Viagem de ônibus
Essas histórias aconteceram há muito. Não sei se é só comigo. E não sei mais a ordem cronológica, mas isso não importa. Lá vai:
A primeira:
Um dia eu estava em um ônibus.
Aí, entraram dois homens, acho que com mais de 60. Estavam meio chapados. Sentaram e começaram a falar alto.
Falavam, falavam, falavam, gesticulavam, riam, riam, riam.
Até que um deles começou a tossir. E alto.
Era COF, COF, COF, GRAAAA, GGGROOOOOOO! (aquele barulinho de secreção no peito, sabe?)
O outro dizia, amparando o amigo:
- Tosse, tosse, pode tossir...
???
E o outro só COF, COF, COF, GRAAAA, GGGROOOOOOO em pleno ônibus cheio de passageiros. Ô situação...
A apoteose daquela pitorescagem (será que essa palavra existe?) foi quando a dentadura do homem caiu e foi se arrastando por baixo dos bancos. O amigo do agora sem-dentes demonstrou todo o valor de sua amizade:
- Deixa que eu pego. Disse ele, e saiu engatinhando e se arrastando por baixo dos bancos, até que pegou a dentadura fujona e suja.
Com o prêmio em mãos, entregou para o amigo:
- Toma.
Isso é que é amigo, não é?
O outro pegou a chapa e, evidente, num único gesto, colocou-a na boca.
- Obrigado, mano.
Simples assim.
Era gente de tudo quanto é lado sentindo nojo. Vi uma senhora virar o rosto e fazer uma careta que eu mesmo queria fazer. Acho que saímos ilesos.
FIM
A segunda:
Estava eu em outro ônibus.
De repente, uma senhora com uns seus quarenta e tantos anos, cheia do "mé", quis entrar pela porta da saída, sem pagar.
O motorista não deixou.
- Deixa eu entrar!
- Só lá por trás!
- Eu quero por aqui!
- Não!
- Eu vou subir!
- Não!
- EU VOU ENTRAR POR AQUIIIIII!
- NÃÃÃÃÃÃO!
Como se viu que aquilo iria demorar, os passageiros começaram a gritar:
- MOTORA, DEIXA ELA ENTRAR LOGO POR AÍ, "VAMBORA"!
Pinguça a bordo, seguimos.
Mais adiante, uma outra senhora, desta vez sóbria, entrou... e uma fila de meninos, uma escadinha de uns seis degraus.
- Vai entrando, vai entrando que eu vou lá por trás! Dizia a mãe.
E tome a entrar menino.
- Fulanoooo, segura o cicrano pra ele não cair! Segura, menino. SEGURA DIREITO! Ela dizia para o mais velho em relação ao mais novo.
Meninos a bordo, vem a mãe lá de trás:
- FULANO, SEGURA O TEU IRMÃO! JÁ PENSOU SE ESSE ÔNIBUS DÁ UMA FREADA E ESSE MENINO VAI DIRETO PRO VIDRO DA FRENTE?
O frágil Fulano tinha que segurar o mais frágil Cicrano. De repente, UMA FREADA!
Blam, blam, blam, BLAAAAAAAM-PAFT!
Ô boca de mãe: lá estava o Cicraninho todo jogado no párabrisa. Felizmente não se machucou muito. Bateu a testa. Mas o Fulano recebeu uma prensa...
Tudo normalizado, eis que ressurge das cinzas, ou melhor, do álcool, quem? Quem? A bêbada!
- MOTORA "BARA" exe ÔNIBUS que o meu "bonto" já "pachou"! IC!
- Não paro!
- "Bára" aí motora!
- NÃO!
VRRUUUUUUUMMMMMM!
A vingança veio de ônibus. Ele parou em um ponto bem distante, pra dizer quem é a autoridade ali. IC!
FIM.
A terceira:
Eu estava indo do colégio pra casa (essa faz bem mais tempo).
Pouca gente no ônibus. Não chagava a dez.
No meio da viagem, a cigarra começa a gritar sozinha.
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
Passageiros e cobradora se olham.
Motorista para o ônibus. Motorista chacoalha cigarra. Cigarra pára. Motorista volta a dirigir.
Um minuto. Dois. Três.
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
Passageiros e cobradora se olham.
Motorista para o ônibus. Motorista chacoalha cigarra. Cigarra pára. Motorista volta a dirigir.
Um min...
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
GRRRRRRRRR! Motorista pára o ônibus. Motorista sai do ônibus. Volta com um pedaço enorme de pau. Ataca impiedosamente a cigarra.
BAM BAM BAM BAM!
BZBZBZbzbzbzzzzzimmmmnnnnnnniiiiiiiii......fiu!
Com todos prendendo a vontade enorme de gargalhar, e um motorista saciado, a viagem seguiu tranquila e silenciosa.
