CARLOTA E MIRLETA

Numa cidadela bem distante da sua, vivia duas irmãs, numa casa cheia de coisinhas, que alguns chamam de bibelôs, outros chamam de bisqui (aquelas formas figurativas em miniaturas) e daí por diante.

Carlota e Mirleta tinham um pacto feito na juventude - aquela que encontrasse o homem amado teria a vida do futuro marido, vasculhada pela outra. Assim aconteceu, Mirleta, ao ver o caixeiro viajante, ficou perdidamente apaixonada por ele. O galanteador, como sempre, foi logo fazendo os agrados e falando coisas que toda mulher apaixonada, gosta de ouvir.

Marcão, o caixeiro viajante, vendo Mirleta como a mulher certa para ser a mãe de seus futuros filhos, indo mais além, a sua gansa dos ovos de ouro, foi logo tratando de pedi-la em casamento antes que outro a pedisse.

Mirleta ficou feliz, de boquiaberta, indo contar à irmã. Carlota, escutando tudo sem pestanejar, não se esqueceu de lembrar a irmã, do pacto feito entre elas. Sendo assim, Carlota foi à procura de informações sobre a vida pregressa de Marcão, nos arredores.

Enquanto Carlota dava uma de detetive, Mirleta estava nas nuvens com o preparo dos conformes para o casório. O enxoval estava pronto a anos, desde antes do falecimento de dona Cotinha, mãe de Carlota e Mirleta.

O pior de tudo foi que o dia do casamento estava próximo, e Carlota ainda não havia retornado das suas averiguações. Mirleta que não era de perder tempo, vendo chegar o grande dia, foi à casa de Candoca, sua vizinha de infância, para arrumar o cabelo, fazer as unhas e vestir-se para a tão desejada cerimônia. E nada de Carlota chegar!

Sem notícias da irmã, Mirleta foi à igreja, acompanhada pelo primo Joca, um safado daqueles, que vivia de olho nas pernas das primas, com a cabeça cheia de caraminholas, ou seja, de desejos levianos, safado. As primas confiavam tanto nele, que jamais perceberam no seu olhar, a maldade fulminar-lhe a mente.

Finalmente, Mirleta entrou na igreja, conduzida pelo primo, caminhando sobre o tapete vermelho, com o corredor crivado de flores de laranjeiras, com aquele aroma cítrico no ar. Carlota nem imaginava que a irmã fosse entrar na igreja, sem ela.

Longe dali, Carlota descobriu, de última hora, que seu futuro cunhado era amasiado com uma mulher bem mais velha que ele, mas que mesmo assim, conseguiu lhe dar cinco filhos. Foi uma ex mulher de Marcão que passou esta informação à Carlota, que saiu atordoada, sem saber o que fazer para impedir o casamento do pilantra com sua irmã.

A maratona foi grande, pois enquanto Mirleta casou, festejou e foi para a lua de mel, Carlota voltava às pressas, na esperança de impedir o casamento da irmã, sem imaginar que ela casasse sem a sua presença.

Chegando a sua casa, Carlota não acreditou no que estava escrito num bilhete, endereçado à ela:

“Querida irmã, sabes que te amo muito, mas como você estava demorando e o dia de meu casamento se aproximando, eu não poderia deixar o Marcão plantado no altar, me esperando enquanto eu esperava por você. Perdoe-me e me entenda, esta era minha grande chance. Sabe-se la Deus, se esta não é minha última oportunidade. Veja o seu caso, há quanto você espera por um pretendente? Eu é que não vou perder tempo e correr o risco de morrer enferrujada que nem fechadura velha. Estou indo para a igreja... O Marcão me espera. Beijo!"

Carlota, de boquiaberta, apavorada, correu até o hotel e foi logo batendo na porta, falando aos gritos:

__ Mirleta! Mirleta! Se não meteste, não meta!

Mirleta, eufórica, do lado de dentro do quarto respondeu:

__ Carlota! Carlota! Chegaste tarde... Deixe eu ser feliz, andar divinamente na cidade onde eu nasci!

Bruxa da Mata
Enviado por Bruxa da Mata em 31/05/2011
Código do texto: T3005854
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