Amor e sexos.
AMOR E SEXOS.
Paulo Fernando Mello.
Três histórias contadas de modo fragmentado. Uma ótica bem humorada sobre as relações sexuais, os desejos e o amor duradouro.
(PARTE 1)
Inicia-se o espetáculo com um som de conexão com a internet. Estão em cena, Lobo Tarado e Gata Maluca. Eles ainda não se conhecem.
Lobo Tarado anda de um lado para o outro, muito nervoso. Gata Maluca, muito mais calma, aguarda tranquilamente o encontro.
Lobo Tarado olha para os lados, completamente tenso. Finalmente se encontram.
LOBO TARADO
Você é você?
GATA MALUCA
Sim! Eu sou eu!... Você é o “Lobo Tarado”?
LOBO TARADO
E a senhora, a “Gata Maluca”?
AMBOS
Da internet! Prazer!
GATA MALUCA
Nossa! Que legal!...Já tive vários encontros com homens da internet, posso até dizer que sou uma expert nisso, mas apesar dos inúmeros encontros que tive, por mais experiência que tenha, nunca sei ao certo o que dizer nessas horas...
LOBO TARADO
(sempre muito nervoso) Pois eu sei muito bem o que dizer nessas horas...
GATA MALUCA
(sedutora) Então me diga...
LOBO TARADO
(puxando um revólver) Isso é um assalto!
GATA MALUCA
(mantendo a calma) Não acredito! Você se deu ao trabalho de teclar comigo, me cativou, foi super simpático, tudo isso já com a intenção de me assaltar?
LOBO TARADO
Mas é claro! Não é comum nos bate papos da internet aquelas perguntas tradicionais: “Como você é? Quantos anos você tem? Tecla de onde? O que você faz?”... Isso para mim já é o suficiente para traçar o perfil da minha vítima... E a senhora me pareceu perfeita para um assalto.
GATA MALUCA
Mas por que todo esse trabalho?
LOBO TARADO
Madame, os tempos são outros! Nós, ladrões profissionais, precisamos nos atualizar. O mercado de assaltos está muito competitivo, por isso precisamos nos diferenciar, e aí a senhora sabe muito bem, hoje em dia quem não sabe informática, tá fora! É a informática trazendo benefícios para todos os ramos.
GATA MALUCA
Isso é sério?
LOBO TARADO
Seriíssimo! Agora deixe de conversa fiada... Isso é um assalto!
GATA MALUCA
Por favor, não me violente!
LOBO TARADO
Deixe de frescura! Eu só quero a sua bolsa!
GATA MALUCA
(desapontada) Como? Você não vai me estuprar?
LOBO TARADO
Não!
GATA MALUCA
(indignada) Por quê?
LOBO TARADO
Porque não sou estuprador! Eu sou um ladrão!
GATA MALUCA
Fale a verdade! Você me achou feia?
LOBO TARADO
Não!
GATA MALUCA
Gorda?
LOBO TARADO
Não!
GATA MALUCA
Baixa? Barriguda?... Mau hálito, chata...?
LOBO TARADO
Não, não, não e não!
GATA MALUCA
Estamos num lugar deserto, ninguém por perto. Eu não lhe causo nenhum desejo?
LOBO TARADO
Eu não vim com essa intenção. Sou um ladrão, preciso apenas de dinheiro!
GATA MALUCA
Eu tô sem dinheiro. (T) Aceita balinha? Todo lugar que vou sempre me dão balinha como troco.
LOBO TARADO
(mostrando o revólver) Deixe de graça! Senão, eu é que vou meter uma “balinha” na sua cabeça!
GATA MALUCA
Ai, meu Deus! Mas quem é que anda com dinheiro hoje em dia? (vasculhando a bolsa) Tenho um cartão de crédito, mas já estourei o limite. O custo de vida está um absurdo, não é mesmo? Os artigos femininos, então. Uma calcinha, quanto menor ela for, mais cara ela vai custar. (se insinuando) A que estou usando foi uma fortuna... Caríssima... Se é que você me entende.
LOBO TARADO
Sem blá,blá,blá. O dinheiro!
GATA MALUCA
Eu não tenho dinheiro!
LOBO TARADO
E essa nota de cinquenta aí?
GATA MALUCA
E você chama isso de dinheiro? Quanto desespero, meu Deus.
LOBO TARADO
É! Eu tô desesperado, sim!
GATA MALUCA
Eu também tô desesperada! (atrevida) Vamos resolver isso, me pega de jeito!
LOBO TARADO
Não insista minha senhora! É contra os meus princípios!
GATA MALUCA
(indignada) Todo homem que conheci pela internet, eu transei. Não admito que você queira ser a exceção da minha regra.
LOBO TARADO
(abismado) Transou com todos que conheceu? Todos, todos?
GATA MALUCA
Sim!
LOBO TARADO
Velhos, gordos, altos, baixos, banguelas, fedorentos?
GATA MALUCA
Não exatamente. Eu tenho o meu padrão de qualidade.
LOBO TARADO
Escolhe as suas vítimas então.
GATA MALUCA
Mas é claro! Não é comum nos bate papos da internet aquelas perguntas tradicionais: “Como você é? Quantos anos você tem? Tecla de onde? O que você faz?”... Isso para mim já era o suficiente para traçar o perfil da minha vítima... E você me pareceu perfeito para uma transa.
LOBO TARADO
Mas por que todo esse trabalho?
GATA MALUCA
Meu caro, os tempos são outros! Nós, taradas profissionais, precisamos nos atualizar. O mercado do sexo está muito competitivo, por isso precisamos nos diferenciar, e aí você sabe muito bem, hoje em dia quem não sabe informática, tá fora! É a informática trazendo benefícios para todos os ramos.
Silêncio de ambos. Assustam-se com esse Déjà vu.
LOBO TARADO
Olha, esse papo está muito estranho. Muito confuso. De repente embaralhou tudo. Quem é a vítima? Quem é o algoz?
GATA MALUCA
Você filosofa demais para um ladrão.
LOBO TARADO
E por que não haveria de filosofar? Eu sou um ladrão que pensa, e se penso, logo existo. (gritando, voltando pra real) Isso é um assalto! (T) Mas cartesiano que isso, impossível.
GATA MALUCA
A parte do assalto eu já entendi. Agora, a parte do sexo tá difícil de você entender, não?
LOBO TARADO
Tá louca! A senhora mesma acabou de confessar que transou com vários desconhecidos. Sei lá se já pegou alguma doença.
GATA MALUCA
Não me ofenda! (tira da bolsa e mostra pra ele uma cartela enorme com vários preservativos)
LOBO TARADO
Impressionante. Mas eu não vou fazer amor com a senhora!
GATA MALUCA
(ri debochadamente) E quem está falando de amor aqui, querido? O mundo está carente. Amor é a coisa mais fácil de achar hoje em dia. Quero sexo! (T) Me agarre! Me violente, vamos!
LOBO TARADO
Eu não vou estuprar a senhora!
GATA MALUCA
Você é bicha!
LOBO TARADO
Não apela, não!...Eu não quero transar com a senhora e pronto! Pelo amor de Deus!...Eu só quero fazer um assaltozinho básico, pombas! E vai ser agora!
