Ganhei um GPS
Eu não sou muito bom prá essas coisas que envolvem datas.
Bodas, batizados e casamentos passam sempre desapercebidos. Todos os anos, esqueço do meu próprio aniversário.
Mas, de verdade, nada incomoda mais do que o abstrato senso de localização espacial que carrego comigo. Qualquer lugar que eu vá, se for diferente do rotineiro, não há como chegar sem confundir o caminho, passar pelo destino uma dezena de vezes e, invariavelmente parar algum transeunte prá perguntar onde estou e como vou. Me dá sempre a impressão de que tiraram algumas ruas do lugar, como se fora uma dessas “pegadinhas” da televisão.
Quando tenho a certeza de que estou quase chegando no local destinado mas, a paisagem está completamente diferente, só consigo trazer à mente lembranças do meu amigo e professor Meneguetti, certo de que, em situações similares, ele apenas desfilaria, sem pestanejar, um rosário de ácidos vernáculos, da forma mais suave, sonora e eficiente que alguém poderia dizer.
Mas, eis que finalmente, minha esposa, vítima de tantas idas e vindas, de uma forma sutil, me presentou com um GPS, dizendo que meus problemas tinham acabado.
Eles começaram a acontecer, percebi depois.
Era só ler o manual, ela dizia. -Vai ver que ela sabe falar chinês !!!
Na verdade, ler manual é a pior das torturas. Primeiro, você tem que tentar entender o que está escrito numa folha de papel, onde todas as palavras são verdadeiros hieróglifos !!!!
Letras míudas em chinês, alemão, holandês, sueco, japonês ... nada inteligível.
Tentando evocar fluidos inspirativos do famoso pesquisador francês, Jean François Champollion, passei a mão na minha “pedra de roseta” , transformada em pequena folha de papel e tratei de tentar decifrá-la. Não consegui entender uma palavra sequer.
Como todo mundo, achei mais fácil dar umas voltas por aí e fazer alguns testes com o aparelho ligado.
Apertei alguns botões e, imaginei que tinha programado o treco prá me levar até uma cidade próxima, a alguns quilometros.
Tudo bem que achei estranho ele mostrar no painel que eu tinha mais 4.253 quilometros a percorrer mas ...
Depois de rodar alguns quilômetros, entrar e sair por ruas estranhíssimas, fui parado numa viela deserta e sem saída, por um negão, com um cordão reluzente no pescoço e cara de poucos amigos.
Ele só dizia : - “ perdeu..., perdeu..., perdeu..., perdeu ... ” .
E eu, diante de tal testemunho, concordava com ele que realmente tinha me perdido.
O cara me mandava sair do carro e eu, agradecendo a gentileza, pedia apenas que ele me dissesse como sair dali. Eu só queria voltar prá casa.
Quando ele me puxou prá fora foi que eu entendi o que estava acontecendo.
O negão pulou prá dentro e me deixou lá, sem lenço e sem documento, "catando papel na ventania".
Passado alguns minutos, sentado no meio fio, pensando o que iria fazer, percebo que o meu carro estava voltando e, de dentro dele saiu o negão muito esbaforido com algo na mão dizendo : - “Segura esse troço aí que é coisa do inferno. Já tive um que me meteu em cada uma !!!! “. E foi embora, cantando pneus !!!
Baixei os olhos, olhei bem para o troço a que ele se referia e sem querer apertei um dos seus muitos botões : A voz de Ana Maria, saiu forte, vibrante e autoritária : - “ Siga mais 4.187 quilômetros.”
Lembrei-me do Meneguetti novamente ...
Bodas, batizados e casamentos passam sempre desapercebidos. Todos os anos, esqueço do meu próprio aniversário.
Mas, de verdade, nada incomoda mais do que o abstrato senso de localização espacial que carrego comigo. Qualquer lugar que eu vá, se for diferente do rotineiro, não há como chegar sem confundir o caminho, passar pelo destino uma dezena de vezes e, invariavelmente parar algum transeunte prá perguntar onde estou e como vou. Me dá sempre a impressão de que tiraram algumas ruas do lugar, como se fora uma dessas “pegadinhas” da televisão.
Quando tenho a certeza de que estou quase chegando no local destinado mas, a paisagem está completamente diferente, só consigo trazer à mente lembranças do meu amigo e professor Meneguetti, certo de que, em situações similares, ele apenas desfilaria, sem pestanejar, um rosário de ácidos vernáculos, da forma mais suave, sonora e eficiente que alguém poderia dizer.
Mas, eis que finalmente, minha esposa, vítima de tantas idas e vindas, de uma forma sutil, me presentou com um GPS, dizendo que meus problemas tinham acabado.
Eles começaram a acontecer, percebi depois.
Era só ler o manual, ela dizia. -Vai ver que ela sabe falar chinês !!!
Na verdade, ler manual é a pior das torturas. Primeiro, você tem que tentar entender o que está escrito numa folha de papel, onde todas as palavras são verdadeiros hieróglifos !!!!
Letras míudas em chinês, alemão, holandês, sueco, japonês ... nada inteligível.
Tentando evocar fluidos inspirativos do famoso pesquisador francês, Jean François Champollion, passei a mão na minha “pedra de roseta” , transformada em pequena folha de papel e tratei de tentar decifrá-la. Não consegui entender uma palavra sequer.
Como todo mundo, achei mais fácil dar umas voltas por aí e fazer alguns testes com o aparelho ligado.
Apertei alguns botões e, imaginei que tinha programado o treco prá me levar até uma cidade próxima, a alguns quilometros.
Tudo bem que achei estranho ele mostrar no painel que eu tinha mais 4.253 quilometros a percorrer mas ...
Depois de rodar alguns quilômetros, entrar e sair por ruas estranhíssimas, fui parado numa viela deserta e sem saída, por um negão, com um cordão reluzente no pescoço e cara de poucos amigos.
Ele só dizia : - “ perdeu..., perdeu..., perdeu..., perdeu ... ” .
E eu, diante de tal testemunho, concordava com ele que realmente tinha me perdido.
O cara me mandava sair do carro e eu, agradecendo a gentileza, pedia apenas que ele me dissesse como sair dali. Eu só queria voltar prá casa.
Quando ele me puxou prá fora foi que eu entendi o que estava acontecendo.
O negão pulou prá dentro e me deixou lá, sem lenço e sem documento, "catando papel na ventania".
Passado alguns minutos, sentado no meio fio, pensando o que iria fazer, percebo que o meu carro estava voltando e, de dentro dele saiu o negão muito esbaforido com algo na mão dizendo : - “Segura esse troço aí que é coisa do inferno. Já tive um que me meteu em cada uma !!!! “. E foi embora, cantando pneus !!!
Baixei os olhos, olhei bem para o troço a que ele se referia e sem querer apertei um dos seus muitos botões : A voz de Ana Maria, saiu forte, vibrante e autoritária : - “ Siga mais 4.187 quilômetros.”
Lembrei-me do Meneguetti novamente ...