A ditadura

A humanidade, ao longo da sua história, sintetizou suas fases de evolução e progresso, sempre dentro dos parâmetros do conhecimento intelectual dos homens, que gradativamente fizeram as mudanças necessárias ao avanço da civilização.

Dentro desse conceito, a sabedoria e o conhecimento, sempre foram atributos da mente humana, aonde cada civilização deixou seu legado junto a sua história e o seu tempo.

Foi meditando sobre isso que eu virei a segunda página do meu jornal, que habitualmente folheava à sombra de uma figueira,na mesma praça dos outros tempos. O banquinho de madeira, no qual eu me sentara, estava pichado e rabiscado , provavelmente por um estilete, tão comum à desordem dos jovens de hoje.

O dia era calmo, uma rolinha voava com cisco na boca, fazendo seu ninho e nem se importando com o movimento das pessoas, que iam e vinham na correria do dia a dia.

A praça agora tinha um busto de bronze, inaugurado por um prefeito recém eleito, que mostrava seu patriotismo erguendo figuras como se uma ágora ainda vivesse nos nossos tempos...pura ilusão.

Os pensadores se foram assim como a credibilidade dos políticos.

Bem, eu lia a página que me interessava, quando ouvi um silvo breve. Um apito, provavelmente de um guarda de trânsito.

Olhei para a rua e o movimento de pessoas na calçada mostrava que algo estava acontecendo.

Era um nave espacial, que acabara de aterrissar e o homem azul descia em uma escada de alumínio, acenando para o povo, sendo seguido pelo neguinho da favela, que usava óculos escuros e seu fuzil AK-47 a tira-colo.

Um tradicional frio me desceu pela espinha, mostrando que novamente algo inusitado estava por vir.

Eles me viram e vieram em minha direção. O garoto tinha um gato de estimação com coleira e corrente, que disse ter ganho de um egipcio. Que o animal era sagrado e que tratava com ração especial pro bicho.

O homem azul, me disse que precisávamos ir rapidamente ao seu planeta, ao planeta azul, pra participar de uma convenção dos planetas unidos, uma espécie de ONU de lá.

Disse que havia uma preocupação com os demais planetas integrantes da cúpula, devido ao rumor de que tropas dissidentes (uma espécie de terroristas inter galáticos) tinha planos de infiltrar integrantes do grupo no Brasil e organizar um movimento de invasão, pra invadir e tomar o país.

Eu relutei e disse que isso era impossível, que ninguém ia se interessar por isso aqui. já tá bagunçado demais. É querer se incomodar.....

Mas o homem azul me olhou com seriedade. Isso me fez mudar de idéia e acabamos embarcando. Compramos pacotes de pipoca doce pra viagem e alguns frascos de sucos de laranja, de vendedores que se acotovelavam junto ao disco voador.

A nave chamava a atençao pela imponência e pela côr azul da fuselagem.

Decolamos, chegamos ao espaço em segundos e vi que a terra era azul, como disse yuri gagarin.

Chegamo ao planeta azul. Um lugar e tanto. A natureza preservada,índice zero de analfabetismo, zero de violência. Um exemplo a ser seguido por toda via láctea....

Chegamos a um local de pouso. Fomos recebidos por uma comitiva de gente azul, que nos recebeu em nome da embaixada do planeta e disse que deveríamos ir rapidamente a sede das "planetas e nações unidas"

Fomos a bordo de uma espécie de aero-bus, mistura de ônibus com nave.

Sentado confortavelmente, eu conversava com o homem azul sobre a sobriedade do povo azul do planeta e da beleza natural do país e dos avanços tecnológicos e obviamente perguntava sobre a preocupação deles com nosso modesto país.

Ele apenas sorriu e disse que acabamos de chegar ao congresso.

O prédio era altíssimo, todo branco. Bandeiras que eu nunca vi tremulavam em altos mastros de cor azul, enfileiradas uma ao lado da outra.

Subimos por uma porta lateral. O elevador nos levou a um corredor que dava acesso a um imenso espaço, aonde centenas de pessoas sentadas debatiam e um idioma desconhecido.

Fomos convidados a sentar e um aparato nos foi oferecido, pra ser colocado junto a orelha esquerda , que percebemos ser um tradutor simultâneo. O neguinho da favela tirou seu celular e colocou o fio do aparelho sorrindo com a novidade. Ele tinha deixado seu fuzil na nave, pois era proibido portar armas de fogo na cidade.

O papo era o seguinte. Um ministro das relações exteriores alertava sobre o comportamento dos brasileiros.

Havia uma informação de que terroristas haviam se infiltrado nas fileiras políticas do nosso país e que deveríamos agir imediatamente pra que eles fossem identificados e presos, antes que manchassem a integridade das instituições daquele país. O neguinho começou a rir e eu acreditei na seriedade do ministro.

Então o homem azul se levantou e me disse ao ouvido, pra que eu anotasse tudo o que ouvisse aqui e escrevesse depois para as pessoas lerem.

ELe se dirigiu a tribuana, pediu a palavra e a teve de imediato.

Disse,que tinha tomado providências e que os agentes já tinha organizado um contra ofensiva, que se disfarçaram e tomaram formas humanas, pra ganhar tempo e se infiltrar nas forças armadas com altos cargos pra prender e expulsar essa "gente do país"

Eu fiquei atônito. Militares? ditadura? que é isso? estamos num período democrático......

Então algo aconteceu. Uma fileira de antigos generais tomaram forma diante dele, e caminharam em fila indiana em direçaõ a porta de saida. Identifiquei geisel, Médice e Gaspar Dutra, por último Fiqueiredo, que falava baixinho com Getúlio, que tomava chimarrão e acendia um grande charuto.

Meu Deus, pensei. Começou tudo de novo.

Getulio subiu a tribuna e disse que seu discurso seria de improviso.

Disse que tnha recebido um dossiê com dois milhões de assinaturas(um abaixo assinado) pedindo a volta do regime militar.

Falou que pessoas honestas e trabalhadoras estavam cansadas de ver tanta impunidade e que a liberdade sem limites dos jovens estava formando delinquentes formados por um estado arcáico, junto a um sistema penal podre e ultrapassado.

Ele ajeitava um lenço vermelho no pescoço quando os aplausos o fizeram parar de falar.

Voltei a nave pensativo.

Fui o tempo todo tomado de tristeza, por ver meu país chegar a esse ponto, de terem que seres de outro planeta se preocupando com uma situação social sem precedentes, aonde o futuro do país passa por uma triste fase de desajuste.

Será que vai ser mesmo preciso eles voltarem?

Voltei a minha pracinha preocupado. Será?

A mesma rolinha que voava com cisco no bico estava sentada num galho seco de um árvore morta. Talvez solidária aos meus pensamentos, relacionados ao futuro do meu país.

Max.

O colecionador de frases
Enviado por O colecionador de frases em 22/05/2011
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