Por muito tempo a barbearia representou bem mais que o estabelecimento para remover os pelos do rosto. Era um lugar separado do mundo profano comum, quase sagrado para os homens. Um ponto de encontro, um espaço para conversar sobre os assuntos mais palpitantes.
Mas no fim do século dezenove, quando o caixeiro viajante americano King Camp Gillette inventou a lâmina descartável de barbear, se iniciou a triste decadência da milenar profissão de barbeiro.
Na vila de Mangabeira, a barbearia de Chiquinho da Carnaúba significou para aquele distrito cearense o que o estabelecimento do barbeiro Vicente Cesário representou para a cidade de Várzea Alegre.
Na década de setenta, antes da popularização das lâminas de Gillete, Chiquinho da Carnaúba se preparava para fazer a barba do agricultor Zeca Duarte quando verificou a completa falta de água no estabelecimento. Sem perder tempo, o barbeiro cuspiu discretamente no sabonete para produzir a necessária espuma. Embora já deitado na cadeira especial, o cliente viu a repugnante cena e reclamou:
- Chiquin, tá cuspindo no sabonete?
Já com o pincel repleto de espuma na mão, o barbeiro mangabeirense respondeu
- Hômi, você tem é sorte. Tem gente que eu cuspo é na cara...
Colaboração: Vicente Ferreira Lima Filho(Lima)
(imagem Google)