Método para deixar de fumar

O Gardé havia tomado duas atitudes distintas. E completamente antagônicas entre si. Uma ruim. A outra. . . bem, a outra , digamos assim, normal, na medida do possível.

Paquerar a Suellen tudo bem! Se antes já havia dado uns queroquero, uns chupchup na Joana, um autêntico garupal de caroço, não iria xavecar a Su? Que a moça tava assim de predicados! Vamulá! Morena, um e setenta de altura, olhos verdes, seios turbinados, bumbum”ái Meu Deus do Céu”, separada do bofe coisa de dois anos. Aliás a transferência dela da Receita de Jundiaí para a da nossa terrinha parece que tinha tudo a ver com a separação. Disque o trem não dava sossego um só minuto. Queria porque queria retorno.

“Tipo da mulher”, como bem classificou o Ranulfo, nosso filósofo mor, sempre a postos no Bar do Canguru “de largar a família na hora.”

Justificada a primeira querela, voltar a fumar??? Depois de quase oito meses de abstinência tabacal? Tinha arroz nessa macarronada! Só podia.

Todo mundo sabe que a barra maior, aquela em que todo deixante fumacal sofre quinem árabe barbudo nos Isteites, é nos primeiros dois meses. Neguinho sonha quitá fumando. Dá baforadas em toco do lápis. Mastiga pacotes inteiros de bala de menta. Traga até fumaça de casa pegando fogo.

E se enerva com tudo! Desde conta pra pagar a mosquito voando na sala. Desde oi de vereador a tchau da patroa. Tudo pretexto pra xingamento eriça pelo.

Agora, 8 meses? Nessa altura do campeonato vontade duma pitadinha já foi pro sacoprego. É quinem sexo. Muito tempo na carência, pra voltar neguinho tem de sacar manual de instrução. Insira pino A no orifício B. Jamais use o orificio C sem consentimento patronal senão dá BO. KKKKKKKKKKK

E voltar a fumar nesse caso específico podia ser considerado redundância elevada ao quadrado!

O carinha fumou um maço inteiro, desvirginando o selinho na frente da gente, entretidos numa caxetinha braba de dez paus a cabeça, numa hora e meia. Isso mermo que leram: uma hora e meia cravada. Carái, isso dá um cigarro a cada cinco minutos. Sabatinado, explicou:

“ Culpa da Suellen. Aquela vaca!”

Cuméquié?

“ Quando ela chegou na repartição com todo aquele background corporal a homarada caiu matando. Se eu contar que até o Jura, aquele segurança meio viado se entusiasmou com a gostosa, voces acreditam?”

Ham Ham.

“ E eu fiquei na minha, fazendo tipo de difícil. Sacumé, dando um diferencial da moçada. Mas quedê que funcionou? Primeiro mês nem se dignou a me tchauzar quando ia embora no fim do expediente.”

Verdade?

“ Pois é. Até descobrir que a Geneci tinha parentes em Jundiaí. Voces sabem que a cara metade é de lá, não sabem?”

Claro.

“Aí ela se arribou para o meu lado. Perguntando que família, onde moravam, o que faziam. Toda essa bobajada que mulher tem mania de perguntar. Até que um dia se convidou pra visitar minha casa e conhecer a patroa.”

E foi?

“Hum Hum.”

Rapais, o Gardé não tava batendo bem da cabeça. Levar um mulherão daqueles, companheira de trabalho, todo santo dia juntos na mesma sala, pra conhecer a mulher? A fulana tinha ciúmes até de velhinhas de 80 e cacetada. Virava uma onça tepeimada sé se o carinha desse uma zoiadinha de trevés nalguma meia boca no centro da cidade. Levar um trem bão daqueles pra casa é tipo assim. . . tipo pular de paraquedas em temporal raiado e trovejado ou pior. . . descer a ladeira da 7 de setembro num carrinho de rolimã na hora do rush.

“ Dali por diante ficou amiga da véinha . E começou a frescurite comigo. Três beijinhos na chegada, três na saída, vez em quando uma roçada de joelho na repartição, conversa comigo de mão no queixinho, a palma virada pra mim. . .”

E o que tem isso?

“Sabem não? Tudo quanto é conselheiro sentimental diz na televisão que se a mulher conversa contigo mostrando a palma da mão, tá se abrindo pra ti. Uma tal de expressão corporal.”

Sabia não.

“ O que sucedeu foi que fiquei ali, na maior vontade de dar uma cantada e o maior medaço dela me dedurar pra patroa. E foi nesse vai não vai, nesse foi não foi que ela cantou a bola que detestava cheiro de cigarro.”

Foi quando parou de fumar?

“ Claro! Inda mais que ela gostava de conversar pertinho. Quase ali no tete a tete. Eu sentindo o cheirinho dela se entranhando no nariz.”

E comeu, depois de todo esse sacrifício anticigarral?

Acendeu outro cigarro antes de responder.

“ Comi merda nenhuma!”

Nem uma vezinha?

“ Era tudo combinação dela com a Geneci, que também detesta cigarro e vivia enchendo meu saco pra parar . E eu entrei de gaiato!”

Tive de segurar o riso.

“ Agora to numa sinuca de bico. Não posso brigar com nenhuma das duas porque aí to entregando o ouro de bandeja. Fiz papel de trouxa. Não posso fumar em casa nem deixar a Geneci descobrir que voltei ao vício que ela descobre que tava interessado na amiga dela. E se fumo como to fazendo agora tenho de lavar a boca mais de meia hora com desinfetante bucal que a garganta ta doendo quinem chute no saco. To fudido, companheiro!”

Aí não teve jeiito. Caí na gargalhada.