A LEI ANTIFUMO OU ANTITABAGISMO

Sem querer polemizar mas, seguramente acredito que a lei antifumo, ou lei antitabagismo, nasceu lá pelos anos 60 do século passado, precisamente em Correntina. Isto porque, recordo perfeitamente quando Neto de Cordeiro ( não vai dizer que você não conhece Neto de Cordeiro!); pois bem, éramos personagens e frequentadores da infância, em nossa querida terra; quando certa vez na escola da professora Aldecir França, Neto de Cordeiro (mais uma vez) foi chegando atrasado, segurando a farda-bermuda com uma mão, livros na outra; um pé calçado no sapato e o outro calçado numa sandália e com uma tira de pano no dedão (curativo comum para topadas); e ao ser perguntado sobre o seu atraso ele prontamente respondeu de voz e cabeça baixas: "é que nóis FUMO consertar a caminhonete com meu pai, fessora". Aí a professora corrigiu imediatamente, "nóis FUMO não, o correto é nós fomos, ouviu?". Estava decretada aí a primeira reprovação ao FUMO, que eu pude testemunhar.

Ainda na mesma época e na mesma cidade, vez por outra ouvia-se Raimundo Barata comentando no coito de Sílvio de Dedim que "passaram o FUMO na filha de..." E era comum ter sempre alguém para reprovar essa afirmação. Também na mesma década, soube-se que o sr. João de Margarida (ô Céu...) tentou botar pra dormir eternamente um velho cachaceiro que bebera e não pagara a conta em sua vistosa bodega de bananas,sal, café, querosene e pinga. Assim que o velho Johnnye Margare pegou o pau de FUMO, Ferreira, seu filho, segurou-lhe a mão reprovando na hora: "pai, pau de FUMO não!" Era só mais uma reprovação ao FUMO. Mas, isto não impediu que na mesma cidade outras pessoas caissem no FUMO.

Eu mesmo fui socorrido uma vez pelo FUMO. É, tinha eu na época entre três e quatro anos de idade; quando passeando pelas terras de pastos do meu pai, uns carrapatos miudos me atracaram, e foi bem no saco. Ô lugarzinho difícil de tirar o bicho de lá (ou cá). Mas o meu pai teve uma boa idéia. Mandou chamar a velha Inocência (que mascava FUMO) e pediu-a para dar um jeito na situação dos meus países baixos, invadidos pelos carrapatos miudos. A velha chegou logo, com umas folhas de FUMO nas mãos, foi até o quintal, deu uma cusparada pro lado; pediu para "quentar" as folhas de FUMO; pegou o seu fumo mascado na boca e socorreu-me, passando folhas de FUMO no meu saco. Foi carrapato miudo caindo pra todo lado, na hora. E nem houve pedofilia. Essa palavra ainda dormia no dicionário. Neste caso, o FUMO me salvou; e foi a única vez que vi o FUMO ser bem tratado, com o devido respeito.

Mas, o tempo foi passando e lá mesmo na minha cidade, aos onze anos de idade, resolvi aprender a fumar. Foi um ano só nessa aventura; fumando escondido, ora no coito de Sílvio de Dedim, ora no Buracão e ora no Riacho Vermelho; fugindo do incalço de Dona Dina, minha mãe, ou do olhar delator de Sulina Doce. Meu pai, fumante, não permitia que seus filhos fumassem, muito menos eu que tentava sair da infância. Foi uma aventura horrível e desagradável. Mas, logo ao completar os doze anos, tomei a minha decisão mais pesada contra o FUMO, banindo-o da minha boca e dos meus planos. Os meus pulmões agradecem até hoje.

Hoje em dia, o FUMO que eu tenho eu uso, aliás o FUMO que eu curto é o de Cecília Meireles... belos versos!

Porém, sabe-se que o tempo foi passando tanto aqui fora quanto lá em Correntina; e com ele foi crescendo a antipatia ao FUMO. Um fumante hoje em dia, é mais odiado que um assaltante. Diz-se que em breve, um pobre trabalhador honesto e comum será mais odiado que um fumante. Nem é bom esperar pra ver isso.

Desde os tempos em que o sr.Miguel Rebéca circulava pelas ruas de Correntina com seu rádio gigante, de pilhas (ouvindo à Voz do Brasil); que tramita no congresso -de congas - uma lei contra o FUMO; a qual, se aprovada for, o infeliz que for flagrado fumando num, raio de 300 quilometros de proximidade de todo e qualquer prédio público ou privado (mesmo na privada); mesmo que seja cigarro manso feito de papel Ytacolomi, ou cigarro de palha; ou cigarro contrabandeado; ou charuto; ou cachimbo de Domingo a sábado; pois é, o "infiliz" será preso, linchado e esquartejado sem direito a nenhuma tragada; que é para servir de exemplo e inibir a expansão do FUMO pelo país afora. Quanto aos demais fumantes de outros "baguios", estes já estão liberados posto que, só são os excelentíssimos senhores usuários! É Neto, nós FUMO felizes e não sabíamos.

Bahia, 28/02/2011.

Alorof
Enviado por Alorof em 01/03/2011
Código do texto: T2823127
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