CORTE__________________________________________________
(PARTE 2)
Penumbra. Quarto de um Motel. O casal de namorados, Júlia e Roberto, estão numa relação sexual. A relação parece estar no ápice.
JÚLIA
(fogosa) Não para! Não para!... Eu tô quase chegando “lá”!... Eu tô quase chegando “lá”!... Eu tô quase chegando “lá”!
Luz. Roberto interrompe o ato.
ROBERTO
(ofegante) Tem certeza que você conhece o caminho? Há quarenta minutos que você tá quase chegando “lá”... E nunca que chega, pô!
JÚLIA
(desapontada) Cretino! Impressionante a sua capacidade de cortar o meu barato. Eu já ia chegar “lá”. Você precisa ter paciência!
ROBERTO
Com você eu não preciso de paciência, e sim de um GPS sexual feminino: (encenando) mantenha a esquerda. Agora um pouco mais pra direita, dê uma subidinha, desça rápido, pegue a reta e vai fundooooooooooo...
JÚLIA
Sem graça! (T) Ai, Roberto! Como você consegue ser tão bobo numa hora tão bacana pra gente? É tão difícil assim, ser mais sensível, mais polido, gentil, amoroso, sensato?
ROBERTO
Eu tenho alguns amigos assim.
JÚLIA
E então?
ROBERTO
São todos gays.
JÚLIA
Tá difícil, Roberto. Tá difícil!
ROBERTO
Tá difícil, Júlia, porque eu estou há horas na mesma posição. Procure entender meu lado, meu Deus!
JÚLIA
(paciente) As mulheres têm um ritmo diferente. Temos um outro tempo. Mulher demora mais mesmo.
ROBERTO
Que mulher demora mais, eu sei. Demora mais pra tomar banho, pra se arrumar, pra olhar as lojas...
JÚLIA
É da nossa natureza.
ROBERTO
Humm! A lentidão é da natureza de vocês. Que legal! Aprendi mais uma: a mulher descende das lesmas.
JÚLIA
Roberto, que nojo! Como você pode falar em lesma, aquele bicho que solta baba, justamente quando a gente está transando? (T) Já sabe: sexo oral nem pensar!
ROBERTO
Pronto! Começou a frescura. (colocando a mão na coluna e sentindo dor) Ai, ai, ai,ai...
JÚLIA
O que foi?
ROBERTO
Acho que dei um mau jeito.
JÚLIA
Você não acha que tá muito novo pra ficar assim, todo cacarecado?
ROBERTO
Ah, tá! Fica duas horas no mesmo movimento: (faz) vuco, vuco, vuco, vuco... (sente dor) Ai, ai, ai, ai...
JÚLIA
A coluna?
ROBERTO
Agora foi a pélvis.
JÚLIA
Não ouço essa palavra desde a época do ensino médio, pélvis.
ROBERTO
Mas quem joga futebol conhece bem essa palavra.
JÚLIA
E você joga futebol? (T) Com todo esse preparo físico? (T) Futebol de botão, né?
ROBERTO
Você não me provoca. (tenta jogar um travesseiro nela e dá um mau jeito) Ai, ai, ai, ai...
JÚLIA
Coluna? Pélvis?
ROBERTO
Omoplata.
JÚLIA
Ótimo! Não vamos mais transar. Vamos brincar de estátua, antes que você saia daqui todo enfaixado, sem, sequer, conseguir mexer os olhos.
ROBERTO
(rindo) Seria engraçado, eu todo enfaixado e a minha “seta” ali, em riste.
JÚLIA
(debochada) “Seta” em riste? Só se for indicando: “Aqui um frouxo.”.
ROBERTO
Você fala isso porque pra mulher é moleza.
JÚLIA
(olhando na direção do “pinto” dele) No meu caso, foi moleza mesmo.
ROBERTO
Não debocha, não. Não debocha porque eu tô certo. A mulher fica lá, paradona, enquanto o homem é que faz todo o serviço. Aí fica fácil tirar onda.
JÚLIA
Se a mulher está lá “paradona”, é porque a música que está tocando não é boa. E a culpa é do instrumentista. Tá desafinado, fora de compasso.
ROBERTO
Não! Nem sempre a culpa é do instrumentista. Às vezes o local em que o instrumento está tocando, é que não é bom. A acústica é uma merda. Muito eco. Entende? Aí o instrumentista não pode fazer milagres.
JÚLIA
Olha, Roberto! Eu me recuso a traçar um duelo de metáforas com você.
ROBERTO
Foi você quem começou.
JÚLIA
Quem começou foi você: “Tem certeza que você conhece o caminho? Há quarenta minutos que você tá quase chegando “lá”... E nunca que chega, pô!”.
ROBERTO
Mas essa metaforazinha nem se compara com: “A música não é boa, a culpa é do instrumentista. Tá desafinado, fora de compasso.”. Fala sério!
JÚLIA
(meiga) Poxa, Roberto. A gente sonhou tanto com esse momento. Desejamos tanto estar aqui ... Se curtir ... Relaxa.
ROBERTO
Fica difícil relaxar. Você não chega ao orgasmo de jeito nenhum. Pelos meus cálculos, já vou ter que pagar dois períodos aqui no Motel. E estamos entrando no terceiro, hein! Tem que acelerar Júlia. Tem que acelerar.
JÚLIA
(insinuante) Tem que acelerar, é? Então vem, meu piloto de fórmula 1. Vem pro teu possante. (agarra ele) Pisa fundo!
Roberto cai na gargalhada.
JÚLIA
O que foi?
ROBERTO
(cínico) Acho que ouvi o escapamento do teu cano de descarga.
Júlia, chateada, dá vários tapas nele, enquanto ele morre de rir.
ROBERTO
Isso não vai acabar bem. (continua rindo)
CORTE ________________________________________________
(PARTE 3)
Um casal de velhinhos. Adamastor lê o jornal calmamente. Matilde entra furiosa.
MATILDE
Velho safado! Sem vergonha! Descarado!
ADAMASTOR
O que é isso mulher de Deus? Enlouqueceu de vez?
MATILDE
Pensa que não vi com esses olhos que a terra há de comer um dia? E no que depender de mim, esse dia ainda vai demorar muito. Agora, o seu dia chegou! É hoje! Já!
Corre – corre entre os dois.
ADAMASTOR
Viu o quê, hein?... Aposto que vai me acusar de ter feito xixi na tampa do vaso de novo.
MATILDE
Não banque o desentendido! Você não tirou os olhos das coxas da faxineira que veio hoje aqui.
ADAMASTOR
É isso? Essa bobagem? Eu não olhei para a coxa de ninguém, até porque, na minha idade eu não enxergo tão bem assim... (canto da boca) Que nessas horas é uma pena.
MATILDE
Mentiroso! Assanhado! Cínico! Tu não me enganas, não!
ADAMASTOR
Se acalme! Olhe a safena!
MATILDE
Não tem safena! Tem é safanão! (Corre – corre entre os dois.).
ADAMASTOR
Já estou sentindo a pressão subir!
MATILDE
Mas você não pensou nisso quando olhou pras coxas da faxineira. Aliás, na sua idade a única coisa que sobe mesmo é a pressão.
ADAMASTOR
É impressionante como você implica com todas as empregadas que nós temos.
MATILDE
Tenho meus motivos.
