COMEÇANDO PELO UMBIGO RUMO AO CÉU DA BOCA

COMEÇANDO PELO UMBIGO RUMO AO CÉU DA BOCA

(Autor: Antonio Brás Constante)

Você sabe qual é a parte mais egoísta do nosso corpo? É o umbigo. Pois todos os egoístas do planeta ficam somente olhando para seus próprios umbigos, esquecendo o resto do mundo.

Mas quem acaba sendo castigado? É a orelha, que leva puxões doloridos pelas travessuras e erros que o resto do corpo apronta. Quando a saudade aumenta lembramos do coração, aquele trabalhador incansável que pulsa incessantemente dentro de nós, que sofre e se aperta nos momentos de tristeza e bate forte quando a felicidade chega de surpresa.

O nosso medo é deixado para as pernas, que tremem e às vezes sorrateiras passam rasteiras em nossos desafetos. Outra parte de nosso corpo que traduz o medo é o cabelo, com seus arrepios frente ao perigo, ficando em pé a cada susto que levamos, e muitas vezes sendo arrancado na hora do desespero. A partir daí quem entra na dança são as unhas, que são roídas sem piedade, devoradas por nossos dentes que não aceitam desforra. Pois com eles é “dente por dente”, mas como existe o dente do juízo, às vezes tomamos consciência do perigo e damos no pé, correndo sem demora.

A mão tem uma função mais nobre, pois todo auxilio começa quando oferecemos uma mãozinha para alguém, mas se não queremos nos envolver em algo, acabamos lavando as mãos e pronto. Às vezes são as nossas costas que acabam levando toda culpa, dizem que elas são largas o suficiente para carregar os problemas que nos colocam sobre os ombros.

Não podemos nos esquecer de nossa parte mais “sensível”... O pobre estômago. Que em situações fortes se mostra um estômago fraco, outras vezes não temos nem estômago para enfrentar aquilo que acontece.

Nossa ambição está concentrada nos olhos, um olho grande que cobiça tudo que vê. Conhecido por muitos como o espelho da alma, que fala sem dizer uma única palavra e chora para aplacar nossas magoas. Não é à toa que quando nos deparamos com algo cobiçado e de preço elevado, dizemos que o mesmo “custa os olhos da cara”.

A língua é profana. Afiada nas palavras, espalha veneno aos ouvidos em murmúrios doces como preces ou em gritos de trovão, como se rogasse pragas em nossa direção.

Quanto à boca, templo cobiçado dos amantes, é tão vasto seu portfólio que escrevi um texto inteiramente dedicado a elencar suas funções e abstrações. No céu de cada boca ressoam os sons de todos os anjos e demônios que existem dentro de nós. É de seus lábios que saem os comentários que ferem, as palavras que comovem, os versos que tocam a alma. Uma alma que toca o mundo. Um mundo que explode e se recria ao toque de duas bocas que se encontram na eternidade de um momento.

Enfim, nosso corpo é um reinado e nossa cabeça, de onde se governa todo este reino, funciona com um ar-condicionado (pois às vezes estamos de cabeça quente e em outras esfriamos a cuca). Por isso devemos usar a cabeça e seguir em frente, levantar a cabeça e olhar o futuro que nos espera de braços abertos e punhos cerrados. Onde a forma de receber este contato dependerá apenas de nossos passos.

E-mail do Autor: abrasc@terra.com.br

SITES: www.abrasc.pop.com.br e www.recantodasletras.com.br/autores/abrasc)

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Antonio Brás Constante
Enviado por Antonio Brás Constante em 13/11/2006
Código do texto: T289846