
-Pois é, comecei a percebe que a minha poesia não estava me levando a lugar nenhum, Maria. Eu me senti preso numa jaula, viciado em uma coisa sem nenhum sentido muié. Eu comecei a dormi tarde e acordar tarde, engordei uns deis quilo… Me acomodei Maria, e mudei trancafiado naquele mundo onde ninguém se vê e ninguém diz a verdade.
-Como assim, Home?
-As pessoa num tava ali pra fazer poesia não, Maria. Muitas só queria arruma um namorado, isso sim, mas um namorado de internet, pois eles num querem nada que sja real, só querem mesmo é se esconder atrás de um computador e dizer um monte de mentira, arrumar confusão, sentir ciúmes de gente que nunca viro, inventar amor qui num existe e principalmente Maria, eles só queria fugir desse mundão, pois pareciam ter medo dele.
-Mas fugir desse mundo lindão, Zé?
-Pois num é? Pra quem se diz poeta, aquele povo tem uma visão bastante limitada sobre o mundo Maria, uma visão de 17 polegada e por isso, decidi que não quero mais ser poeta não Maria, a poesia pra mim agora é isso o que vivemos aqui, esse ar puro que nóis respira, esse nascer e por do sol que nóis vê todo dia… É o canto do nosso galo garnizé toda madrugada, é o cheiro de pão e do café fresquinho saindo pela chaminé, é o leite fresco da nossa mimosa e o melhor de tudo Maria, é poder desfrutar esse mundão com ocê muié. O mundo lá fora é grande muié, mas as pessoa de lá são tão pequenininha.

-Ai Zé, agora vai lá capina o mato que já tão tudo grande! 


Esse post em breve será apagado


Felipe (Don) Milianos
Enviado por Felipe (Don) Milianos em 17/07/2011
Reeditado em 23/07/2011
Código do texto: T3101707
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