DE NÓ NAS TRIPAS

Era já um final de tarde muito "estressante" quando o Zézinho, agora já quase no final da sua sofrida adolescência, chegava a mais uma das suas costumeira visitas ao pronto socorro.

Não que o sofrimento do Zézinho fosse engraçado, longe disso, Deus nos livre e guarde desse despautério.

Afinal, nenhuma doença é engraçada, mas Zézinho, portador duma dessas disfunções intestinais mais sérias e que *alonga incrivelmente os intestinos, vive literalmente entupido pela vida, e assim, vira e -mexe baixa naquele pronto -socorro em busca do auxílio daquele meu amigo, o doutor João.

Ara, Zézinho daquela vez ali chegava muito mal humorado, via-se nitidamente pela sua expressão carrancuda e já se sabia muito bem quais seriam as perguntas que o doutor lhe faria.

Percebo que o doutor João nunca muda aquele seu disco."Há quanto tempo entupiu, Zézinho, está bebendo água,está ingerindo fibras?" eram as perguntas de sempre.

Então, logo que entrou na sala de consulta Zézinho se esticou na maca, abriu o cinto e expôs aquele barrigão estufado ao doutor João.

"Nossa, mas o que é isso Zézinho, perguntou-lhe o doutor.

" Ora, é aquela minha barriga de sempre que eu encho de água e de bagaço mas que emperrou há um mês", retrucou o Zézinho.

" Há um mês que você... não, não é possível!'

"É sim doutor, retrucou a mãe do Zézinho, e isso é nó nas tripas doutor, tenho certeza que é. Conheço o quadro. Zézinho deu nó nos seus salsichões de tripas!

Assim, depois dum diagnóstico tão provável, o doutor João o examinou minuciosamente, pediu os exames e fez a tal da junta médica para discutir o entupimento do Zézinho. Toda a equipe preocupada com o estufamento daquela barriga. Pediu o Raio x...humm...aquilo , de fato, parecia ser preocupante, a não ser pelos "flatos" abundantes que escapavam daquele possível entupimento, o que deixava todo mundo mais tranquilo. "Tripa entupida não solta vento, minha senhora" explicava doutamente o doutor àquela preocupada mãe.

Então, chamaram o cirurgião que depois de muito pensar decidiu por lavar as tripas do Zézinho.

Ali mesmo começou a esguichação barriga adentro. E a atenção de todos também.

Lá pelas tantas, a preocupação era geral, até dos demais doentes, que já estavam na torcida por uma solução que não fosse cirúrgica.

Não há como esconder tripas entupidas.Dum jeito ou do outro a coisa aparece.

"Oxalá as tripas se desenozassem!" Era o pensamento geral.

De súbito, finalmente, Zézinho pediu para ir ao banheiro. Foi.

Todos ficaram esperançosos aguardando ansiosamente a volta do Zézinho. A enfermeira, bem entusiasmada, o acompanhou.

"E aí Zézinho?" perguntaram todos na espera duma triunfante volta.

"Hã, ara, eu só queria fazer xixi. As tripas ainda nem se mexeram, sô!"

Senti que a desolação foi total!

Não sei o final da história, mas sei que quando as tripas padecem, decerto que todos os humores do pronto-socorro decrescem.

Nota:

Verídico. Nomes fictícios.

* Dolicocolon