Meu sonho

 

 

                               Perguntei ao músico sobre a musicalidade da nossa sociedade e ele, solícito, agradável e com um sorriso nos lábios, respondeu-me: - som agudo, semitonado, falta de harmonia e melodia e, o pior, um timbre feio e duro para  se ouvir.

                           Espantado, fiz a mesma pergunta ao  gramático,  que logo  disparou:   -  muito anacoluto, nenhuma concordância, muito menos boa  sintaxe , semântica pobre, e o pior: uso abusivo do gerúndio.

                         Já, agora,  deveras  preocupado, recorro  ao médico para saber sobre a saúde, veio a resposta rápida: -  obesidade mórbida, sedentarismo,  entupimento das artérias, mal funcionamento dos intestinos e, o pior, nenhuma medida preventiva .

                        Desesperado, pensando, lógico,  em algum tipo de salvação, mergulho nos livros dos poetas, meu refúgio natural.  Nada. Nenhuma esperança.

                       Durmo angustiado e sonho com o nosso Quintana. Aproveito e pergunto  sobre nossa sociedade. O poeta desconversa, me conta um montão de estórias, fala do Rio Grande, da Bruna Lombardi, conta piadas e me diz para não me preocupar com essas bobagens. Insisto. O poeta, então, com aquele seu jeitinho pra encerrar a conversa: “tá, tá, tá... por enquanto, amigo, a coisa vai só piorar.”   – O que faço, então, poeta?  - Distraia-se com a poesia, o que mais poderia recomendar?  Faça sonetos! Mas por favor, um pedido especial, vou repetir o que já disse quando vivo..  – Pode falar, meu poeta!  - Não me mostre os teus sonetos, tá?