A nossa música
Dinho estava visivelmente emocionado. Pegou as mãos de Mara sobre a mesa daquele bar e olhou-a profundamente nos olhos. Ambos sentiam-se muito felizes por terem-se reencontrado, depois de tanto tempo, relembrando com saudade e ternura seu relacionamento do passado. Vinte anos os separaram e agora ali estavam, frente a frente, exatamente como os dois namorados que haviam sido...
Recordações alegres por parte de ambos, até que Dinho pergunta, sorridente:
- E a nossa música... lembra?
Mara desesperou-se. Não, não se lembrava! Afinal, fazia vinte anos... Delicadamente soltou as mãos de Dinho, baixou os olhos para a mesa, limpou uma migalha de pão inexistente e balbuciou, dissimulada:
- A nossa música...
- Pois é – voltou Dinho à carga. – Me lembro tão bem... Toda vez que tocava a nossa música, a gente se beijava. Era tão natural, aquilo tudo! Queria ouvir a nossa música de novo.
Mara fitou Dinho concordando com a cabeça, com um olhar entre terno e saudoso, mas suava frio. Dinho retribuiu o olhar, sorriso questionador:
- Então... você se lembra da nossa música?
Não teve jeito. Ela corou, engoliu seco, já não podia mais fingir. Munindo-se de coragem, ficou séria e respondeu gravemente:
- Não, Dinho... infelizmente, não me lembro da nossa música. Me perdoa!
Dinho soltou uma sonora gargalhada.
- Eu também não! Que pena, dava tudo para ouvir de novo. Ia ser mágico, já pensou? Bem que a banda desse bar podia tocar, afinal era uma música conhecida... a gente se lembraria, tenho certeza!
Mara suspirou aliviada, tomou as mãos do homem e, jovialmente, disse, num sorriso franco:
- Vamos fazer o seguinte... A próxima música que tocar aqui será a nossa música daqui pra frente. O que acha?
Dinho concordou, efusivo.
Segundos depois, misteriosamente, todas as luzes do bar se apagam. Por alguns instantes um improvável silêncio reinou, até que uma luz vinda do fundo começa a crescer. Um bolo lotado de velinhas acesas foi depositado na mesa de um grupo de jovens ao lado.
E, enquanto a banda tentava em vão acompanhar o “Parabéns a Você” que rolava solto e desafinado por todo o bar, Dinho e Mara beijavam-se com paixão...
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Este texto faz parte do Exercício Criativo "Aquela Música"
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