ETA POVO TRABALHADOR...

Na construção da Represa de Três Marias, léguas e léguas de terras férteis de nossa região foram inundadas, causando prejuízo e desespero para os latifundiários. Ficou a promessa de ressarcimento do governo federal. Até há bem pouco tempo, essa indenização havia ficado somente no papel, se receberam não fiquei sabendo. Um dos maiores latifundiários da região, ao ver as águas invadindo suas terras, entrou em pânico, “enfraqueceu a cabeça” como diriam na região. Desesperado, andando de um lado para o outro via o nível da água subindo. Ele colocava um marco no limite da água para ver o quanto ela subia. Alguns moleques arrancavam o graveto e o colocava alguma distância água á dentro. Ele ia conferir e coçava a cabeça e dizia desesperado:

-Puta que pariu! A água subiu mais dois metros... mardito Juscelino...

O tempo passou e nada dos coitados receberem a prometida indenização. Uma vez apareceu em nossa cidade um candidato a reeleição de deputado federal. Um de seus correligionários o convidou a visitar a região ribeirinha da represa e conhecer os latifundiários que tiveram terras perdidas pela represa. Ele topou a parada. Seu acompanhante, que tinha fazenda na região disse-lhe:

-Ao visitarmos os proprietários de terras invadidas pela água, o senhor prometa que vai lutar pelos direitos deles, para que possam receber o ressarcimento prometido.

Visitaram várias fazendas, sítios, chácaras, e foram parar em uma venda que ficava próximo das águas da represa. Era um armazém daqueles de roça que vendem desde uma agulha a um arado. Tinha de tudo, era também uma espécie de bar, onde tinha um salão com mesa de sinuca e várias mesas usadas para jogar truco. Chegaram ao armazém, o qual estava lotado. Apesar de terça-feira dia útil, as mesas estavam todas ocupadas. O candidato estranhou o fato, perguntou se era algum dia santo ou feriado na região. Não era. Ele chegou foi cumprimentando os fregueses um a um. Logo começou seu discurso, usando toda sua demagogia.

Vendo que ninguém prestava atenção em suas palavras resolveu usar outro método. Falou com seu acompanhante para escrever o nome de todos os presentes em um papel e colocá-los em um vidro como se fosse uma urna. E disse:

-Vou sortear o nome de quatro pessoas aqui presentes, os quatro sorteados terão direito de escolher um presente deste armazém, qualquer coisa que pedir, que tiver aqui, eu pagarei.

Aí todos prestaram atenção, melhorou a conversa. Sortearam um número. O Ganhador se apresentou. O Candidato mandou-o escolher o presente. Ele disse:

-Quero uma vara de pescar com molinete. O candidato ficou um pouco sem graça, pensou que o ganhador iria escolher uma ferramenta de trabalho.

Consentiu e sorteou outro nome. Perguntou ao ganhador o que ele queria. Ele disse:

-Quero uma rede de pesca malha fina.

Novamente ele ficou sem graça, mas concordou. Sorteou outro:

-Quero uma tarrafa de corrente, de chumbada não serve.

Ele já estava perdendo a esportiva. Sorteou o último:

-Quero uma enxada!

Aleluia! Pensou ele, até que enfim posso fazer um discurso enaltecendo o povo trabalhador dessa região. E disse:

-Sr. Proprietário deste armazém, dê uma enxada das mais caras para este cidadão que vai tirar da terra o sustento para o seus filhos...

O dono do armazém disse:

-Tenho a Tarza, a Duas Caras, a Jacaré, a Três Libras e a Corneta...

-Dê a mais cara, o trabalhador merece trabalhar com uma ferramenta boa.

O Cidadão que havia se levantado da mesa, espreguiçando-se e bocejando disse:

-Precisa ser a mais cara não, pode ser a mais barata, é pra rancar minhoca mesmo...

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