Rente como pão quente elas chegam  todo dia  para mim, via e-mail.

São enviadas de todas as partes do país e do mundo por pessoas de boa fé que, realmente, crêem nelas ou por gozadores que só querem mesmo me encher o saco e atulhar minha já entulhada caixa de mails.

Naturalmente todos esperam que eu seja feliz, sem perceber que eu seria muito mais venturosa se pudesse ocupar o meu tempo com coisas úteis,como escrevinhar essas mal traçadas.

Geralmente me mandam tirar nove cópias e enviá-las a nove desafortunados como eu que provavelmente vão ficar mais desafortunados ainda quando receberem , graças ás energias negativas que os envolverão depois que disserem o nome da minha mãe e outros palavrões  ainda mais cabeludos.

Diz o mandante que depois de nove dias receberei uma agradável surpresa e muitas graças, algumas provavelmente sem graça nenhuma como a execução de uma letra bancária não paga ou a visita da minha sogra.

O desocupado que inventou essa corrente foi o capitão de cavalaria Joaquim Eulálio Rapozinho de Albuquerque,natural de S. Freixo d’Espada á Cinta,em Portugal,nos idos de 1937 e não me digam que foi mera coincidência ele se chamar Joaquim e ser português,porque isso não seria coincidência e, sim, premonição.Provavelmente fez isso para se vingar dos brasileiros que contavam piada de português, pois, pois.

Diz-se que essa corrente não pode ser interrompida sob pena de trazer grandes chateações para o interrompante, tais como dar caspa no periquito ou pisar em jasmim de cachorro durante seu passeio matinal.

Quanto ás graças recebidas são muitas dizem,desde acertar na mega-sena  até ser atropelado por um táxi como aquele gari que , em vez de morrer,apenas quebrou as pernas e a clavícula e todas as pessoas que o visitaram no hospital, inclusive o que postou a dita corrente, disseram que ele teve muita sorte.

Já outra senhora tão logo acabou de enviar por cópia oculta as nove correntes percebeu que o marido que lhe maltratava muito e até lhe batia teve um infarto fulminante.Isso e mais a pensão polpuda que ele lhe deixou causou-lhe muita alegria.

Um velho salafrário que adorava dar “espeto”em restaurantes de luxo e até já tinha comido cana devido a essas preferências,teve a sorte de ,depois de comer á tripa forra num hotel chic em Copacabana, lhe cair uma mosca no prato.Claro que protestou aos berros, chamando a atenção dos ricos freqüentadores,enquanto o maitre todo cheio de dedos lhe disse que não precisava pagar nada e saísse de mansinho.Nunca uma lagosta ao Thermidor lhe caiu tão bem, ele disse,enquanto postava mais nove cópias de uma corrente recém enviada.

Viu? É por essas e outras que os meus queridos amigos bondosos  continuam me enviando todo dia dezenas de corrente para me trazer felicidade, mas,pecadora empedernida como sou, deleto todas, sem permitir, sequer, que repousem na lixeira.

Acho que é por isso que não ganhei o Prêmio Jabuti.

 

Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 24/05/2011
Código do texto: T2989882
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