SURUBA E BRIGA

S U R U B A E B R I G A

Dentro de um ônibus coletivo lotado é onde acontece a maior concentração de corpos humanos por metro quadrado. Mais até do que nas camas de motéis. Se não vejamos a proporção. Numa cama de motel que mede dois metros lineares de comprimento por um e meio de largura, perfaz três metros quadrados de área, onde normalmente se juntam dois corpos na horizontal, que equivale dizer que o índice demográfico da cama do motel é de um corpo e meio por metro quadrado.

Num ônibus coletivo lotado viajam algo em torno de oitenta pessoas, sendo quarenta e quatro de pé, na vertical, não horizontal; e trinta e seis sentadas, em decúbito ventral ou dorsal, não horizontal nem vertical. Se o ônibus mede dez metros lineares de comprimento por dois de largura, perfaz vinte metros quadrados de área, com um índice demográfico de quatro corpos por metro quadrado. O que é um absurdo.

Existe um preconceito geral contra os usuários do transporte coletivo, sendo eles os menos esclarecidos e, por conseguinte os mais necessitados de bens materiais. Mas a realidade é bem outra. Os sofredores usuários do transporte de massas são os trabalhadores espoliados e explorados pelo mercado, portanto sem condições de possuir um meio próprio de se locomover até seu destino; e em função disto tudo é que os referidos ônibus coletivos estão sempre lotados.

E é no horário de pique que mais acontece os fatos estranhos, pois é quando os trabalhadores estão retornando para suas casas. Este caso específico se deu por volta de 19:00 h, já era noite, dentro do coletivo está uma penumbra, pois as luzes internas estão apagadas, as pessoas ali dentro se vêem nos relances em função da iluminação pública quando o coletivo passa próximo um poste com lâmpada acesa.

O dito cujo ônibus coletivo está lotado até a tampa; tanto que sobra neguinho pelo lado de fora das portas que estão meio abertas e meio fechadas. No último banco da traseira do veículo está acontecendo um agarra agarra escandaloso. Uma sirigaita de mini-saia, por sinal boazuda, e um sujeitinho fracote, mal saído da puberdade, estilo mala sem alça, de bermuda folgada e camiseta sem mangas estão dando um show à parte, ou seja, estão em pleno coito. Ela está sentada sobre as coxas dele, de costas para o povão, com a calcinha puxada para um lado. Quem quisesse ver que visse. A coisa acontecia na maior sem vergonhice.

Encostada na lataria da traseira do ônibus, bem no final do corredor, ali do lado do casal estava uma senhora, daquelas carolas, bem peça de mobiliário de igreja, das devoradoras de bíblia, se não, pelo menos aparentando. E foi ela quem deu o alarme:

- Que é isso gente? Aqui não é motel! Têm dois safados trepando dentro do ônibus!

No que o franguinho estrepou:

- Tô comendo filha sua? Acho que não, né? Por acaso tà doendo na sua bunda?

A mulher se benzeu e escandalizada exclamou:

- Ave Maria! Cruz credo!

Aqui ela quis desmaiar, mas percebeu que não ia cair, pois de três lados, ali colados nela havia outros corpos que a sustentavam de pé e pelo fundo a lata da carroceria do ônibus não a deixaria ir para a horizontal. Resolveu dar mais vaza ao casal despudorado, e botou mais lenha na fogueira gritando bem alto:

- Motorista, leva este ônibus para a delegacia que aqui dentro tem um tarado!

Mais para a dianteira do corredor, mais ou menos uns seis corpos, um bicha ouviu e deu chilique:

- Ái meu Deus! Um tarado aqui! Onde? Onde?

Como o coletivo estava super lotado, e nestes casos sempre estão presentes alguns gaiatos:

- Cuidado boneca! Você pode ser estuprada!

Todo escandaloso o bicha retrucou:

- Será se os céus ouviram minhas preces? Hoje será meu dia?

Gargalhada geral.

Como se estivessem a só na selva amazônica, os dois imorais continuaram com a suruba.

A carola da igreja voltou à carga:

- Não tem homem dentro deste ônibus para dar umas porradas nestes dois vagabundos?

O comelão parou o beijo de desentupir esgoto que estava dando na putinha e apelou:

- Aí ó biscate de padre! Tá querendo é o lugar da gata aqui?

- Eu quero! Eu quero!

A bichinha gritava e vinha empurrando as pessoas para se aproximar do interlúdio sexual.

Um negão, tipo peso pesado, quando foi empurrado pelo homossexual, aplicou-lhe um catiripapo no pé do ouvido; este ao ser agredido o sangue ferveu, deixou a frescura de lado, se transformou em homem, aplicou um cruzado de esquerda no queixo do agressor.

Pode ser onde for, não ter espaço nenhum, mas começou briga, o espaço aparece. As pessoas se amontoaram para os lados e os dois se engalfinharam num abraço de urso com tamanduá.

Até a rameira ao perceber o perigo, levantou-se às pressas do colo do garanhão, deixando-o com uma verdadeira mão de pilão, de cabeça vermelha, apontando para cima; e ele de imediato tentava colocá-la para dentro da bermuda.

A papa bíblia ao ver a luta do garoto gostoso com aquela geringonça, fingiu um novo desmaio; e aproveitando o empurra empurra, forçou o corpo na direção daquilo, e como previra e queria, caiu sentada bem no alvo. Só que ela não contava que a coisa viva fosse morrer, amolecer e se esconder como cabeça de tartaruga.

(abril/2000)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 12/04/2011
Reeditado em 12/04/2011
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