Visita sensual
Dona Marinilva está em casa sentada na poltroninha exsudando tédio. O tédio doméstico que resiste na casa moderna onde foi tirado todo o pó tribal. Reside sem ninguém. Sente que deveria estar ainda mais a sós se não fosse um pequeno aquário ao lado da poltrona com dois peixinhos mimados. Dona Marinilva não espera ninguém.
De repente porque o mundo é insano, inconstante e fugaz toca a sineta. A porta se abre. É a vizinha com seus vinte e dois anos. Moça atraente, adorável, volumosa, repleta de vida. Traz além da saia curta e da blusa apertada um ramalhete de rosas vermelhas.
Marinilva fica nas nuvens. Segura o ramalhete com carinho depositando o presente afetuosamente no aquário.
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Os peixinhos assistiram à cena compreendendo mudamente o encontro entre uma sovada solidão e a excitação física dos abandonados. A moça desaparece. Ela cai no sono ainda na poltroninha. Sonha que está voando de asa delta e soltando o ex-marido lá de cima num misto de acidente e cinismo.
Quando acorda reconhece o ramalhete dentro do aquário com dois peixinhos mortos. Está insone e com uma discreta sensação de orgia trescalando desses objetos desencontrados.
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