FIM (mesmo)
Essas histórias aconteceram há muito. Não sei se é só comigo. E não sei mais a ordem cronológica, mas isso não importa. Lá vai:
A primeira:
Um dia eu estava em um ônibus.
Aí, entraram dois homens, acho que com mais de 60. Estavam meio chapados. Sentaram e começaram a falar alto.
Falavam, falavam, falavam, gesticulavam, riam, riam, riam.
Até que um deles começou a tossir. E alto.
Era COF, COF, COF, GRAAAA, GGGROOOOOOO! (aquele barulinho de secreção no peito, sabe?)
O outro dizia, amparando o amigo:
- Tosse, tosse, pode tossir...
???
E o outro só COF, COF, COF, GRAAAA, GGGROOOOOOO em pleno ônibus cheio de passageiros. Ô situação...
A apoteose daquela pitorescagem (será que essa palavra existe?) foi quando a dentadura do homem caiu e foi se arrastando por baixo dos bancos. O amigo do agora sem-dentes demonstrou todo o valor de sua amizade:
- Deixa que eu pego. Disse ele, e saiu engatinhando e se arrastando por baixo dos bancos, até que pegou a dentadura fujona e suja.
Com o prêmio em mãos, entregou para o amigo:
- Toma.
Isso é que é amigo, não é?
O outro pegou a chapa e, evidente, num único gesto, colocou-a na boca.
- Obrigado, mano.
Simples assim.
Era gente de tudo quanto é lado sentindo nojo. Vi uma senhora virar o rosto e fazer uma careta que eu mesmo queria fazer. Acho que saímos ilesos.
FIM
A segunda:
Estava eu em outro ônibus.
De repente, uma senhora com uns seus quarenta e tantos anos, cheia do "mé", quis entrar pela porta da saída, sem pagar.
O motorista não deixou.
- Deixa eu entrar!
- Só lá por trás!
- Eu quero por aqui!
- Não!
- Eu vou subir!
- Não!
- EU VOU ENTRAR POR AQUIIIIII!
- NÃÃÃÃÃÃO!
Como se viu que aquilo iria demorar, os passageiros começaram a gritar:
- MOTORA, DEIXA ELA ENTRAR LOGO POR AÍ, "VAMBORA"!
Pinguça a bordo, seguimos.
Mais adiante, uma outra senhora, desta vez sóbria, entrou... e uma fila de meninos, uma escadinha de uns seis degraus.
- Vai entrando, vai entrando que eu vou lá por trás! Dizia a mãe.
E tome a entrar menino.
- Fulanoooo, segura o cicrano pra ele não cair! Segura, menino. SEGURA DIREITO! Ela dizia para o mais velho em relação ao mais novo.
Meninos a bordo, vem a mãe lá de trás:
- FULANO, SEGURA O TEU IRMÃO! JÁ PENSOU SE ESSE ÔNIBUS DÁ UMA FREADA E ESSE MENINO VAI DIRETO PRO VIDRO DA FRENTE?
O frágil Fulano tinha que segurar o mais frágil Cicrano. De repente, UMA FREADA!
Blam, blam, blam, BLAAAAAAAM-PAFT!
Ô boca de mãe: lá estava o Cicraninho todo jogado no párabrisa. Felizmente não se machucou muito. Bateu a testa. Mas o Fulano recebeu uma prensa...
Tudo normalizado, eis que ressurge das cinzas, ou melhor, do álcool, quem? Quem? A bêbada!
- MOTORA "BARA" exe ÔNIBUS que o meu "bonto" já "pachou"! IC!
- Não paro!
- "Bára" aí motora!
- NÃO!
VRRUUUUUUUMMMMMM!
A vingança veio de ônibus. Ele parou em um ponto bem distante, pra dizer quem é a autoridade ali. IC!
FIM.
A terceira:
Eu estava indo do colégio pra casa (essa faz bem mais tempo).
Pouca gente no ônibus. Não chagava a dez.
No meio da viagem, a cigarra começa a gritar sozinha.
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
Passageiros e cobradora se olham.
Motorista para o ônibus. Motorista chacoalha cigarra. Cigarra pára. Motorista volta a dirigir.
Um minuto. Dois. Três.
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
Passageiros e cobradora se olham.
Motorista para o ônibus. Motorista chacoalha cigarra. Cigarra pára. Motorista volta a dirigir.
Um min...
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
BZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZBZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
GRRRRRRRRR! Motorista pára o ônibus. Motorista sai do ônibus. Volta com um pedaço enorme de pau. Ataca impiedosamente a cigarra.
BAM BAM BAM BAM!
BZBZBZbzbzbzzzzzimmmmnnnnnnniiiiiiiii......fiu!
Com todos prendendo a vontade enorme de gargalhar, e um motorista saciado, a viagem seguiu tranquila e silenciosa.
FIM (mesmo)