O CAIPIRA EXPLICANDO AO FILHO COMO FOI QUE ELE NASCEU

Quinzinho contando mais um causo:

Eu tava lá na Serra do Tigre acerando uma cerca com o Zé Piriquito, quando chegô o fio dele o Currupio trazeno a bóia pra nois. Esse minino era daqueles minino abiúdo, inxirido, pra diente, que entrava na cunversa dos mais véio...

Nois fumo boiá, e ele sentô lá perto de nois, isperando nois cabá de cumê, mode levá as vazia pra trais. Uma hora ele priguntô ao pai dele:

-Pai, cumé que foi que eu nasci?

O Zé Piriquito inté imbuchô, tussiu, tussiu e saiu cum essa:

-Ah fio, eu mais sua mãe achemo ocê dento dum pé de cove...

Aí ele priguntô:

-E o Zezinho pai, cumé que foi quele nasceu?

-Eu mais sua mãe achemo ele dento dum pé de arfarce...

-E a Mariazinha, pai, cumé quela nasceu?

-Nois achemo ela dento duma cabeça de repôio...

Nois cabemo de cumê ele foi imbora cum as vazia, saiu cum a cara mais safada do mundo. Eu falei cum Zé Piriquito:

-O Currupio num querditô muinto nessa históra sua não...

Ele respondeu:

-Ah, esse minino é curioso dimais...

De noite, eles tava durmino, o Currupio acordô cum sede, acendeu a lamparina e foi lá na cuzinha bebê água. Saiu lumiano cum a lamparina e passô perto do quarto dos pai dele. Essas casa de pobre na roça nem porta tem nos quarto. Ele iscuitô umas funguera, uns gimido, uns bufado, baruio de cama chacuaiano... Ele ficô curioso mode vê o que tava acunteceno, lumiô la dento do quarto e o pai dele tava rosetano a mãe dele, eh, eh, eh...

Ele viu aquela narquia toda e falô bem arto:

-Aí, pai, tá chegano o adubo na horta né?

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