A MERETRIZ VERDE

A M E R E T R I Z V E R D E

Ela estava com a mesma cor esverdeada, que qualquer fruto novo e tenro tem, antes de madurecer, talvez como o fruto das cabaceiras. Suas formas perfeitas contrastavam com toda a imensidão daquele prédio velho caindo aos pedaços, onde, Normalysson trabalhava limpando o chão, durante todas as madrugadas, entrava dia saía dia.

De início permanecera acanhado, fingindo não tê-la visto, num dos cantos sombrios do depósito. Porém a vontade foi irresistível. Caminhou com vigor até seu objeto de desejo, enquanto seu coração palpitava de uma excitação tão incontrolável, que suas mãos suavam, sentia um frio na espinha ao imaginar o que viria a seguir. Os últimos passos foram cautelosos e de certa forma torturantes. Abraçou-a durante um longo período. Nenhum som era necessário! Ele já sabia o que sentia por ela! Já antegozava o depois.

A paixão, no momento, era correspondida. O ambiente era ideal, livre de qualquer barulho que pudesse vir a estragar a cena, que iria em breve imortalizar-se. Batia descompassado dentro do peito seu pequeno e sofrido coração!

O ambiente no prédio permanecia calmo, a noite lá fora estava amena, porém lá dentro a libido estava pondo Normalysson agoniado. As grandes empilhadeiras pareciam adormecidas entre as imensas prateleiras, cheias de alimentos dos mais variados. No chão e pelos cantos havia de tudo. E empilhados estavam os sacos de batata, de cebolas e de outros legumes; as frutas, também variadas, se encontravam embaladas e acondicionadas conforme suas características; os alimentos perecíveis estavam dentro de caixotes apropriados; mas em nada tudo isso alteravam a cena. Mesmo sendo testemunhas oculares, apesar de cada um impor sua espontânea presença, sem, contudo revelar a rudeza daquela cena sublime que iria acontecer.

Ao abraçá-la seu corpo encheu-se de um calor irresistível e seus membros começaram a formigar, inundando-o de uma onda abrasiva de emoção, seu membro sexual doeu. Os segundos se tornaram lentos, os minutos parece que pararam, mas ela estava ao seu lado! Já tinha tudo planejado! Arrumara o lugar ideal, um quartinho escuro no final do corredor, para unir-se de uma vez por todas com sua "querida" Vênus de Milo.

Olhou para o lado, mais por rotina do que precaução. Ninguém àquela hora apareceria ali para atrapalhá-los. O vento que corria lentamente por entre as gigantescas prateleiras do depósito era como uma harmoniosa canção que convidava a lua cheia e brilhante, a mostrar sua face por inteiro. A lua dos poetas; pensou ele! Sim, a lua dos poetas! Nada mais poderia ser perfeito!

Dirigiu-se ao escritório principal, por uma porta no final do cômodo, espreitou os funcionários que ali dormiam, após horas extenuantes de trabalho; os quais caíam nos braços de Morfeu por alguns minutos, antes de voltarem às obrigações, de classificar e transportar os alimentos para os carros distribuidores.

Caminhou, pelo corredor estreito, sem soltar das suas mãos a sua amada. Normalysson pensava que o destino caprichosamente lhe pregara uma peça, fora lhe dar uma namorada e esposa, a qual ele poderia demonstrar todo o afeto, e sabia de antemão que seria correspondido. Abriu a porta lentamente, para não incomodá-la e nem produzir barulhos que pudessem alertar os vigilantes noturnos de sua presença.

Deitou-a com extremo carinho, antes de desabotoar os botões da calça e projetar-se com toda ternura sobre aquele corpo. Se bem que volúpia não lhe faltava, e mais, parecia que o convidava inconsciente a depravação!

Olhou para ambos os lados, para evitar que algum voyeur contemplasse tal idílica cena! Com toques suaves, deslizou os dedos por todo o corpo dela, mas esperou o momento certo para encontrar a fenda sagrada, que o conduziria ao prazer! Percorreu todas as curvas de sua amada, com as mãos calejadas de um simples trabalhador braçal. Penetrou-a e manteve o vaivém cíclico e ininterrupto, executando o balé sexual até a hora de seu desespero pessoal, com um não, mas dois orgasmos simultâneos.

De repente surgiram os guardas-noturnos da empresa, e o separaram de sua amada! Doente, depravado, sem moral, gritavam seus algozes! Porém ele manteve-se grudado a sua sensual amada. Mas não teve sucesso, sua mão separou-se de uma vez por todas de sua preciosa ninfa! Seu tesouro pessoal!

De repente...

Eles não mais se veriam! Os brutos, os malignos e horripilantes funcionários, o separaram da última coisa que restara para amar. Ele foi expulso brutamente do armazém, sem tempo de defender-se ou apelar para a compaixão dos seus inimigos!

Nem teve tempo de relembrar as poucas recordações que durante todos estes anos foram acumulando-se em sua mente. De embates outros, com outras amadas, talvez até irmã da atual.

Quanto a sua amada... Bem sua deliciosa sereia fora esquartejada e jogada no lixo, como um fruto podre no qual não se encontra mais o encanto de outrora, como se não mais tivesse serventia.

No dia seguinte, uma placa reluzia na porta do prédio: Precisa-se de faxineiro. Com experiência.

Lá no seu barraco, na periferia, ele estava desiludido, abatido, cansado. Á tarde recebeu um emissário da CEAAGO (Centro de Abastecimento de Alimentos de Gorobixaba) empresa onde trabalhava; este trazia uma carta, o que pior, de demissão, a sua demissão. Era o esperado. Rasgou o envelope e abriu com aflição e raiva a carta, que com letras maiúsculas, estampadas em um sórdido papel timbrado formavam as palavras de sua desgraça. “Demitido por justa causa. Motivo: flagrado no dia 20/11, às 3:40 h (três horas e quarenta minutos) de uma quinta-feira, copulando com uma MELANCIA”.

Releu novamente a palavra "melancia". Era como Normalysson se sentia agora. Um grande melancia-macho.

(dezembro/2005

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 28/03/2011
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