Karma, a Vidente Mitômana
- Pode entrar. Não me diga seu nome. Sente-se. Seu nome é Adalberto.
- Minha senhora, eu me chamo Carlos Marcos.
- Claro. Está aqui. Na bola de cristal. Estava mais para cá. O que é que o senhor gostaria de saber?
- Gostaria de saber se os juros extorsivos, os extrosivos, vão ser descontados. Juros a olhos vistos seguidos de impostos absolutamente extorsivos.
- Estou vendo o senhor aqui. Acabo de ver. Está carregando um carnê e está se aproximando um parente. Que é que eu posso fazer. Pedirá uma grana emprestada e ainda vai ficar alguns meses morando com o senhor. Está aqui.
- Como é que é? Isso é uma loucura.
- Uma loucura. É mesmo. Tudo mentirinha. Mentirinha. Conto mentirinha que é para relaxar. Todos os meus clientes me conhecem. Está aqui. Neste cantinho que mal dá pra ver.
- O que é que tem neste cantinho.
- O senhor vai ganhar na loteria amanhã e perder tudo depois de amanhã.
- Que coisa horrorosa! Quem vai me levar à sorte.
- Sua mulher. Ela vai implorar o divórcio. Vai rapar o seu cofrinho.
- Mas isso é uma desgraça!
- Tudo mentirinha. Meus clientes me conhecem. É só pra relaxar.
- Não tem nada de bom pra mim?
- Tem. Será convidado ao casamento da sua mulher com o seu chefe.
- Pelo amor de Deus, isso não é vidência é terrorismo mental.
- Tudo mentirinha. Falhou. A bola de cristal apagou, esqueci de pagar a conta de luz. Estou cobrando trezentos reais cada bolaço adivinhatório. À vista, sem cheque pré-datado. Cheque cruzado nem pensar.
- Trezentos reais! Isso é que é mentira.
- Mentirinha. É quatrocentos. Já está com desconto.