Os Eternos Clichês

Se existe uma coisa que repudio com veemência, são nossos intermináveis clichês. Produzem uma falsa comunicação, denotam uma preguiça mental de quem os emite empobrecendo o que poderia vir a ser um diálogo enriquecedor. Vejamos alguns poucos exemplos dessa miserável forma de se comunicar:

“Você viu os preços, estão pela hora da morte” Resposta de outro clicheteiro: “ É, não sei onde vamos parar”. Como se vê, ninguém lucrou em nada nessa falsa comunicação. Poderiam economizar tamanha verborragia e tentarem criar uma associação que ganhasse alguma representatividade e fosse às ruas lutar realmente contra a carestia. O segundo clicheteiro foi ainda mais vazio ao dizer que “não sei onde vamos parar”. Eu sei onde irá parar; comprando mais caro, bem feito! Outro exemplo: “O mundo tá prá acabar”. E outro:” Homem não presta, é tudo igual”. Também é interessante observar que quando um clicheteiro emite mais um clichê, o outro já sabe a frase que ouvirá. Balança a cabeça afirmativamente concordando. Já conhece de cor o que irá ouvir, mas se comporta como fosse a primeira vez que ouve tal “sabedoria”. Assim: “Diz-me com quem andas e te direi quem és.” O “te direi quem és” o outro emite em uníssono com o primeiro clicheteiro. Coisa terrível. E são tantos os clichês por esse Brasil afora que mal os percebemos. Acabamos por entrar no vício também. Pelo bem da verdade devo fazer uma triste confissão: De vez em quando solto um clichezinho também. Quando o percebo já saiu, fico possesso! Há alguns dias fui dormir na casa de um sobrinho recém operado e como estava sozinho resolvi passar a noite com ele. Dormi num quarto ligado ao dele e quando foi lá pelas duas da madrugada acordei com sede. Levantei e quando ia em direção à cozinha passei pela porta de seu quarto que estava aberto. Ele estava acordado e assistindo televisão. Sem tutibear lasquei-lhe: Você está acordado? Ele com a cara mais zombeteira respondeu: - Estou, você também está? Caramba, tomar uma dessa ás duas da madrugada, bem que foi merecido. Vamos pois nos policiarmos mais, em nome de frases mais construtivas e que nos faça fugir da mesmice dos clichês. Outro clichê que emiti com meu saudoso tio José Garcia, mas que ele prontamente corrigiu-me. Conversávamos sobre várias pessoas que coincidentemente haviam falecido ultimamente, conhecidos nossos. Saí-me com esse: “Nossa tio, como tem morrido tanta gente ultimamente, não? Ao que ele respondeu-me: “E você já reparou nêgo, que ainda tem muito mais prá morrer? Bom, já fiz a minha honesta confissão. E você caro leitor, clichêzou hoje?...

Carlos A Funghi
Enviado por Carlos A Funghi em 26/03/2011
Código do texto: T2872351
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