VIAJANDO DE COLETIVO
V I A J A N D O D E C O L E T I V O
Dá com a mão: não pára
Se pára; a porta só abre alguns centímetros
Para entrar murcha a barriga; nem respira
Ás vezes nem entra, fica pendurado: morcego
Antes da catraca: - Dá licença.
O cobrador não libera a passagem: cabrita
Após a catraca novamente: - Dá licença.
A capacidade é no máximo de cinqüenta pessoas
Sempre cabe mais um: superlotação
Não se abre as janelas: sufocados
Braços levantados para segurar: bodum
Encosta daqui... Rela dali...
Empurra para lá... Pisa no pé...
Náusea: odores de vários perfumes
Bufa: catinga de gases intestinais
Mau hálito: bafo de onça na nuca
Indiferença: um jovem sentado e uma grávida de pé
Solidariedade: uma criança, sede espaço a outra no banco
Colírio: uma colegial simplesmente linda!
Descuido: uma bolsa que arranha um braço
Roubo: um trombadinha que bate uma carteira
Ridículo: mexericos e conversas sem nexo nos celulares
Um homem que adianta o quadril: esfrega-esfrega
Uma mulher que atrasa as nádegas: dissimulação
Uma mão que desce nos seios: bolinação
Supapos: uma senhora que foi bolinada
Gritos: uma balzaquiana preterida a uma vovó
Puxa a corda da cigarra: parada
Não pára no ponto: sacanagem do motorista
A porta emperra, não abre: defeito
Alívio: desce aos trancos e barrancos
Merda: esquece a marmita no ônibus
- Motorista filho da puta!
(agosto/1985)