O PASSAGEIRO
O PASSAGEIRO
Convenhamos LULO é feio como o capeta. Magro que se deitado sobre a agulha e coberto com a linha, ainda sobra beiradinha; cabeça chata tipo espaçonave de marciano, nariz tão chato como de porco duroc; não tem bunda, pernas tão finas quanto palito de fósforo; portanto poderia ser considerado invisível. Razão da sua aterrissagem lúdica para o sacristão e mística para o padre da paróquia de Nossa Senhora da Abadia e Perpétua do Socorro, na diocese de Gorobixaba.
Para muitos ele é maluco, para outros é sádico; quando na verdade é excêntrico.
Um belo dia apareceu no Aeroporto Mont di Merdi, impecavelmente vestido, de terno verde, chapéu verde, grava tipo borboletinha verde, sapatos verdes, guarda-chuva verde e jornal debaixo do braço. Quando lá chegou, foi logo avisando:
- Hoje serei passageiro, não quero mais ser o aeroplano.
Ele fazia alusão ao seu vôo sem avião.
Ao vê-lo os comandantes e co-pilotos arregalaram os olhos, pois contava com ele morto, sepultado e ressuscitado no terceiro dia, subido ao céu e sentado a direita do deus pai; e, como pecadores todos Gorobixabenses.
O piloto Haxado Pedrido, escalado para aquele vôo entrou no aparelho, mirou o sujeito de alto a baixo e sorriu com malícia. O LULO pareceu não dar bola. Entrou e sentou na primeira poltrona, abriu o jornal e começou a ler como se sua presença ali fosse casual.
O avião acelerou, estremeceu, percorreu dois terços da pista... e a custo decolou... o sujeito continuou lendo.
Quando a aeronave se nivelou, a mais de 4.000 pés de altura, o piloto olhou para a primeira poltrona, ergueu as sobrancelhas em assombro, sentiu calafrios, pois não viu o passageiro. Fez uma manobra de emergência e retornou ao Monti di Merdi. No que aterrissou, seus companheiros que ficaram em terra apontaram para o alto e disseram ao mesmo tempo:
- Lá está seu passageiro!
LULO descia planando feito uma pena na brisa, ainda lendo o jornal.
(setembro/2010)