O sonho de Quintana
Não me canso de admirar a imensa criatividade de meu amado “guru” Mario Quintana. Não tenho dúvida que era um gênio. E pensar que um homem desses foi preterido por duas vezes pela Academia Brasileira de Letras.
Era notável o bom humor do homem e eu coleciono “as besteirinhas” dele, como dizia um porteiro de um Hotel onde o poeta residiu. O porteiro costumava dizer para a Elena, sobrinha e secretária do Quintana, que ela publicasse as “besteirinhas”, pois elas eram também poesia. Venho recolhendo essas pérolas de seus livros.
Estou me recordando de uma piada inventada por ele, que sempre achei incrível, jamais me passaria pela cabeça o desfecho da história.
Agora passo a contar, ao meu modo, resumidamente, a estória. Dizia o poeta que sonhou com um amigo já falecido. Aproveitou então a oportunidade para saber do amigo como era Deus. Em resposta, o amigo disse que praticamente não vira Deus. Que Ele, bem como o diabo, na verdade, viviam mais na terra do que no céu. Deus, observando os pecados do pessoal e o diabo procurando criar “tentações” para os pobres mortais.
Quintana, desapontado, lamentando o fato, disse: - E eu que pensei que vocês aí no céu tinham mais facilidade de ver Deus, que coisa hein? Mas não teve pelo menos uma única vez que o amigo viu Deus?
- Sim, agora me lembro, teve um dia que vi Deus. Não sei se já falei, mas nós aqui no Céu passamos o dia todo fazendo estatística: anotando todos os nascimentos e todas as mortes. É um trabalhão e tanto! Pois bem, teve um dia, quando eu estava na minha mesa fazendo a estatística, Ele apareceu, andou pela sala, cumprimentou as pessoas nas suas mesas e parou junto de mim.
- E aí, o que aconteceu? - perguntou o Quintana
- Aí, velho, fiquei nervoso e até errei o que eu estava fazendo. Mas Deus deu um tapinha nas minhas costas, como quem diz: “Tudo bem”. Sabe, Ele mostrou ser um cara legal. Depois disso, ele foi saindo, parou na porta, e olhando para nós todos, disse: “Até amanhã, se Eu quiser!”