BÊBADO I & MAIS
BÊBADO
Era um borracho do tipo fanfarrão:
depois de alto, topava qualquer briga;
nos bares, o garçom fazia figa,
para não ver aquele beberrão...
Um dia ele chegou e um barulhão
foi logo armando, à sua maneira antiga,
desafiando a quem quer que consiga,
afirmando bater num batalhão!...
Porém, ao ver que estava meio cego,
o garçom, de pirraça, uma barata
colocou, ao servir-lhe a dose nona...
Ele engoliu de um trago e nem te nego!
Outra dose pediu, só de bravata:
"Olha, garçom, capricha na azeitona!..."
CEIA PARA DOIS
Ao completar cinco anos de casada,
querendo reavivar o casamento,
a esposinha lembrou-se, num momento,
daquele tempo em que era namorada...
Preparou um jantar, esperançada:
na mesa ela pôs vinho; um banho lento
ela tomou, com grande sentimento
e esperou seu amor toda enfeitada...
Ela queria era um jantar romântico,
à luz de velas... A música escolheu,
como surpresa, ao som que mais seduz...
Mas o marido perguntou, ouvindo o cântico
e as luzes apagadas: "Ah não, você esqueceu,
mais outra vez, de pagar a nossa luz...?"
FLATULÊNCIAS
Chega uma velha ao consultório de um doutor.
"O meu problema, doutor, é soltar pum
a toda a hora. Ainda bem que ao largar um,
não faz barulho e não tem nenhum fedor..."
"Tudo bem", ele falou, consolador:
"Vou-lhe dar este remédio, você mistura num
copinho cheio de água e toma algum,
de oito em oito horas, sem temor..."
Daí a uma semana, ela voltou:
"Ah, doutor, não foi isso que eu quis!
Agora o pum que eu solto é bem fedido!..."
Porém o médico em nada se abalou:
"Muito bem!... Eu já curei o seu nariz,
agora vamos tratar do seu ouvido!..."
A SOBREVIVENTE
Morreu a sogra mala de um amigo,
que sua vida bastante atrapalhava;
foi feito o enterro; mas enquanto se levava
o seu caixão a um cemitério antigo,
bateram na parede de um jazigo;
logo um gemido de dentro se escutava;
abriram o ataúde... E lá estava
a velha viva e a rezingar consigo...
De volta a casa, viveu por mais dez anos
e o genro dia e noite infernizava:
de liberdade sentia fome e sede...
Morreu depois, como todos os humanos,
só que agora, o genro a todos avisava:
"Tenham cuidado! Não me batam na parede!..."
BOBO I
Diziam que ele era um bobalhão,
pois nem ao menos aprendera a ler:
qualquer tarefa fazia com prazer,
em troca de comida ou só de pão.
Troçavam dele, por pura judiação,
como as pessoas gostam de fazer:
assim se podem mais espertas perceber,
quando há um bobo ao alcance de sua mão.
Mandavam que uma moeda ele escolhesse
entre uma grande de vinte e cinco centavos
e uma de cinquenta, posta ao lado.
Sempre pegava a maior, embora fosse
a de valor menor e aqueles bravos
se riam às gargalhadas do coitado...
BOBO II
Porém um dia alguém, cheio de pena
explicou com cuidado ao bobalhão
quanta troça lhe fazia a multidão
ao ver que sempre repetia a mesma cena...
"Olhe, a moeda de cinquenta vale mais,
mesmo sendo menor - escolha essa",
lhe disse o amigo. Respondeu-lhe, bem depressa
o que era tido por bobo pelos tais:
"Sei muito bem qual é o seu valor,
mas se eu pego a de cinquenta, meu senhor,
eles param de fazer a brincadeira..."
Quem era o bobo, afinal, na antiga aldeia?
os que zombavam dele (que ação feia!)
ou quem ganhava outra moeda para a feira?
DESILUSÃO (para Heloisa)
Um infeliz sofreu um acidente:
perdeu o pênis de que tanto se orgulhava;
num plástico com gelo, ele o guardava,
esperando um transplante conveniente.
Mas o médico só olhou, indiferente,
aquele membro que ele carregava,
propondo que, na hora em que o operava,
aumentasse seu tamanho grandemente.
Telefonou o homem à mulher
e lhe narrou o que lhe acontecera:
"O que devo fazer, minha rainha?
Que tamanho de pênis você quer?"
Ao que ela respondeu, mais que ligeira:
"Eu preferia uma reforma na cozinha..."
RENDIÇÃO
Eu vou fazer um trato com os mosquitos:
não usarei veneno ou repelente;
irei deixar que pique-me, frequente,
a multidão de vampiros infinitos,
mas com a condição de que seus gritos,
zumbidos, assovios, sua permanente
zoada de violino, irreverente,
eu não escute mais, antes que os mitos
do sonho me dominem a consciência:
que se escondam nas frestas e no escuro
e não se deixem ver, até que o sono
me venha dominar à subserviência,
porque é o fiium seu incômodo mais duro
e, após dormir, às picadas me abandono!...
TRATADO DE PAZ
A mamãe foi conferir o dever de casa
que a garotinha tinha feito bem depressa.
Verificou que tinha erros à beça:
o português era ruim e a história rasa.
-- O dever de matemática está mal feito,
a redação nem dá pra ler o que é que diz!
-- Ah, mamãe, não reclama, que eu já fiz!
Quero brincar, não bote mais defeito!...
-- Sinto muito, mas vais fazer de novo!
Da pressa a perfeição é inimiga!...
O que tu fazes mal, sempre refazes!...
-- Mamãe, eu nem me dou com esse povo!
Se a culpa é delas porque eu não consiga,
Por que essas duas não vão fazer as pazes?
MORTES CANINAS
Um motorista de bom coração
viu três meninos chorando na calçada;
achando fosse coisa de pancada,
parou o carro, pensando em boa ação.
-- Que aconteceu, menino, te bateram?
-- Não, tio, é que mataram meu cachorro!
Eu sinto tanta falta! Quase morro!
-- E com você, meu filho, o que fizeram?
-- Também mataram meu cachorro, tio!
Sacudindo a cabeça, ele indagou
para o terceiro: -- Mataram o teu também?
Disse o menino, sentado ao meio-fio:
-- Meu cachorrinho, tio, ninguém matou:
Ele morreu foi engasgado com esses dois!...
RIFA I
Cinco meninos foram comprar um burro;
pagaram cem reais, mas no outro dia,
quando foram buscar, o dono ria:
-- Sinto muito, mas o bicho deu um zurro,
saltou no ar e morreu sem mais um urro...
Mas vocês estão de azar... -- logo dizia.
-- O dinheiro, eu já gastei!... A turma via
não poderem ganhar dele no murro.
Saíram para um lado e cochicharam;
o mais velho, então, se aproximou:
-- Vamos levar o burro, mesmo morto!...
Uma padiola logo improvisaram,
que o grupo, com esforço, carregou,
onde o burro seguiu, já meio torto...
RIFA II
No outro mês, aquele espertalhão
viu os meninos e troçar deles tentou:
-- Como é que foi, ele já ressuscitou?
-- O senhor sabe muito bem que não,
mas ganhamos com ele um dinheirão...
-- Como assim? -- o antigo dono perguntou.
-- Nós fizemos uma rifa e quem comprou
nos pagou dois reais... -- Mas, e então?
Ninguém pediu de volta o seu dinheiro?
Os guris riram: -- Nós fizemos mil reais
e foi só o ganhador que reclamou!...
Os reais dele devolvemos bem ligeiro,
os perdedores não pediram mais...
No fim das contas, foi a gente que ganhou!