ADAMASTOR
Tem nada.
MATILDE
Como não? Uma, pegava ela direto dormindo no sofá.
ADAMASTOR
A culpa foi sua. Colocou no anúncio: “Preciso de empregada que durma no serviço”.
MATILDE
Não banque o velho bocó! (T) Teve aquela que nunca limpava por baixo da parte de dentro da estante.
ADAMASTOR
Implicância sua. Nem os ácaros conhecem esse lugar.
MATILDE
E teve aquela que era super mal acostumada. Se gabava que de onde vinha tinha roupa de cama lavada toda semana, 5 refeições diárias, fazia trabalho manuais e dormia o dia todo.
ADAMASTOR
Pois é. Mas como poderíamos adivinhar que ela estava era na cadeia? (T) Mas a colega dela, que veio depois, era boa de limpeza.
MATILDE
Sim. Limpou nossas carteiras. Levou todas as nossas economias. (T) Eu não dou sorte com empregada mesmo. Aí, quando penso que acertei, vem você e fica babando, olhando pras pernas da coitada.
ADAMASTOR
Não acredito! Ciúme? Na nossa idade? Onde já se viu?
MATILDE
Eu tenho sentimentos!
ADAMASTOR
Você tem é um tubo aí dentro do coração e deveria se preocupar com ele. Depois de velha, ciumenta. Pode uma coisa dessas?
MATILDE
Ciumenta não. É pela sua falta de respeito. Estamos casados há cinquenta anos. Eu mereço um pouco mais de consideração da sua parte, você não acha?
ADAMASTOR
Depois de certo tempo de convivência, as pessoas não mais se consideram, se toleram...
MATILDE
(quase chorando, indignada) É tudo o que você tem pra me dizer?
ADAMASTOR
Pare com isso! Você está vendo novelas demais. Começa assim, daqui a pouco tem que tá botando remédio debaixo da língua. Vai me dar trabalho.
MATILDE
(decidida) Eu vou pra casa da minha mãe!
ADAMASTOR
Deixe de graça! Sua mãe morreu têm uns vinte anos. (ela chora.)
ADAMASTOR
Pare com esse berreiro! Estou ficando nervoso! (mostrando a frente da calça) Você sabe que não posso ficar nervoso. Sofro de incontinência urinária... Eu volto já. (corre para o banheiro)
CORTE__________________________________________________
(PARTE 4)
GATA MALUCA
Por favor! Esqueça essa história de assalto, só por um instante. Me ouça. (T) Estou há duas semanas em constantes sessões de análise para curar o meu complexo de rejeição. Me preparo toda, boto um vestido insinuante, perfume afrodisíaco, marco um encontro com um desconhecido da internet, num lugar deserto do Rio de Janeiro, um prato feito para qualquer tarado e é isso que você tem a me dizer? Que não vai transar comigo e pronto!... O que você quer? Me enlouquecer? E o meu complexo de rejeição, onde fica?
LOBO TARADO
Volte ao computador, marque um novo encontro... Eu não posso fazer isso... Sou casado!
GATA MALUCA
Você nunca traiu sua mulher?
LOBO TARADO
Nunca!
GATA MALUCA
Faltou oportunidade. E oportunidade é meu nome. Vamos lá, garotão!
LOBO TARADO
Eu não posso fazer isso com a minha mulher. Enquanto estou aqui trabalhando honestamente (refletindo sobre o que acabou de falar). Enfim, enquanto estou aqui trabalhando, minha esposa está em casa me esperando com um copo de leitinho morno.
GATA MALUCA
Ah, que bonitinho! Ele toma leitinho morno. O lobo é um gatinho. Vem com a sua gatinha maluca, vem.
LOBO TARADO
Mas a senhora, hein? Francamente. Só pensa bobagem. Isso é falta de Deus no coração.
GATA MALUCA
Você me aponta uma arma, dá voz de assalto, pega meu dinheiro, e sou eu que não tem Deus no coração?
LOBO TARADO
É diferente! Na verdade, isso que estou fazendo é apenas um pedido de ajuda. Só que eu faço isso de uma forma mais contundente. O revólver é uma forma de incentivo pra senhora me ajudar. (T) Já ouviu falar em “Marketing de guerrilha”? É mais ou menos isso.
GATA MALUCA
E onde entra Deus nessa história?
LOBO TARADO
Bem, digamos que a senhora participou de uma espécie de dízimo involuntário.
GATA MALUCA
Você é muito cínico. Essa transa está com jeito que vai ser maravilhosa.
LOBO TARADO
Mas que transa? Não delira. Não vai ter transa nenhuma!... (gritando) Eu só quero te assaltar, porra!
GATA MALUCA
Mas o que te impede de também transar comigo?
LOBO TARADO
A mulher maravilhosa que tenho em casa me esperando.
GATA MALUCA
Vamos raciocinar juntos!...Você é pobre, logicamente sua mulher também é pobre. Concluímos então, que ela seria incapaz de estar tão bem cuidada quanto eu, de estar tão perfumada quanto eu, de estar usando a lingerie que estou usando... Pense bem meu rapaz, quando na sua vida, você terá outra oportunidade de possuir uma mulher como eu?
Lobo Tarado a examina de todas as formas. Gata Maluca se insinua
LOBO TARADO
Bem ... Foi a senhora quem pediu!
Ele a agarra. Gata Maluca grita assustadoramente.
GATA MALUCA
Aiiiii! Socorro! Socorro!... Ajudem-me! Alguém me ajuda!
LOBO TARADO
(parando) O que é isso? Ficou louca? Gritando desse jeito vai chamar a atenção. Alguém pode aparecer.
GATA MALUCA
Estupro que é estupro tem que ter grito. Eu preciso de um clima.
LOBO TARADO
Ah não! Gritando desse jeito, tô fora! (saindo)
GATA MALUCA
Espere! (tirando uma mordaça de dentro da bolsa) Me amordace. Assim ninguém vai ouvir os meus gritos.
LOBO TARADO
Poxa! A senhora pensou em tudo mesmo.
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(PARTE 5)
Júlia faz exercícios de alongamento com as pernas.
ROBERTO
Isso agora é o quê?
JÚLIA
Ginecologistas recomendam exercícios que fortaleçam a musculatura vaginal. Dizem que ajuda e muito pra chegar ao orgasmo. (terminando) Agora estou pronta!
ROBERTO
Pras Olimpíadas! Se eu tivesse uma plaquinha aqui, agora, levantaria dando sua nota: 9,4.
JÚLIA
É sério, Roberto. O alongamento ajuda na contratura muscular vaginal e isso facilita o orgasmo pleno.
ROBERTO
(irônico) Acredito. Acredito. Agora entendo a constante cara de felicidade da Daiane dos Santos.
JÚLIA
(sexy) Larga de bobeira e vamos tentar novamente, hein, que tal?
ROBERTO
Ô, meu amor. Você sabe o quanto eu te desejo. Mas nem sempre o corpo físico acompanha nossa mente. Era só isso que eu queria que você entendesse. É óbvio que eu quero te dar prazer também.
JÚLIA
Eu sei, amor. Agora eu vou conseguir, você vai ver. (T) Se quiser dar uma ajudinha, você pode falar coisas que estimulem uma mulher, que excitem uma mulher, que mexam com a adrenalina de uma mulher.
