O CHARLATÃO E O OVO DE PATA

Lá ia Seu Vavá com o seu velho e surrado paletó de listas. Cabelos em desalinhos e bigode amarelo citrino em decorrência da nicotina. Viajava no velho Jipe 64, talvez o único a passar naquelas estradas tortuosas da Serra das Capoeiras. Por isso, identificado à distância pelos poucos moradores daquele recanto do Município. Seu Vavá cumulava a atividade de político com a de médico prático, com fama em todo o alto sertão e até em lugares distantes que vinham atraídos pelas histórias de curas do velho charlatão.

Naquele dia fizera o percurso com dificuldades por problemas mecânicos no seu veículo, chegando a casa de Zé Mangabeira - o seu primeiro paciente do dia - por volta das onze e meia. O velho curandeiro ainda estava em jejum. Maricô (esposa de seu Zé) foi receber a visita ilustre no terreiro e já foi tratando do problema de saúde de Zé que há dias estava com uma tosse de estalo e amorrinhado, sempre ao cair da tarde. Seu Vavá auscultou o paciente como de praxe e numa folha de caderno prescreveu algumas fórmulas e garantiu de que era bater e valer.

Maricô o convidou para sentar-se à mesa e já foi pedindo desculpas pela falta de "mistura" e dizendo que não esperava receber visita tão ilustre naquele dia. Mas avisa que só faltava ele e o marido pra almoçar. Já passado de fome, Seu Vavá senta-se a mesa com Zé Mangabeira , constatando que de fato estava meio fraco o “rango”. Ao colocar os pratos Maricô pergunta:

-“ Seu Vavá será se faz mal Zé comer ovo de pata?”

Seu Vavá olhando para o único exemplar deste, partido em duas bandas, sobre a mesa. Responde rápido:

-“ É UM PERIGO... PODE ATÉ MORRER!!!!!”

Damísio Mangueira
Enviado por Damísio Mangueira em 21/05/2011
Reeditado em 23/05/2011
Código do texto: T2984813
Classificação de conteúdo: seguro