O pivô da história

Lá estávamos nós, felizes e animados, no show do “Tio Crush”, uma hilária e fantástica banda que toca sucessos dos anos 80, quando algo absolutamente "micótico" aconteceu. "Micótico", nesse contexto, significa um “mico” imenso... daqueles de dar inveja a qualquer King Kong internacional. Reservamos a primeira mesa do bar, de frente para o palco. Estávamos em três casais curtindo a noite quando percebo, de rabo de olho, todos os meus amigos procurando pelo chão algo ainda desconhecido por mim. Aquilo estava um fervo só e eu, ao som de “Menor Abandonado”, pulava feito uma histérica no ritmo da bateria. Não dei muita importância para aquela estranha reação em massa e continuei cantando. Mas a coisa começou a tomar um volume maior do que o normal, a ponto das pessoas que estavam na mesa de trás e do lado começarem também a procurar algo, sem terem a mínima noção do que estava perdido. Meio sem graça abaixei até o ouvido do meu amigo David e perguntei: “David, o que você está procurando?”

Como resposta, obtive um prolongado silêncio. Achei estranhíssima a sua atitude e repeti a pergunta, dessa vez um pouco mais alta: “Daviiiiiid o que você está procurando?”

Ele nem olhou para mim, talvez por já conhecer a minha discrição nesses assuntos...

Pela última vez agarrei forte o braço dele e perguntei: “David, você quer fazer o favor de olhar pra mim e me falar que raio de coisa vocês estão procurando?”

Meu amigo, sem ter mais por onde correr, respondeu quase num sussurro: “Estamos procurando o dente do cara que está com você! Eu senti algo bater no meu joelho, mas quando fui pegar, sumiu...”

Eu quase enfartei com a trágica notícia. Meu Deus, que vergonha do Wartti!!! Até que eu estava conseguindo conter a minha crise de riso, mas quando ergui a cabeça e vi o Júlião procurando o pivô dentro da cumbuca de amendoim... ahhha aí eu não aguentei! Quase fiz xixi na calça de tanto rir... e o coitado do moço lá, sem o centro-avante e sem nenhum reserva para entrar em campo. Perguntei para Tarcila se, por acaso, ela tinha um Pletts para arrumar... mas nem isso! Todas as outras pessoas procuravam uma pedra de um suposto brinco da Cris, enquanto o “sexteto mical” procurava o dente foragido naquele miserê de iluminação. Eis, que por um milagre, o moço avista o “marfim” dando sopa, bem no meio do salão. Para disfarçar, ele foi imitando um passinho de dança chinfrim até o centro do bar e, numa volta típica do Elvis Presley, aproveitou para abaixar e agarrar o danado.

um tempo depois, através da reconstituição do mico, descobrimos que o pivô espirrou fora da boca quando o moço se entusiasmou num “ffff” meio puxado para o nordestino, enquanto contada uma piada para o David. Também... caso ele não encontrasse o centro-avante, seria só arrumar um chapéu de palha e botar na cabeça. Ninguém contestaria o disfarce de caipira, ainda mais estando no mês de Junho!!!

Mas ainda bem que tudo acabou na paz. Todo mundo contente, sorrindo e com “los dyentes”! O protagonista do mico me confidenciou, horas mais tarde, que nunca sentiu uma alegria tão grande como na hora do encontro com o seu próprio dente... foi quase uma sensação espiritual! O encontro de duas almas gêmeas! Nesse momento ele tratou de enfiar o pivô no bolso e correr atrás de uma farmácia aberta naquela hora da madrugada.

Você deve estar perguntando: “Para que uma farmácia?”

E eu repondo: “...para comprar um tubo de super bonder e colar o maldito do dente, uai...”

Depois de um tempinho, o namoro terminou. Mas não foi o bendito pivô o real motivo da separação. Até hoje, quando nos encontramos pelos "bailes da vida", rachamos de rir lembrando o estupendo mico.

Mas enfim, graças a Deus, entre dentes e perdidos, salvaram-se todos!!!