ROBERTO
(debochado. Ao ouvido de Júlia) Liquidação total no Shopping! Queima de estoque! Corra! Corra! Corra!...
JÚLIA
(acabando com o clima, batendo em Roberto) Sacana! Ô, Roberto, o que você quer? Transar ou contar piada? Me fala. Porque se for pra ficar ouvindo essas piadinhas, tô fora! Até porquê, não tô achando graça nenhuma!
ROBERTO
Tá bom, tá bom! Me desculpe. Exagerei, reconheço. Sou um idiota mesmo. Uma mulher maravilhosa na minha frente e eu aqui perdendo tempo. Juro que isso não vai se repetir.
JÚLIA
Acho bom!
Penumbra. Voltam aos afagos. Voltam à relação sexual. A luz dá ideia de que passou bastante tempo. Ao abrir a luz, Roberto está exausto, ofegante. Júlia fica muito preocupada.
JÚLIA
Ai, meu Deus! Calma, Roberto! Relaxa. Não vai ter um piripaque aqui, né? Por favor! (T)
ROBERTO
(muito exausto) Sabe, Júlia. Você não precisa de um namorado. Você precisa de um triatleta, um maratonista! (T)
JÚLIA
(muito chateada) Você é um brocha, Roberto!
ROBERTO
(muito indignado) Brocha? Epa! Epa! Epa! Vamos parando por aí! Tá perdendo a noção de perigo, tá?
JÚLIA
A minha vontade é de te matar, sabia? Vocês são todos uns egoístas mesmo. Você rapidinho chegou “lá”. Agora eu, euzinha aqui, que se lixe. Eu tinha que deixar você na mão... Literalmente. (T) Eu vou embora! É o melhor que faço.
Júlia começa a arrumar suas coisas.
ROBERTO
(se acalmando) Por favor, não sai assim. Calma. Acho que é esse maldito cigarro que tá acabando comigo. Espere um pouco. Vou tomar uma ducha e já volto. Vai me fazer bem. Vou voltar revigorado.
Roberto sai. Ouve-se som de chuveiro. Júlia está muito chateada, impaciente. Roberto volta.
ROBERTO
Vamos discutir a relação.
JÚLIA
Discutir a relação? Não acredito. Você me dizendo isso?
ROBERTO
E qual o problema?
JÚLIA
Toda vez que eu pedia pra discutir a relação, você quase tinha um troço.
ROBERTO
“Toda vez”, entenda-se: eu assistindo futebol, meu time jogando.
JÚLIA
Mas eu achava que o nosso jogo era mais importante. O jogo do amor. Mas você preferia o jogo da TV.
ROBERTO
Não dá para comparar. O jogo da TV tem pegada, tem disputa, emoção, adrenalina.
JÚLIA
Não vejo vantagem em relação ao nosso jogo, o jogo do amor. Queria ver se eles tivessem também uma bola murcha pra jogar, como a que eu tenho.
ROBERTO
Bola murcha? Você tem uma bola murcha? Tá me chamando de bola murcha? (T) (chateado) Pois dê graças a Deus pela bola murcha que você tem. Dê graças a Deus por eu ser uma bola murcha. Afinal, pra jogar num campo esburacado, tá muito bom!
JÚLIA
(indignada) Campo esburacado? Como assim? É das minhas celulites que você tá falando, é? Canalha! Você está se referindo às minhas celulites?
ROBERTO
Júlia, eu não vim aqui pra brigar com você. Vim aqui pra gente ter um lance legal.
JÚLIA
Legal? Você está falando de um “lance legal”? Legal pra quem? Quando não são as piadinhas idiotas, são as grosserias como essa: “campo esburacado”, sei. (T) Meu Deus, não acredito! Fui chamada de “campo esburacado”.
ROBERTO
E eu de “bola murcha”.
JÚLIA
(batendo palmas) Parabéns! Você queria estragar o nosso dia? Conseguiu. Parabéns!
ROBERTO
Não, Júlia. Eu não quero estragar dia nenhum. Chega de briga, vai. (T) Então, me diga, o que você quer que eu faça?
JÚLIA
(irônica) Bem, vejamos: estou num Motel com o meu namorado. Aí ele me pergunta o que eu quero que ele faça? O que será que eu quero que ele faça?... Que jogue vídeo game, pombas!
ROBERTO
(empolgado) Tem vídeo game aqui?
JÚLIA
Vai se catar, Roberto!
ROBERTO
Tá bom. Respiremos fundo. Nos acalmemos. (ele faz) (sedutor) Vamos começar do zero.
JÚLIA
(cedendo) Roberto, capriche nas preliminares.
ROBERTO
Preliminares?
JÚLIA
Nós mulheres adoramos.
ROBERTO
E eu lá quero perder tempo enfeitando o bolo. Eu quero é comer!
JÚLIA
Grosso!
CORTE__________________________________________________
(PARTE 6)
Matilde tira um lencinho do sutiã, enxuga as lágrimas e começa a arrumar suas coisas numa pequena bolsa. Adamastor entra com a frente da calça toda molhada.
ADMASTOR
Já não tenho a agilidade de outrora... (vendo Matilde arrumar a bolsa) Ei! O que você está fazendo?
MATILDE
Dançando o “Rebolation”... Não tá vendo? Tô arrumando minhas coisas. Vou embora!
ADAMASTOR
Embora pra onde, criatura? Você sabe que não temos ninguém. Somos apenas nós dois.
Matilde volta a chorar.
ADAMASTOR
O que foi dessa vez, mulher?
MATILDE
Filhos. Se eu tivesse filhos, agora teria pra onde ir, mas você foi incapaz de me dar filhos, até isso você me negou.
ADAMASTOR
Opa! É bom parar por aí! Isso é golpe baixo! Quando nos conhecemos você sabia perfeitamente que eu não podia ter filhos. Sou estéril.
MATILDE
Então por que não adotamos?
ADAMASTOR
Não me sentiria bem com essa situação. Filho, pra ser filho, teria que sair da minha semente, do meu tronco...
MATILDE
E qual a vantagem? Antigamente a semente era improdutiva e hoje... O tronco apodreceu.
ADAMASTOR
Olha o golpe baixo! Golpe baixo, hein!
Ficam emburrados. Adamastor leva a mão ao peito do lado direito e simula um enfarte, fazendo o maior drama.
ADAMASTOR
Meu coração... Meu coração...
MATILDE
(indiferente) A falta de memória na velhice é mesmo uma droga... O coração fica do lado esquerdo, velho bocó!
ADAMASTOR
(sem graça, tentando disfarçar) Pra você ver como ele tá inchado.
MATILDE
Inchado vai ficar seu nariz! Agora deixa eu acabar de arrumar as minhas coisas.
Ele fica observando ela arrumar a mala.
ADAMASTOR
Ei! Esse livro é meu! Aquele que peguei na biblioteca do Exército e não devolvi!
MATILDE
Você tinha me dado de presente.
ADAMASTOR
Dei, mas estou tomando. O livro é meu e faço o que quiser com ele. Vou devolvê-lo à biblioteca.
MATILDE
A sua ficha, as traças já devem ter devorado. Isso tem uns trinta anos.
ADAMASTOR
Não tem problema! Nunca é tarde para reparar um erro!
