COISAS DO TIO GU - X

DE COMO PEGUEI GOSTO PELOS VERSOS

Então. Foi o Tio Gu quem me ensinou a fazer versos. Vou contar como:

O tio, sempre sabichão, e eu a “doidinha loura”, como gosta de me chamar até hoje. Ele pensa que eu não lhe capto a sutileza, mas me faço de desentendida pra não perder o amigo. Na verdade, sempre gostei do sorrisinho dele, assim, meio travadinho, como quem ri de si pra si. De mim pra si, pensando bem, mas deixa pra lá.

O Tio, apesar de grande cultura e aparência sisuda, muitas vezes embarca nas minhas maluquices e quase sempre acabamos rindo muito. Como num dia em que ele começou me ensinando umas coisinhas e acabamos madrugada adentro catalogando as loucuras da língua portuguesa. Aliás, cá entre nós brasileiros, oh língua ingrata, hein? A gente tenta ser amigo dela, mas ela não corresponde!

Estava contando pra ele de um mendingo que vi na calçada e ele imediatamente:

- Não é mendingo, lourinha, é mendigo.

Tá, o mendigo foi tão cara de pau, tio, que eu achei um absurdo um homem tão forte daquele, ficar na mendigância, em vez de trabalhar!

- Não é mendigância, doidinha, é mendicância. Como em sindicância.

- Ah, tio! Decide. Ou é G ou é C. Na sindicância não é síndico? Então tinha que ser mêndico na mendicância. Se vem com essa história de ância então o que tem na abundância: bundiga ou búndica?

Por um momento calou-se e eu pensei: agora o peguei!

- Você me inspirou uma trovinha – responde, empostando a voz:

- No meu prédio tem um síndico

que promove a sindicância.

A vizinha tem uma búndica

que oferece em abundância.