Era Uma vez, uma Lenda...
João gostoso era um carregador de feira livre, forte, porém mirradinho, alto, porém baixo, gordo, porém magro, bonito, porém um tanto desengonçado. Morava no Morro da Babilônia, no seu barracão sem número, luxuoso, porém miserável, grande, só que tão apertadinho, que nem se fizesse muito esforço, não caberia o morro todo lá dentro.
João namorava Maria Rosa, menina simples, porém um tanto perua, xique, porém muito brega, feia, porém um tanto engraçadinha. João gostoso gostava tanto de Rosinha, que chegou a ficar um mês sem olhar na cara dela. Apesar de não estar com saudade da sua tão amada Maria Rosa, João foi até a casa dela,que de tão longe, fez com que João caminhasse todos aqueles cinco passos para percorrer o caminho. De tanto caminhar, João estava ofegante, cansado, mas conseguiu chegar e convidar sua Rosinha para ir ao cinema. Rosinha, muito amável que era, delicada feito uma flor, pegou uma vassoura e espancou João, xingou-o de todos os palavrões que ela conhecia e correu com ele dali. Tudo isso pra demonstrar-lhe o tamanho do amor que ela sentia!
João, mesmo não entendendo, que depois de uma atitude tão legal, Maria Rosa não tinha aceitado o convite, resolveu ir sozinho ao cinema. Esperou os longos15 minutos que faltavam pra dar a hora e rumou pro único cinema que havia no morro da Babilônia. Chegando lá, comprou seu bilhete e entrou. Mas imagina o susto! Maria Rosa, sua amada namorada, doce como fel, estava lá, de mão dada com Pedro, ocupando os outros dois lugares que haviam no cinema. Incrível! Que bilheteria! Aquele filme, “Dois Estranhos Conhecidos”, com graças ao Morro da Babilônia, conseguiu a maior bilheteria cinematográfica da história!
João assistiu ao filme, a contragosto da cena romanesca que presenciara, saiu do cinema e foi até o Bar Vinte de Novembro e bebeu! Bebeu toda a cerveja daquelas garrafas vazias que haviam por lá. E cantou! Cantou todo o repertório do CD de um Mudo, que fazia o maior sucesso na região. E dançou! Dançou aquela maravilhosa coreografia ensinada por seu amigo perneta.
Após beber, cantar e dançar, João Gostoso saiu correndo e atirou-se na Lagoa Rodrigo de Freitas. Ele bebeu toda aquela água num só gole e morreu afogado logo depois! Essa é a lenda que corre pela cidade, que foi João Gostoso quem secou a Lagoa Rodrigo de Freitas, mas vocês não vão acreditar numa história dessa vão?
PS: Fiquei com inveja do amigo NuNuNO Giresbach e resolvi remexer num baú por aqui também. E achei essa coisa aí, que escrevi aos dezessete anos, pra um concurso de crônicas na escola. Ganhei o tal concurso (Puts, ainda não entendo como!) e ela estava guardada, manuscrita ainda na caixa de "Orgulhos" da mamãe. Cada coisa que a gente acha quando procura!
PS2: Esta "Crônica" foi desenvolvida tendo por base uma poesia, retirada de uma notícia de jornal, de Manoel Bandeira:
"João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado."