A PROSTITUTA E OS DOIS GAROTOS

Quando criança, eu morava três quarteirões abaixo da zona boêmia. Tinha um amigo que morava praticamente dentro da zona. Sua mãe durante o dia lavava e passava roupas para fora, e à noite fazia “bico” na zona, alugando quartos nas pensões para fazer os programas. Certo dia ela deixou o ferro de passar, a brasa, em cima da mesa e o moleque sem camisa, encostou o peito nele. Fritou a pele, o moleque teve até febre. De vez em quando aparecia algum freguês durante o dia e ela o “atendia” em casa mesmo. Mandava o moleque sair de casa e ir brincar no quintal ou na rua, enquanto ela “passava” a roupa do freguês.

Certo dia, eu fui a casa dele e estávamos brincando debaixo de uma das janelas da casa a qual estava toda fechada. Perguntei se ele estava sozinho em casa, ele respondeu que sua mãe estava passando a roupa de um freguês. Estranhei o fato:

-Uai, passar roupa com a casa toda fechada?

Ele respondeu:

-É para mim não queimar no ferro, agora quando ela vai passar roupa, ele me manda sair de casa e fecha tudo...

Debaixo da janela, escutei de dentro do quarto uns gemidos, bufados, suspiros e chacoalhar de cama. Curioso, perguntei:

-E isso, o que é?

-Já te falei, é minha mãe passando roupa de um freguês...

Encostei o ouvido na janela e na minha inocência de criança falei:

-Ih rapaz, então ela deve ter se queimado no ferro, ela está numa gemura...

* * *

HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 02/05/2011
Código do texto: T2943810