O PALETÓ DE SEU VAVÁ

Naqueles dias que Seu Vavá ficou na capital, meu Tio me escalou de acompanhante do nosso “doutor”. O que fiz com prazer. Tantas vezes fui, quando criança, levado pra seu Vavá me passar algum medicamento. Além disso, adorava ouvir suas histórias e a humildade daquele ilustre conterrâneo.

Mas uma coisa me chamou a atenção. Saímos de casa muito cedo, andamos todo o centro da cidade a pé e na hora do almoço seu Vavá não tirou o velho paletó preto nem na hora de comer. O mesmo aconteceu quando chegamos à noite na casa do meu tio, Seu Vavá sentou-se à mesa, trajado qual tal esteve durante todo o dia. Pensei: “Deve ser promessa!”

Um pouco depois o meu tio o convidou para irem à casa de um conterrâneo nosso para jogar buraco. Eu os acompanhei. Enquanto eles jogavam em uma sala eu sentei-me lendo uma revista atrás da cadeira de seu Vavá e fiquei olhando ainda mais curioso. Ora, o calor era terrível e com aquele cigarro que não saia da boca deveria aumentar ainda mais a temperatura. Como ele suportava está vestido daquela forma?

Já tarde, não é que de repente Seu Vavá retira o paletó e eu surpreso descubro o motivo de tamanho rigor com o vestuário.

A camisa que o seu Vavá usava – já fininha de tão velha – tinha um rasgão, que ia do colarinho ao cós da calça!

Damísio Mangueira
Enviado por Damísio Mangueira em 31/05/2011
Código do texto: T3005887
Classificação de conteúdo: seguro