EU NÃO SOU SACI

( O titulo poderia ser também, Meus Amores da Internet)

Em dezembro de 2008, um dia de mau humor em relação às mulheres, escrevi nesse Recanto um texto intitulado “Não existem mais mulheres interessantes”.

Apesar de nunca ter excluído esse texto da minha escrivaninha, no dia seguinte eu já estava arrependido de tê-lo escrito.

Não é que não tenha mais mulheres interessantes, elas sempre existiram, acontece que toda mulher nessa condição é comprometida. Sempre um esperto chega antes, e eu sempre atrasado.

Conheci recentemente uma mulher fantástica, inteligente, espirituosa, incrível. Foi amor a primeira vista.

Papo vai, papo vem, descubro que ela esta há anos perdidamente apaixonada por um gauchão da fronteira, lindo de viver como ela diz. O homem usa bombachas, lenço vermelho no pescoço, bota de cano longo, chapeuzinho de aba curta, aquela faquinha na cintura muito útil quando vai a churrascarias, e ainda por cima (dela não de mim) toca na sua sanfoninha um Vanerão de fronteira como ninguém.

Estou sem a mínima chance somente com minha calça jeans e camiseta.

Outra mulher maravilhosa que conheço já há mais tempo, é inteligente, escreve maravilhosamente bem, alegre, tem um senso de humor delicioso, pelas fotos uma mulher deslumbrante, mas infelizmente perdidamente apaixonada por um dançarino de tango argentino, que por incrível que pareça faz shows para turistas em Salvador na Bahia.

Meu Deus, na Bahia? Fazer show de tango para turista em Salvador. O que tem a ver? Para mim ela esta sendo enganada, esse cara é falso, deve com certeza ser um argentino paraguaio. Enfim, Clarinha não é para o meu bico. Talvez se eu aprendesse a dançar tango e fosse para a ilha do Bananal em alguma aldeia Krahô-Kanela me apresentar para turistas dançando Por una Cabeza, como Al Pacino no filme Perfume de Mulher, quem sabe eu teria alguma chance com ela.

E por ultimo a linda Angélica, eu não posso ver a foto dessa mulher ela me deixa louco de paixão, e paixão é o que ela sente por um toureiro boliviano que se apresenta em arenas mexicanas.

Aí brincou!

Concorrer com toureiro é impossível até pro Gianechinni. Frank Sinatra perdeu Ava Gardner, o grande amor da sua vida para um toureiro.

O cara veste aquela roupa linda, a capa curtinha para dar destaque aquela bundinha empinada que mulherada ama e belisca, e o olhar então de matador que faz para o bicho oponente, os movimentos com a capa driblando o touro ouvindo a platéia gritar olé. Só de pensar até eu estou ficando emocionado, imagine a mulherada.

E depois na minha idade jamais conseguirei ter uma bundinha empinada de toureiro, posso ir para a academia e malhar os próximos 100 anos que não tem mais jeito.

Tigrão, filho de uma ex-empregada que trabalhou por muitos anos em casa, já falecida, outro dia me ligou.

Pois é... O grande Tigrão hoje é traveco, depois da morte da mãe resolveu sair do armário e assumir. Seu nome agora é Luana e faz michê na Rua Augusta com a Alameda Santos, ponto nobre de São Paulo, segundo ele, conhece um monte de gente famosa, inclusive jogadores de futebol, pessoas que jamais imaginaríamos são amigas íntimas do Tigrão.

Luana, como Tigrão gosta agora de ser chamado, ficou sabendo do problema que eu estava com a minha bunda, e como especialista na matéria em um telefonema muito gentil tentou me convencer a aplicar silicone como solução.

- Meu fofo você vai ficar com a bundinha de toureiro mais linda do Brasil (Brasil? Eu queria da Espanha), a aplicação é muito simples.

- Tigrão, não sei não, esse negocio de injeção de silicone me parece dolorido pra burro, o liquido é muito denso, eu não vou entrar nessa não.

- Calma seu bobinho, se estou falando que não dói, é porque não dói, a minha amiguinha vai aplicar em você.

- Amiguinha que amiguinha???

- A Devaneio ela vai fazer a aplicação, tem mãos de fada.

- To fora Tigrão, esquece esse assunto.

Tigrão insiste:

- Imagina você meu lindo vestido com aquela roupa divina de toureiro numa arena quantas mulheres cairiam aos seus pés.

Foi uma covardia emocional que o Tigrão fez comigo, não resisti e já me imaginei numa arena toureando um animal feroz, com aquela roupa brilhante de toureiro, com a bundinha siliconada empinada, e as mulheres enlouquecidas gritando meu nome. Daria aquela parada estratégica que todo toureiro da durante a tourada para prolongar o sofrimento do touro, tiraria da cabeça aquele chapeuzinho esquisito, e levaria a alguma bela dama da platéia uma rosa vermelha. Só de pensar eu fico todo arrepiado.

Numa arena provavelmente cabem 15 mil pessoas, a metade é do sexo feminino, são7 mil e 500 mulheres, dessas se eu conseguir conquistar 1%, são 75 mulheres em um único dia, meu Deus, são 75 vezes o numero de mulheres que eu tive em toda a minha vida.

Bem... Se para realizar esse sonho eu vou ter que aplicar silicone no bumbum, ainda que pelas mãos mágicas da singela Devaneio, pode parar, termina aqui meu desejo de me tornar um toureiro.

Não tem nada não... Minha querida amiga, aquela apaixonada pelo gauchão da fronteira, me consolou outro dia dizendo para eu ter calma, que para cada pé tem um chinelo.

Ela tem toda razão, e como não sou Saci vou continuar esperando meu par.

Escrevi esse texto inspirado na obra magnífica da grande escritora Amélia Bedelia desse Recanto, e de tantos outros espaços por onde seus textos circulam.

Amélia escreve do humor mais refinado ao debochado até o drama mais contundente, explorando com um talento infinito a beleza das emoções humanas.

Duda Menfer
Enviado por Duda Menfer em 13/05/2011
Reeditado em 12/05/2017
Código do texto: T2968315
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