MATILDE
Exatamente! Por isso estou decidida... Vou embora!
ADAMASTOR
Mas antes devolva o livro.
MATILDE
É o livro que você quer? (batendo nele com o livro) Então, toma! Toma! Toma...
ADAMASTOR
Ei! Isso machuca! Antigamente os livros de capa dura... As capas eram realmente duras!
MATILDE
Então viva as coisas antigas! (batendo nele) Toma! Toma!
ADAMASTOR
(tira o livro da mão dela e ameaça bater nela) Toma você...
MATILDE
(encarando ele. Intimidando) Vai me bater?
ADAMASTOR
(cordeirinho) Não querida... Quis dizer...Toma você... Um calmante, vai se sentir melhor.
Ela pega o livro novamente e corre atrás dele. Atira o livro nele, ele se abaixa num reflexo.
ADAMASTOR
Você não contava com meu reflexo... E eu não contava com esse jeito na coluna... (vai se erguendo com dificuldade)
MATILDE – Droga, errei! Vou na estante pegar mais munição.
ADAMASTOR - Ahhhh... Estou ficando nervoso de novo. (corre para o banheiro e volta com a calça mais molhada ainda)... Já não tenho a agilidade de outrora.
CORTE_______________________________________________________
(PARTE 7)
Gata Maluca sorri matreiramente. Lobo Tarado a amordaça e a joga no chão. Sobe em cima dela que automaticamente começa a se debater. Gata Maluca dá uma joelhada nos testículos dele. Lobo Tarado rola no chão desesperado de dor. Gata Maluca tira a mordaça.
GATA MALUCA
O que foi?
LOBO TARADO
E a senhora ainda pergunta? Quase deixa meus ovos esmagados!
GATA MALUCA
E você queria o quê? Que eu fosse estuprada passivamente?
LOBO TARADO
Olha, assim não dá! É a senhora que está querendo ser estuprada, por tanto, tem que facilitar.
GATA MALUCA
Facilitar num estupro? Ficou maluco, é?
LOBO TARADO
Bem que um amigo me avisou... Só dá maluco nessa internet!... Escuta aqui minha senhora: eu não fiz a mínima questão de te agarrar, eu só queria um assalto, um assalto simples como manda a tradição. Eu diria: mãos ao alto! A senhora ficaria assustada, me passaria a bolsa, eu sairia correndo, a polícia iria demorar pra chegar e tudo correria numa boa, como a população já está acostumada... Agora, a senhora vem com essa ideia de ser estuprada. A senhora quer ser agarrada? Então tem que facilitar as coisas! Eu estou num desvio de função! Tem que facilitar!
GATA MALUCA
Não acredito! Não acredito!... Além do meu complexo de rejeição, você quer me colocar um complexo de culpa... Mas de jeito nenhum! Até porque, a culpa é sua! O problema está em você!
LOBO TARADO
Em mim?
GATA MALUCA
Claro! Eu estou fazendo minha parte de vítima. Já você... Precisa ser mais violento, me dominar.
LOBO TARADO
Está bem! Mas se eu machucar a senhora, não vai reclamar, hein?
GATA MALUCA
Pronto! Estamos começando a nos entender!
Lobo Tarado a amordaça novamente. A joga no chão, sobe em cima dela com mais violência e a domina. Rolam, rolam, até que Lobo Tarado para, senta triste num canto e fica desolado.
GATA MALUCA
(tirando a mordaça) O que foi desta vez?
LOBO TARADO
(apontando para o pênis) Isso nunca me aconteceu antes.
GATA MALUCA
Calma! Relaxa! Você vai conseguir! (pegando cigarros na sua bolsa e lhe dando)... Fume. Sempre ajuda.
LOBO TARADO
(aceitando) Muito obrigado!
GATA MALUCA
Você deve estar com muitos problemas em casa.
LOBO TARADO
A senhora nem queira saber!
GATA MALUCA
Desabafa comigo. Vai se sentir melhor (pegando na bolsa uma garrafinha de conhaque)... Beba um pouquinho. É conhaque. Você vai ficar tinindo!
Lobo Tarado bebe e fuma enquanto Gata Maluca massageia suas costas.
LOBO TARADO
A senhora não sabe o que é perder a dignidade e sair conhecendo as pessoas pela internet para assaltá-las... É aquela velha história, não faço isso porque gosto, são forças das circunstâncias... O grande desafio é: “Como eliminar os marginais?”. Mas os poderosos não pensam em atacar a causa, que é resolver o problema da miséria, da injusta distribuição de rendas. Os grandes poderosos ainda não se conscientizaram que não somos causa, somos efeito...
GATA MALUCA
(cortando) Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas esse seu discurso PT década de 80, não me interessa. Quero saber o seguinte: e o meu estupro? Como é que fica?
LOBO TARADO
(se levantando e saindo) Sinto muito! Estou sem energia!
GATA MALUCA
Ah, é falta de energia, é? (maliciosa) Talvez um bom “fio terra” resolva.
LOBO TARADO
(assustado) Opa! Eu não gosto dessas coisas, não. A virgindade do meu orifício reto folicular é sagrada!
GATA MALUCA
Nós estávamos indo tão bem.
LOBO TARADO
Desculpe! Fiquei deprimido!
Gata Maluca começa a dançar super estranha e emitir sons esquisitos.
LOBO TARADO
O que isso significa?
GATA MALUCA
É a tradicional dança do acasalamento Tailandesa. É usada pelas fêmeas para atrair os guerreiros. O ponto forte está nos mantras que ativam o chacra básico despertando o kundalini...
LOBO TARADO
No "kun" de quem, dona?
Gata Maluca emite mantras esquisitos e LoboTarado olha assustado e perplexo.
GATA MALUCA
Aposto que neste momento você nunca ardeu de tanto desejo por uma mulher...
LOBO TARADO
(assustado) Sinto muito. Não vai dar!
GATA MALUCA
(sacando uma arma de dentro da bolsa) Jogue seu revólver no chão e mãos ao alto!
LOBO TARADO
Mas... Mas... O que deu na senhora?
GATA MALUCA
Não saio daqui sem ser estuprada!
CORTE__________________________________________________
(PARTE 8)
Júlia anda de um lado para outro segurando a barriga na altura da bexiga. Ela está muito apertada para urinar.
ROBERTO
Vai logo ao banheiro mulher!
JÚLIA
Dr. Malcolm Montgomery! Dr. Malcolm Montgomery! (corre pro banheiro)
ROBERTO
Doutor? Que história é essa de doutor? (T) Ai, meu Deus! Você não está com nenhuma doença venérea não, né?
Som de descarga. Júlia volta.
JÚLIA
Não viaja, Roberto. Dr. Malcolm Montgomery. Um dos maiores ginecologistas e obstretas do Brasil. Vários livros publicados. Ele ensina uma técnica para ajudar no orgasmo feminino. A mulher tem que segurar o jato urinário por dez segundos.
ROBERTO
(desdenhando) “Grandes técnica”. Qualquer um quando tá apertado e libera, é um orgasmo. (fazendo) Ahhhh....
JÚLIA
(doce) Roberto, não vamos estragar o nosso dia, vamos?
ROBERTO
Claro que não amor. Claro que não.
JÚLIA
Será que dessa vez a gente consegue?
