A FAMÍLIA "MONÓLOGO"
A família é uma coisa interessante; pode não prestar, mas é nossa, fazer o quê?
O meu pai, por exemplo, é um português desses bem escraxado: porra pra cá, porra pra lá, filho disso, filho daquilo, e etc.
Mas também tem um coração mole como manteiga, principalmente quando vê mulher chorar. Não é capaz, sequer, de matar uma barata. Quando aparece uma, ele a enxota, dizendo:
- Deixa a bichinha ir embora, coitada!
Minha mãe, já é mais educada, mas quando se enfeza, sai da frente, que lá vem tamancada...
Meu irmão, Edileuso, é manco de uma perna, mas quando vê o tamanco nas mãos de mamãe, corre desembestado! Foge e só aparece quando o estômago não agüenta mais de fome. Aí, ele entra de mansinho, quando a mamãe já esqueceu da traquinada, então, fica tudo bem...
A minha irmã, Edileusa, é caolha, mas para os meus pais, é uma santinha, eu diria que é do pau oco! A gente nunca sabe para onde ela está olhando; por isso mesmo, enxerga tudo, olhuda e zoiuda, do jeito que é... além de ser fofoqueira e invejosa.
Dos três, eu sou a mais bonita, modéstia à parte; quando eu era menininha, aí pelos doze anos, arranjei um namoradinho. Edileusa, assim que viu o meu príncipe, foi correndo contar para os meus pais:
- Pai, mãe, a Ediléia, está no portão de agarramento com um garoto...
Meu pai, logo reagiu!
-Agarrada com quem?
-Não sei, eu vi, disse logo a fofoqueira. Furioso, meu pai saiu dizendo que ia acabar com aquela pouca vergonha! Chegou ao portão logo na hora em que o meu namorado estava me dando um beijinho.
-Que porrada é essa aí? Quem és tu, ó gajo, pra ficar agarrando a minha filha?
O garoto tremia dos pés à cabeça e dizia:
- Não senhor, a gente só estava conversando...
- Ficas sabendo, ó gajo, que a minha filhinha é ainda muito magrela e mirrada pra estar a namorar...
-Venha pra dentro, filha minha, e deixe este gajo aí... Não chore não, que o papai não vai te bater.
Papai não podia ver lágrimas sem chorar. Entramos, eu e meu pai, abraçados e sorridentes, como se fôssemos coleguinhas chegando de um piquenique. E o garoto saiu com uma cara de cachorrinho viralata, quando leva um pontapé.
Ao entrarmos, minha mãe perguntou para o meu pai:
- Que providência tomaste? Pelo visto, não deu em nada, tu és mesmo um frouxo...
E ele respondeu calmamente:
- É só um namorico, Maria...
-Ah! É só um namorico? Pois ela vai saber, agora, o que é um namorico...
Pegou o tamanco e me deu umas duas tamancadas na bunda...
- Ai que dor!!!
Meu pai, com pena de mim, tentou evitar, mas ela, irritada, mostrou-lhe o tamanco e vociferou:
- Vai sobrar para ti, homem! E pra ti, também, Edileusa. - que sorria zombando de mim por ter apanhado.
Nem Edileuso escapou das tamancadas, pois chegou na hora da confusão. Nessa noite, todas as bundas foram dormir quentinhas...