MINHOCA & PLUS

MINHOCA I

Era uma vez um esperto pescador,

que foi pescar onde era proibido,

mas que, logo a seguir, foi inquirido

pelo guarda encarregado do setor.

O policial indagou-lhe, sem ardor:

"Você não sabe que não é permitido

pescar aqui, neste açude protegido?"

"Mas não estou pescando," o infrator

foi logo declarando. "E como não?

Você não tem uma minhoca em seu anzol,

presa na vara, na ponta de sua mão?"

"Mas não, seu guarda! Veja bem a linha,"

respondeu o pescador. "Faz muito sol:

Eu só estou banhando a minhoquinha..."

MINHOCA II

O guarda ficou meio atrapalhado;

sabia muito bem que era mentira,

pois muito evento neste mundo gira,

sem que seja honestamente demonstrado...

O pescador dissera ter banhado

o pobre verme que no anzol se vira;

mas que era apenas isca, garantira

o guarda que a desculpa havia escutado...

E, de repente, lhe surgiu a ideia

e deu voz de prisão ao pescador,

que, para ludibriá-lo, se esforçou,

repetindo outra vez a sua epopeia,

porém foi preso, atentado era ao pudor,

que a minhoquinha não estava de maiô!...

CAMPAINHA

A professora, após a aula, sai da escola

e vê um garotinho se esticando,

perninhas curtas, os dedos mal tocando

a campainha, pulando feito mola...

O coração da professora, como bola

expandiu-se e ela foi se apresentando:

"Deixa que eu toco, querido!" e apertando

a campainha da casa, grande tola...

Ao escutar os passos sobre o piso,

a ilusão da coitada logo acaba:

"Vamos correr agora, professora!

É que a dona dessa casa é muito braba!"

disse o menino, com um largo sorriso.

"Mas, então, não é aqui que você mora...?"

PORCINO [para Cláudio Albano]

Pobre velhinho! Pegou gripe suína,

com todos os sintomas importantes,

tosse e gemidos, em todos os instantes,

após uma excursão pela Argentina!

Meu pobre amigo teve triste sina:

foi levado à UTI com os delirantes,

tomou as drogas mais compactantes,

sua pele engruvinhou-se e ficou fina!

Não conseguia mais jazer de costas,

foi obrigado a se deitar de borco,

até que lhe faltou a respiração...

Depois que faleceu (sei que não gostas!),

adquiriu espírito de porco

e assim reencarnou como leitão!...

REQUEBRADO [para Márcia Rocha]

As mortes dos famosos geralmente

chamam mais atenção do que os milhares

que partem deste mundo diariamente,

deixando para trás os seus andares...

Foi um negro, que queria, realmente,

tornar-se branco e a tantos operares

submeteu-se, que teve finalmente

sacrificada a saúde e seus dançares...

Foi uma branca, que queria se bronzear

(para tornar-se negra, certamente...)

e câncer contraiu em resultado...

Até que ponto assim consegue errar

o ser humano, quase diariamente,

contra seu próprio corpo rebelado!...

GENITORA

"Quem é a pátria?" indagou um sargento,

feroz na disciplina, à força bruta,

escolhendo das fileiras a um recruta:

"Soldado Alberto, responda num momento!"

"A pátria é meu país, sargento!" como o vento,

respondeu ao superior, que mal escuta,

com uma feia carranca, lhe refuta:

"A pátria é a sua mãe! Ouviu, nojento?"

"A pátria é minha mãe, senhor!" disse o soldado.

Mas o sargento virou-se para o lado:

"Soldado Lucas! Você, que é meio lento!

Entendeu bem? Responda, sem demora!

Quem é a pátria?" E ouviu, na mesma hora:

"A pátria é a mãe do Alberto, meu sargento!..."

ANDAIMES I

Um japonês, um baiano e um rapaz louro

juntos erguiam a mesma construção.