ROBERTO
Sim. Dessa vez, vai!
JÚLIA
Preliminares?
ROBERTO
Preliminares?
JÚLIA
Sim. Preliminares!
ROBERTO
Lá vem você com esse papo de novo.
JÚLIA
Ah, Roberto!
ROBERTO
E você? Você não faz as preliminares comigo.
JÚLIA
Da última vez que fiz, em 5 minutos você já estava dormindo. (T) Sabe, eu não gosto muito de entregar o “caminho das pedras”, mas eu te amo tanto. Por isso vou insistir em algumas dicas: Roberto, a mulher quando estimulada antes do ato sexual em si, fica muito mais preparada. Pra ela “chegar lá” é um pulo. Um homem não é só um “pinto”. Existem outros meios. (Júlia mostra, sedutoramente, a língua pra Roberto).
ROBERTO
Estou entendendo o que você está querendo me dizer.
JÚLIA
(sexy) E então?
ROBERTO
(ingênuo) Também estou com fome. Vou pedir alguma coisa pra gente comer.
JÚLIA
Fala sério, Roberto! Que falta de criatividade! Use a língua! Toda mulher adora que façam sexo oral nela.
ROBERTO
Ah... Agora entendi.
JÚLIA
Já não era sem tempo. E então? Rola ou não rola? (mostra a língua)
Roberto dá um sorriso matreiro.
Penumbra. Eles se enroscam debaixo do edredom. A luz dá ideia de que o tempo passou.
A luz volta e Roberto está desesperado com a língua toda enrolada.
JÚLIA
Ai, meu Deus! Roberto tá tendo uma convulsão! Um derrame!
Roberto tenta falar alguma coisa, mas só balbucia.
JÚLIA
Faz mímica. Lembra? Todo mundo já brincou de mímica.
Roberto vai tentando através da mímica e Júlia vai entendendo tudo errado. Num último esforço, Roberto fala enrolado.
ROBERTO
(apontando pra língua) Demorou muito. Deu câimbra, porra!
Silêncio. Fica aquele clima. Roberto, aos poucos, vai melhorando.
JÚLIA
(triste) O problema sou eu. (T) Sim, eu tenho dificuldade de “chegar lá”. (T) Mas queria tanto que você entendesse isso. (chora)
ROBERTO
(se compadecendo) Júlia, e se você se autopreparasse para chegar “lá”?
JÚLIA
Me masturbando?
ROBERTO
Sim... Talvez se utilizando de algum instrumento, objeto. Quem sabe essa não é a solução?
JÚLIA
Me parece tão bizarro.
ROBERTO
É nada. Você sabe que muitas mulheres se utilizam disso.
JÚLIA
(pensativa) Posso tentar. (T) Mas eu utilizaria o quê?
ROBERTO
Ah, sei lá. Vamos pensar. (T) Tive uma ideia! (sai e volta com uma latinha de refrigerante) Serve?
Júlia só leva a mão à cabeça num gesto de haja paciência.
CORTE________________________________________________
(PARTE 9)
Matilde continua arrumando a bolsa. Adamastor só observa. Matilde sai por um instante. Adamastor aproveita e retira tudo da bolsa dela e espalha fazendo a maior bagunça. Adamastor senta, pega o jornal e começa a ler como se nada tivesse acontecido. Matilde volta e se espanta.
MATILDE
O que significa isso? Que bagunça é essa? Você desarrumou tudo que eu havia arrumado.
ADAMASTOR
Não sei do que você está falando.
MATILDE
Como não sabe do que estou falando? As minhas coisas. Eu tinha arrumado tudo dentro da bolsa e agora está tudo fora do lugar. Você fez isso de propósito!
ADAMASTOR
Tudo eu! Tudo eu!... Eu não fiz nada, vê se me deixa em paz Santa criatura!
MATILDE
Mas eu tenho certeza...
ADAMASTOR
(novamente cortando) Na nossa idade a memória é fraca, não temos certeza de nada.
Ela fica abismada, olhando seus utensílios. Adamastor tenta uma aproximação.
ADAMASTOR
Você não tem condição de ir a lugar nenhum. Não podemos mais ficar a mercê de aventuras. Não troque o certo pelo duvidoso. Este é o seu lar, eu sou seu marido. Isto é o certo.
MATILDE
(dando uma reviravolta) Eu vou embora e está acabado! Nem que para isso eu tenha que arrumar a bolsa centenas de vezes! (arruma tudo novamente.). Você agora é minha testemunha! (pegando papel e caneta) Escreva aqui para mim: “Eu vi a Matilde arrumar suas coisas dentro da bolsa”... E não se esqueça de assinar.
ADAMASTOR
Deixe de ser infantil!
MATILDE
Vamos! Escreva: “Eu vi a Matilde arrumar suas coisas dentro da bolsa”...
ADAMASTOR
Não vou me sujeitar a esse papel ridículo!
MATILDE
Se você não escrever e assinar, além de ir embora, espalho pra toda vizinhança e lá na pracinha onde você joga dama, que quando fica nervoso mija a calça toda.
ADAMASTOR
Golpe baixo! Golpe baixo!
MATILDE
Escreve! Vamos! (ele, muito contrariado, escreve.).
MATILDE
(pegando o papel e colocando dentro do sutiã) Vou botar num lugar seguro.
ADAMASTOR
(chateado) Murcho desse jeito, vai segurar o quê?
MATILDE
Quê?
ADAMASTOR
Nada! Nada! ... Eu tô nervoso!
Corre para o banheiro e volta só de ceroula, com a calça toda encharcada na mão.
ADAMASTOR
Já não tenho a agilidade de outrora. Essa tem que botar pra lavar.
MATILDE
(nojo) Hummmm.... Bota lá no tanque junto com as outras.
Ele sai. Ela começa a se enfeitar. Coloca brinco, pulseiras, anéis, colares, um chapéu. Pega um estojinho de maquiagem e começa a se pintar.
Adamastor entra.
ADAMASTOR
Aonde você vai assim?
MATILDE
Por mais difícil que seja de acreditar, estou realmente indo embora.
ADAMASTOR
Mas precisava já estar pronta para o carnaval?
MATILDE
Suas palavras não me ofendem... Seu velho mijão! Só lamento ter tomado essa decisão tão tarde.
ADAMASTOR
Não faça isso, por favor!
MATILDE
(super-romântica, tenta uma aproximação) Por quê? Você tem algum bom motivo para eu ficar?
ADAMASTOR
Claro! Minhas calças estão todas no tanque pra lavar!
MATILDE
(magoada) Vá pedir à faxineira das coxas de fora! (chora)
CORTE_________________________________________________________
(PARTE 10)
Gata Maluca algema o Lobo Tarado.
GATA MALUCA
(neurótica) Agora você vai me estuprar, custe o que custar!
LOBO TARADO
Isso é bem feito pra mim! Não quis dar ouvido a minha mulher. Ela vivia me dizendo: “Cuidado por onde você assalta. O Rio tá muito violento.”. Não quis ouvi-la, deu no que deu.
GATA MALUCA
Não me leve a mal, mas eu também sou vítima das circunstâncias. São noites e noites solitárias. São inúmeras noites em frente à TV clamando por companhia. São inúmeras noites em frente ao computador, caçando, procurando, necessitando desesperadamente ser amada, ser desejada. (T) Eu vou voltar pra casa... E não vai ter ninguém me esperando com um copo de leite morno.
