HUMOR – Meu domingo...

 

HUMOR – Meu domingo – Escrito em 06.02.2011

 

            Meu povo me deixou sozinho na praia. A folga da secretária era justamente hoje, e eu sempre entendi que quem tem casa na praia não deve dar esse dia de descanso todos os domingos, mas desde que a empregada tenha seu repouso remunerado.

            Danei-me pro Recife, eu que havia fugido do sofrimento do pessoal com o falecimento da sogra de meu filho (domingo dia 30), eis que não queria ir à missa de sétimo dia. Aliás, parece que o capeta está muito atento na minha família; penso que vou mandar bater cinquenta reais de bombo lá na Bahia para me imunizar. Quem sabe pedir ao líder do BBB-11 para me dar o cordão do anjo!

            Pois bem, fui almoçar num tal “Papa-Capim”, restaurante dos melhores daqui da capital. Eu ainda não o conhecia, mas seu nome me fez lembrar uma brincadeira de menino, que consistia em dizer esse período de maneira o mais depressa possível: “Lá em casa tem uma faca para capar papa-capim, mas minha faca já está cega de tanto papa-capim capar”. Quem conseguisse ler rápido sem se enrolar ganharia um prêmio. Raramente alguém se safava bem da missão!

            O restaurante é do tipo cada qual faça seu prato (pra que falar difícil!), com muitas opções para todos os gostos. Eu tenho apenas meio estômago, alimento-me pouco e a recomendação médica é de fazer seis refeições por dia. Faz vinte anos que tive de viajar ao Rio de Janeiro para ser submetido a uma cirurgia de “hérnia-hiatal”, “pilorite” e “esofagite de refluxo”. Isso me mantém o corpo magro, apenas com uma barriguinha do chope.

            Que ninguém se admire, pois sou assim cheio de problemas. Por exemplo, só tenho um pulmão direito, lamentavelmente, pois o outro é esquerdo (essa piada tem mais de mil anos). Mas o pior de tudo é que o meu intestino delgado é um grosso...

            Entrei na fila da xepa. Tinha uma gata tão linda junto de mim que me deu uma vontade de um sarrabulho dos seiscentos diachos, que nunca mais havia provado, estava carente. Mas ela virou o rosto pra não ver nada. O sarrabulho é um prato de cozinha tipicamente português. Trata-se de um guisado com os miúdos do porco ou do cabrito, ligado com sangue e geralmente temperado com cominhos, ficando muito gostoso. Pra quem é luxento não é bom experimentar.  Tanto faz como tanto fez, pode ser chamado de sarapatel, quase tudo é a mesma coisa.

            O danado é que eu também queria comer peixe. Mas misturar com sarapatel não daria certo, não combinava, todavia como eu sou filho de pobre topei a parada; sabe, fiz uma misturada da gota serena, da moléstia dos cachorros. Um sujeito que ia ao meu lado falara baixinho depois que eu coloquei o peixe no meu prato: “Que filho da truta”... Fiz que nada ouvi, e prossegui. O sortimento era tanto, que tinha “carne de sol, de vaca a galo a cabra besta, rolinha assada. Tatu e rã”, uma verdadeira festa.

            Na verdade, comi como um jumento e passei dos limites, lembrando-me de um fato que aconteceu há bastante tempo quando trabalhava no interior da Paraíba: Um colega tinha uma granja até bem equipada. Costumava chamar os amigos para almoços em dia de domingo, quase todas as semanas, regados a cervejas bem geladinhas. Pois bem, dessa vez ele chamou um sujeito comedor pra caramba, mas a sua esposa preparou comida em demasia, a fim de não decepcionar, pois aqui no nordeste, mesmo com a pobreza, o povo adora fartura.

            Pois o rapaz comeu tanto que empanzinou, ficou arfando, respiração ofegante, causando embaraços aos donos da casa. Tanto é assim que a senhora patroa pediu ao seu marido que fosse imediatamente à busca de um médico para socorrer o amigo. Enquanto ele pegou seu fusca e saiu numa pressa gigantesca, ela foi preparar um chá para amenizar toda aquela situação. “Já pensou se esse homem morre aqui”, perguntara a si própria...

            Feito o chazinho de erva-doce, que por aqui é um santo remédio, pegou a bandeja e o levou ao amigo: “Pronto, tome aqui esse chá que o senhor vai melhorar; quando o doutor chegar vai ter menos trabalho". Então o rapaz pegou a xícara, mãos trêmulas, olhou para um lado, pro outro, o povo todo ao seu redor, curioso, e falou: “Tomo, bebo sim, mas só com bolachas”. E a risadaria foi geral.

            Quando o médico chegou, ele estava bonzinho, e continuou na festa como se nada houvesse acontecido...

 

Fico por aqui. Qualquer semelhança é mera coincidência.

 

Ansilgus

ansilgus
Enviado por ansilgus em 06/02/2011
Reeditado em 11/02/2011
Código do texto: T2776234
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.