Na hora do almoço, igual lamentação;

O japonês abria a marmita com um estouro:

"Vejam só, eu trabalho feito um mouro

e nessa minha marmita não tem pão,

só sushi com sashimi. Tomei a decisão:

se amanhã for igual, rebento o couro!..."

Disse o baiano: "Comigo é o mesmo, meu rei:

Se achar mais vatapá, eu também pulo!"

E disse o jovem louro: "É só sardinha!...

Se amanhã for igual, não tem mais lei:

eu pulo desse andaime e nem engulo!..."

Apertaram-se as mãos, firmando a linha.

ANDAIMES II

E não deu outra. Era sashimi e o japonês

gritou "Banzai!" e do andaime se jogou;

a morte do baiano provocou

o mesmo vatapá servido há um mês.

Pulou o louro e, assim, morrem os três.

Um bilhetinho cada qual deixou...

A viúva japonesa lamentou:

"Se eu tivesse sabido o que ele fez,

colocava outra coisa na marmita!"

"Se eu soubesse, tinha feito acarajé",

chorou a baiana. "Eu sei que ele gostava..."

Falou a loura, que o remorso nem agita:

"Eu não tenho a menor culpa disso, né?

A marmita ele mesmo preparava!..."

TROPILHA I

Uma loura, de ser burra já cansada,

pintou de preto seus longos cabelos...

Sentindo ser esperta, só de vê-los,

decidiu sair de carro pela estrada...

Em certo ponto, a passagem foi cortada

por um rebanho de ovelhas, brancos velos,

guardado com carinho e muitos zelos

por um pastor. Mostrou-se ela encantada:

"Como são lindas essas ovelhinhas!

Você não sabe quantas são, aposto!..."

"Eu sei, madame, perfeitamente bem..."

"E se eu disser quantas são as pobrezinhas,

você me dava uma?" Bem disposto,

o rapaz aceitou e ela disse: "Mil e cem!..."

TROPILHA II

Espantadíssimo, concordou o pastor:

"São mil e cem, de fato. Escolha, então,

mas como foi que conseguiu a solução?"

"Na verdade, foi simples, meu amor,

somei as patas e então fiz a divisão

por quatro!... Quero aquela, por favor!..."

O rapaz aceitou, bom perdedor:

foi buscar o animal, sem discussão.

"Mas, por favor, não vá embora ainda:

posso dizer qual é a cor original

dos seus cabelos?" "Mas que risco corro?"

"Se eu acertar, conservo este animal,

está de acordo?... Você é loura e linda,

mas vou pegar de volta o meu cachorro!..."

SUPEREGO I

Todas as noites, depois que se deitava,

escutava uma vozinha o meu amigo:

'Já fizeste xixi?' -- Meio a perigo,

o coitado bem depressa levantava...

Porém, não dava tempo, nem chegava

ao banheiro, que lhe daria abrigo,

o xixi escorria -- e nem te digo!...

O coitadinho todo se molhava!...

Um dia, ele foi ao psicólogo,

que lhe disse ser coisa do passado:

era a voz de sua mamãe que ele escutava.

E lhe deu a resposta do monólogo:

ao escutar a voz, quando deitado,

respondesse: 'Sim, mamãe!' que se escapava.

SUPEREGO II

Meu amigo a receita experimentou

e deu certo! Levantou-se, ainda assim,

mesmo pensando que não estava a fim,

foi ao banheiro e do problema se livrou...

Pois cada vez que a vozinha retornou:

'Já fizeste xixi?' -- Dizia, enfim:

'Já fiz, mamãe, fui ao banheiro e vim...'

E a vozinha depois disso se calou.

Mas um dia, ao deitar no travesseiro,

alguns minutos depois que adormeceu,

mais uma vez a vozinha ele escutou...

Coitado, nem chegou até o banheiro!...

Outra a mensagem que agora lhe ocorreu:

'Meu filhinho, você já fez cocô...?'

William Lagos
Enviado por William Lagos em 13/03/2011
Código do texto: T2845068
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