LOBO TARADO
Que forma mais estranha de curar a solidão. Querendo ser violentada, agarrada por um estranho. A senhora é uma pessoa doente. Isso não é normal!
GATA MALUCA
Quem é você para me julgar? O ponto em questão é o desejo, você sabia? Vou te fazer umas perguntas, mas não precisa me responder. Responda mentalmente, apenas para você mesmo, assim você não precisa mentir, nem omitir. (T) Como você lida com seus desejos? Como você lida com suas fantasias eróticas? Gosta de colegiais? Enfermeiras? Travestis? Domésticas? (T) Todos nós temos desejos e fantasias. A diferença entre mim e as demais pessoas, em relação aos desejos, é que eu dou vazão a eles. Eu os vivencio. (dramática) “A única maneira de nos livrarmos da tentação é ceder-lhe.” Oscar Wilde.
LOBO TARADO
(também dramático) Então! O que nos resta? Respirar fundo e gritar, fudeu!
GATA MALUCA
Quem é o autor?
LOBO TARADO
Eu mesmo! (gritando desesperado) Fudeu!
GATA MALUCA
Isso! Grita, extravasa! Libera!
LOBO TARADO
Pode ir tirando seu o cavalinho da chuva. A senhora não vai conseguir nada comigo.
GATA MALUCA
(apontando a arma) É o que veremos!
LOBO TARADO
Abaixe essa arma. Pode ser perigoso. Sem contar que pode aparecer um policial a qualquer momento. Como a senhora vai se explicar?
GATA MALUCA
(caindo na gargalhada) Aparecer um policial? A essa hora? No Rio de Janeiro? Que bandido mais desinformado é você. Hoje a população do Rio não sabe se tem mais medo do bandido que aparece nas ruas, ou do policial que desaparece das ruas.
LOBO TARADO
Engano seu. Tem policial pra tudo quanto é lado.
GATA MALUCA
Tem razão. Tem policial pra tudo que é lado. Difícil é saber de que lado eles estão.
LOBO TARADO
A senhora não sabe o que está fazendo.
GATA MALUCA
Claro que sei. Sabe aquela sua conversa no início: “Quem é a vítima? Quem é o algoz?”... Agora sabemos a resposta.
Gata Maluca avança sobre LoboTarado, rasga-lhe toda a roupa. A luz vai baixando até ao b.o. Os gritos de socorro e agonia dele se misturam com os gritos de prazer dela. Cessam os gritos e a luz vai subindo gradativamente até mostrá-los. Ele: só de cueca com manchas de batom, uma calcinha presa em sua boca e com a maior cara de bobo. Gata Maluca está sentada aos seus pés, apenas de camisola, fuma com um ar de vitoriosa.
GATA MALUCA
A vida é mesmo cheia de surpresas!... Quando eu iria imaginar, que hoje, num simples e singelo encontro da internet, eu iria acabar sendo estuprada... (pra Lobo Tarado) E aí?.... Foi bom pra você? (para a plateia) Seu computador já pode ser desligado com segurança. (dá uma piscadinha).
B. O.
FIM
CORTE__________________________________________________
(PARTE 11)
ROBERTO
Júlia, não me leve a mal, mas será que não seria melhor você buscar um tratamento, um especialista?
JÚLIA
Eu não estou doente! Por que a responsabilidade tem que ser só minha, hein? Você sabia que apenas 30% das mulheres casadas conseguem chegar ao orgasmo?
ROBERTO
E as outras 70%?
JÚLIA
Nunca traíram seus maridos. (ri da sua própria piadinha)
ROBERTO
Não sei onde está a graça.
JÚLIA
Também sei fazer piadinhas.
ROBERTO
Muito da sem graça, isso sim. E você não tem motivo nenhum pra fazer piadinha. Eu estou aqui me matando pra te dar prazer e você não consegue chegar “lá”. Com certeza isso é algum problema, um distúrbio. Você tem que procurar um médico.
JÚLIA
(indignada) Eu tenho que procurar é um homem mais viril.
Roberto fica transtornado com a frase de Júlia.
JÚLIA
Ah, Roberto! Fica assim, não. Você pediu pra ouvir isso.
ROBERTO
E você pediu isso. (dá um tapa nela)
Clima tenso. Ficam se olhando.
ROBERTO
Tá vendo? Tá vendo? Você me faz perder a cabeça! (T) Agora vai lá, faz queixa pra Maria da Penha, faz!
JÚLIA
(perplexa) Eu gostei. (T) Roberto, eu gostei! (T) Não acredito, esse tapa me deu tesão, fiquei excitada. (T) Eu devo estar louca, só pode. (T) Só pode ser mal de família. Minha irmã, doida varrida, vive marcando encontro com estranhos pela internet para transar com eles. Louca, louca, minha irmã. Agora eu.
ROBERTO
Você está falando sério?
JÚLIA
Esse tapa mexeu com a minha libido. Estranho, difícil de aceitar, mas é verdade.
ROBERTO
Não vejo nada de estranho. Já dizia aquele lá, da “Vida como ela é”...
JÚLIA
Nelson Rodrigues.
ROBERTO
Esse mesmo: “Nem toda mulher gosta de apanhar, só as normais”.
JÚLIA
Eu e minha irmã amávamos papai. E ele nos batia e muito. Era a pessoa que mais nos fazia sofrer. Acho que desde cedo aprendemos a relacionar amor com dor. (T) E eu vou me permitir esse prazer, dane-se a opinião das pessoas! Roberto, seja mais selvagem comigo! Seja mais forte, mais violento. Isso me deixa completamente excitada!
Roberto dá um sorrisinho maroto e agarra Júlia com mais veemência.
JÚLIA
Faz Tarzan pra mim, faz...
ROBERTO
(gritando) Aôooooooo, ôooooo, ôooooo, ôooooo!
JÚLIA
Faz King Kong pra mim, faz...
ROBERTO
(batendo no peito) Arrrrrrrrr! Arrrrrrrrr! Arrrrrrrrr!
JÚLIA
Faz cowboy pra mim, faz...
ROBERTO
(T) Cowboy? (T) Cowboy, não! Me lembra aquele filme gay, Brokeback Mountain...
Júlia e Roberto sorriem. Tempo e se agarram ferozmente.
JÚLIA
Sabe, Roberto, eu pensava que era romântica. Flores, poesias, essas coisas. Sonhava com um príncipe encantado, galanteador, cavalheiro. (T) Me lembro de um casal de velhinhos que moravam sozinhos lá perto de casa. Foram encontrados mortos, abraçadinhos. Como se dormissem o mais divino dos sonhos. Ao lado deles, várias fotografias antigas. Achava essa cena linda. Morrer cheio de lembranças. Morrer revivendo. (T) Mas agora eu me encontro numa nova descoberta sexual. (T) Você não é lutador de jiu-jítsu? (sedutora) Pratique comigo.
Roberto dá um “mata leão” nela. Júlia desesperada pede pra ele parar.
JÚLIA
Pô, Roberto! Você e sua sutileza de uma pata de elefante. Não exagera. Quer me matar?
ROBERTO
Mas você pediu.
