O SUICIDA DE GOROBIXABA (Aleixenko Oitavo)

O SUICIDA DE GOROBIXABA

Aconteceu em 1957. Apesar de em Gorobixaba não ter lógica. Lógico que aconteceu em Gorobixaba. Um gorobixabense, senhor bem apessoado, mais ou menos letrado, cursou primeiro ano primário; considerado velho, quando na verdade não tinha nem os vinte e sete completos. Atendia pelo nome de batismo: PINELENKO.

Um desgostoso da vida.

Quando criança era o saco de pancada da família, por dá cá aquela palha e ser o filho do meio, apanhava do irmão mais velho, por este ser mais forte, apanhava do irmão caçula, pois os caçulas sempre vencem os irmãos logo acima deles em idade, é de praxe. Levava taca do pai, mesmo que os erros, as traquinagens, as birras fossem praticadas pelo os outros irmãos; o mais velho corria e o caçula era o xodó do papai, não podia apanhar. Apanhava da mãe, já que esta protegia o caçula, o dodói da mamãe, e automaticamente descarregava a raiva sobre o boi sonso.

Quando adulto casou-se com uma mulher feia e safada, apesar de escolha sua, a PINELENKA. E esta era sua maldição. O estrupício punha chifres nele, mas não era só triscando não, era com gosto de gás.

O nosso amigo resolveu suicidar-se. Preparou e bebeu uma porção de: água, aldrim, limão, BHC, soda cáustica, ivomec, uma cachacinha, já que ninguém é de ferro, etc... E nada, morrer que era bom mesmo; nadica de nada. Vomitou tudo, e o que é pior passou vários dias naquele estado de morre não morre, estômago embrulhando, cabeça rodando, enfim uma ressaca das brabas, e não morreu. Ainda foi demitido do emprego.

Quem tenta uma tenta duas. Amarrou uma corda num galho de uma aboboreira, e nem assim. A corda arrebentou-se; o lucro foi um vergão daqueles bem ardidos no pescoço, e morrer? Neca de piti biriba.

Quem tenta duas, tenta três. A duras penas, com os minguados goxinhas que sobraram da roubalheira da esmilinguida PINELENKA, comprou um revólver, calibre 22, daqueles de dar tiros em namorada. Deu quatro tiros no ouvido, mas desgraceira pouca é bobagem, as balas simplesmente passaram direto, só rebentou os tímpanos, e o bocó somente ficou surdo como uma porteira. Mas morrer que era o objetivo inconteste, nem de longe.

Quem tenta três, tenta quatro. O PINELENKO pensou, pensou e chegou à conclusão que se esgotasse todo o sangue do corpo não tinha erro, era morte na certa. Cortou os pulsos, mas aquela dor dilacerante ele não agüentava, procurou um médico de imediato. E mais uma vez sofreu em vão, não morreu.

Quem tenta quatro, tenta quantas forem necessárias. E para a última tentativa de suicídio, o parvo resolveu inovar. Amolou um facão até o gume ficar cortando cabelo; preparou aquela beberagem, a mesma que o fez vomitar e deu aquela senhora ressaca; recarregou o revólver até completar o tambor, e ainda colocou no bolso umas cápsulas extras. Subiu um morro que ficava bem ali pertinho, caminhar dava-lhe canseira. Chegando ao topo do morro bebeu a infusão, com o facão cortou o pescoço, e, enquanto a cabeça rolava morro abaixo ele ia atirando nela, até descarregar a carga do revólver.

Se PINELENKO morreu não sei, mas até hoje é motivo de riso e chacota dos ouvintes desta anedota.

(maio/1988)

Por ALEIXENKO OITAVO, Primeiro Ministro de Gorobixaba

Corte de Gorobixaba
Enviado por Corte de Gorobixaba em 01/07/2011
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