O Elevador
 
Achei que dava prá ir ao banheiro quando chegasse no escritório mas, estava desconfiado de que não ia dar certo.
O elevador estava cheio demais e, pelo jeito, ia parar em todos os andares.
Primeiro, esperei um tempão que ele chegasse até o térreo, prá depois, disputar uma vaga com todos os idosos da cidade. Eles entram na sua frente, dizendo que têm prioridade.
Espremido, num canto, consegui um lugar na geringonça. Uma mulher gorda, de mãos dadas com um baixinho careca que mais parecia um troféu, respirava no meu cangote, enquanto eu só conseguia dizer uuuuiii ..., lembrando que realmente deveria ter ido ao banheiro !!!
Um negão, de terno bege, com uma gravata vermelha e preta, escrito bem grande “ comigo é créu ”, fazia um barulhão e se sentia à vontade e orgulhoso falando alto no seu “ nequistéu ”.
E eu precisava me aliviar !!!
Tentando tirar o problema da mente, levei o pensamento pra Madre Teresa de Calcutá, o Corcovado, praia de Camboinhas, Niterói, ... um banheiro !!!
Era só o que eu queria ... um banheiro ..., que nem precisava ser tão limpo assim.
No desespero, prá aliviar a cólica infernal e, tentando manter a minha dignidade, achei que podia soltar um pumzinho ... baixinho, sussurrante, anônimo, que ninguém ia perceber.
Naquele momento, o elevador deu uma travada e a dignidade foi pro brejo !!!
Alguém passou a mão no telefone e implorava, baixinho, que o socorro viesse o mais rápido possível porque tinha um cara lá dentro, talvez um terrorista, transportando alguma substância que poderia matar a todos.
Eu, no espaço vip que me fora agora reservado, acreditava que só um tsunami, de grandes proporções, poderia mudar aquela situação, porque o resto já tinha acontecido.
Lá fora, a estória do terrorista tomou magnitude. Chamaram rádio e televisão ... e, a notícia era de que um homem bomba, ligado àqueles loucos lá do oriente, mantinha todos no elevador como reféns e estava com substâncias perigosas e letais, disposto a destruir todo o prédio.
Eu, já mais conformado com tudo, aguardava quietinho, esperando alguém, misericordioso, que pudesse me livrar daquela enrascada.
Finalmente, mais de uma hora depois, a porta se abriu e, diante da polícia, televisão, jornais e curiosos, todos se jogaram lá prá fora. Uma velhinha, a última a sair, entendendo tudo, passou por mim e com um olhar gelado falou : “desaforado” !!!
Levantando, andando com dificuldades, ajeitando a gravata, diante de tantas perguntas e olhares desconfiados, empurrando os microfones para o lado, exclamei, já meio sem paciência : “ - Bomba droga nenhuma ... estou é todo cagado ” !!!
 
Germano Ribeiro
Enviado por Germano Ribeiro em 06/05/2011
Reeditado em 27/08/2011
Código do texto: T2953299