JÚLIA
Estamos falando de sexo selvagem, viril, com pegada. Não era pra você querer me matar estrangulada.
ROBERTO
Deixa comigo!
Roberto agarra Júlia novamente.
JÚLIA
Meu machão! Isso, meu machão!
ROBERTO
Eu agora vou direto ao ponto! Atacarei seu “clítoris”!
Júlia para desapontada.
ROBERTO
O que foi?
JÚLIA
“clítoris”?
ROBERTO
Que é que tem?
JÚLIA
É que homem que fala “clítoris” corta o tesão de qualquer mulher. (T) Clitóris, Roberto. Clitóris.
ROBERTO
Você quer transar ou me dar aula de português? Então, já que o lance é esse, (agarra ela com força) agora aguenta! E aguenta da nova reforma ortográfica, sem trema. Entendeu? “Não trema”!
Roberto só dá um sacode em Júlia e ela já chega ao orgasmo. Grita, sorri, cara de felicidade, serelepe.
JÚLIA
(vibrando) Ahhhhh!!!!... Eu cheguei “lá”! Roberto, eu tive um orgasmo! Eu cheguei “lá”!
Ao fundo, som de passarinhos cantando, fogos, “Aleluia”.
ROBERTO
(desapontado) Mas já?
JÚLIA
Não é uma maravilha? Eu tive um orgasmo! Eu cheguei “lá”!
Roberto, cabisbaixo, se dirige ao banheiro.
JÚLIA
(preocupada) O que aconteceu?
ROBERTO
Já que você chegou “lá” e eu ainda estou aqui, vou ao banheiro pedir uma carona. (faz o gesto de pedir carona com uma alusão a masturbação masculina).
Sonorização.
FIM
CORTE__________________________________________________
(PARTE 12)
Matilde começa a dar toques finais em suas arrumações. Matilde sai por um instante em direção ao banheiro. Certo tempo, ela passa pela cena, escondendo a boca e sai em direção oposta. Adamastor tem uma ideia matreira, aproveita a saída de Matilde do banheiro, vai até lá e retorna com a expressão de quem acabou de aprontar alguma. Ele senta, lê o jornal como se nada tivesse acontecido. Matilde passa novamente pela cena, escondendo a boca e retorna ao banheiro. Volta de lá possessa.
MATILDE
(com uma mão esconde a boca, com a outra bate nele) Onde está minha dentadura? Fala!
ADAMASTOR
Não sei do que você está falando!
MATILDE
Mas sabe porque está apanhando!... Aproveitou que eu saí do banheiro por um instante, foi lá e escondeu minha dentadura.
ADAMASTOR
Interna! Agora é caso de internação! Pirou de vez!
MATILDE
Devolve minha dentadura, ou vou gritar que você é mijão.
ADAMASTOR
Golpe baixo! Golpe baixo!
MATILDE
Devolve minha dentadura! Devolve!
ADAMASTOR
Pois eu não vou devolver dentadura nenhuma, fique a senhora sabendo! Conheço muito bem a sua vaidade. Sem dente, você não vai a lugar nenhum. Banguela, você é incapaz de botar os pés na calçada sequer...
MATILDE
Eu vou gritar que você é mijão!
ADAMASTOR
Eu te poupo esse trabalho. (indo até a janela e gritando) Eu sou mijão! Eu sou mijão!
MATILDE
Quer fazer o favor de devolver minha dentadura!
ADAMASTOR
Não devolvo! Daqui você não sai!
Ela começa a correr atrás dele. Pega-pega.
ADAMASTOR
(drama) A minha pressão... Tá subindo... Tá subindo!
MATILDE
Tenha calma, ela vai descer... Só que pra sempre! Tu vais morrer agora, assim que puser as mãos em você! (pega–pega.)
ADAMASTOR
Cuidado com essa corrida! Tome cuidado com essa corrida...
MATILDE
Meu coração resiste. Resistiu há cinquenta anos com você.
ADAMASTOR
Seu coração resiste, mas seus pés não...
MATILDE
(leva um escorregão.) Aiiii..!!!!!
ADAMASTOR
(sem graça) Eu te falei pra tomar cuidado com a corrida. Eu mijei o chão todo.
Matilde vai levantando com dificuldade, Adamastor ajuda.
ADAMASTOR
Foi sem querer, você sabe que não posso ficar nervoso que aí...
MATILDE
Tá bom, eu sei. Eu sei.
ADAMASTOR
Sua dentadura está em cima da caixa de descarga.
Ela vai ao banheiro, volta com os dentes e se ajeitam no sofá meio que sem graça.
ADAMASTOR
Você está bem? Doeu?
MATILDE
Dolorido está meu coração.
ADAMASTOR
Quer que eu pegue o remédio então?
MATILDE
Dolorido de mágoa. Da sua falta de amor por mim, da sua falta de consideração.
ADAMASTOR
Tudo isso por causa das coxas da faxineira?
MATILDE
Pela sua falta de respeito comigo.
ADAMASTOR
Faxineiras existem aos montes. Contratamos uma de pernas finas então. O que eu não posso é perder você. Estamos casados há cinquenta anos. Respiramos o mesmo ar esse tempo todo. Se você for embora, leva meu oxigênio junto também, entende?
MATILDE
(quase infantil) Você me magoou!
ADAMASTOR
(quase infantil) Você me magoou também!
Pausa.
AMBOS
É que você me deixa nervoso (a)!
Ambos riem. Ele começa ajudá-la a retirar as coisas de dentro da bolsa.
ADAMASTOR
Ei! Você ia levando o álbum de fotografias!
MATILDE
Ia sim! Qual o problema?
ADAMASTOR
Mas tem eu aqui também!
MATILDE
(dissimulada) Eu nem tinha percebido...
ADAMASTOR
Ei! Olha eu aqui! Como eu era bonito! A cara do Clark Gable!
MATILDE
Pois é, e toda aquela formosura... O vento levou!
ADAMASTOR
(vendo outra foto) Essa foi no natal de 1974.
MATILDE
Veja o bouquet de flores que você tinha me dado. Nessa época você ainda me dava flores.
ADAMASTOR
Não te dou flores hoje em dia, porque elas me fazem espirrar. Minha rinite, você sabe...
MATILDE
As flores hoje em dia me fazem espirrar também... (riem)
ADAMASTOR
(entusiasmado) Veja essa outra foto aqui!
MATILDE
Foi no show do Frank Sinatra, lá no Maracanã... 1980... Aqui você já estava começando a engordar.
ADAMASTOR
Você, elegante como sempre.
MATILDE
(pegando na mão dele) Obrigada! Nessa época sua voz não ficava nada a desejar em relação a do Frank Sinatra.
Ele arrisca cantar um pedaço de “My way”.
MATILDE
Decidimos então, que essa seria a nossa música.
MATILDE
Nesse dia, Frank Sinatra cantou para um público de 140 mil pessoas...
ADAMASTOR
Mas parecia que ele cantava especialmente só para nós dois.
A música “My way”, na voz de Frank Sinatra, vem surgindo gradativamente.
MATILDE
(sonhando) Como agora?
ADAMASTOR
(embarcando no sonho) Como exatamente agora...
Se olham com ternura e se abraçam... Fecham os olhos. A música cresce. A luz fecha neles.
FIM
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